Grandes conquistas na luta contra o câncer se devem aos tratamentos com nanopartículas, diz Avi Schroeder, professor do Instituto de Tecnologia de Israel
Leandro Steiw
Os tratamentos de saúde baseados em nanopartículas, elementos com espessura de um milionésimo de milímetro, permitem alimentar novas esperanças no combate de doenças humanas. Existem cerca de 80 remédios com o uso da nanotecnologia aprovados pela FDA, a agência reguladora de alimentos e medicamentos nos Estados Unidos, informou o engenheiro químico Avi Schroeder, professor do Instituto de Tecnologia de Israel. Ele foi o convidado da sessão “Translating nanotechnology from the academic lab to the patient”, durante o Seminário Internacional de Inovação, organizado pelo Hub de Inovação Paulo Cunha do Insper.
Uma das especialidades de Schroeder é a pesquisa de tratamentos personalizados com produtos nanotecnológicos para pacientes de câncer. Ele disse que alguns dos produtos sintéticos existentes no mercado já apresentam resultados significativos, como o Doxil, o primeiro do gênero aprovado pela FDA, em 1995, e usado contra o câncer de mama. A eficácia estaria relacionada com a injeção das nanopartículas diretamente na região do tumor.
Embora confie no potencial da nanotecnologia, Schroeder é cauteloso na defesa da cura total. Ele ressaltou que câncer é um grupo de cerca de 200 doenças, que podem ser combatidas em diferentes fases de evolução. “Algumas dessas doenças recebem muita atenção e também são mais fáceis de tratar, enquanto em outras áreas pode-se levar mais tempo”, disse. “Mas, nos últimos anos, grandes conquistas no tratamento do câncer se devem muito à nanotecnologia.”
Na oncologia, os pacientes são submetidos a tratamentos prolongados, acompanhados por doses elevadas de drogas reconhecidas pela toxicidade ou terapias de efeitos colaterais pesados. Todo esse processo envolve muito dinheiro, principalmente porque não há uma única receita para a quantidade de manifestações patológicas do câncer. Esse permanece um dos desafios dos medicamentos personalizados. “Uma das desvantagens é que o custo de um tratamento personalizado pressiona o sistema de saúde”, afirmou José Marcelo de Oliveira, médico radiologista e presidente do Hospital Alemão Oswaldo Cruz, de São Paulo.
Um dos debatedores convidados da sessão, Oliveira apontou o dilema da adoção, neste momento, dos produtos da nanotecnologia. “Quando se pensa na perspectiva da população, qual seria a melhor aplicação de 1 milhão de dólares?”, questionou. “Tratar um paciente ou tratar tantos pacientes quanto pudermos? Do ponto de vista individual, qualquer um pode decidir o que fazer se tiver esse dinheiro para gastar. Isso é algo a equilibrar quando se administra um sistema de saúde.”
Os avanços não se limitam à oncologia. Schroeder também falou sobre o uso de nanolubrificantes injetados diretamente nas cartilagens de joelhos e mandíbulas, uma técnica desenvolvida no instituto que chefia em Israel. O futuro da manipulação nanométrica aponta ainda para o tratamento da osteoartrite com materiais lipídicos biomiméticos e da produção de proteínas terapêuticas dentro do corpo humano por meio de células sintéticas. Além disso, trabalha-se com aplicações de inteligência artificial em códigos genéticos.
Dirigindo-se aos interessados em empreender, Schroeder listou quatro elementos que, em sua opinião, são fundamentais para um projeto de pesquisa se tornar um negócio de futuro. Primeiramente, deve-se ter uma grande ideia, que reconheça uma necessidade crítica da sociedade e que possa ser atendida por meio de um produto de plataforma. Depois, um artigo acadêmico inspirador, que estabeleça a ciência subjacente ao conceito de produto. Na sequência, uma patente de bloqueio, impedindo a entrada de futuros concorrentes. E, por fim, estudos e resultados que demonstrem a eficácia da pesquisa.