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Com a China perdendo fôlego, como fica o agro brasileiro?

A desaceleração da economia chinesa é um fator de preocupação para o setor, que deve enfrentar um cenário desafiador em 2023

A desaceleração da economia chinesa é um fator de preocupação para o setor, que deve enfrentar um cenário desafiador em 2023

 

Leandro Gilio, pesquisador sênior do Insper Agro Global

 

Após décadas de crescimento acelerado, a economia chinesa vem dando sinais de que está perdendo força. Desde 2010, verifica-se uma redução gradual de sua taxa de crescimento do produto interno bruto (PIB), que deve fechar 2022 abaixo de 3%.

Essa taxa de elevação pode parecer até razoável quando comparada às de outros países do mundo, mas está muito aquém da realidade chinesa — de 1990 a 2010, o país asiático cresceu, em média, cerca de 10% ao ano.

 

 

O arrefecimento da economia do gigante asiático vem preocupando mercados, em especial o Brasil e o agronegócio brasileiro, tendo em vista que a China é o destino de mais de 35% das exportações do setor, em valor.

E as razões para esse contexto são diversas. Primeiramente, o governo central chinês segue com a política de “Covid Zero”, com quarentenas e o objetivo impossível de erradicar o coronavírus. Essa estratégia é distinta da adotada ao redor do mundo por ser excessivamente restritiva, e sua continuidade tem tido um impacto significativo na economia do país, anulando, inclusive, recentes medidas de estímulo econômico realizadas pelo governo chinês. Os recentes protestos que se espalharam em diversas cidades do país em decorrência da política de Covid Zero mostram um crescente nível de insatisfação dos chineses em relação ao governo de Xi Jinping, em um movimento de rua que não se via na China desde os protestos ocorridos em 1989 na praça da Paz Celestial em Pequim.

A crise imobiliária local também é um importante fator de preocupação. Esse setor, antes indutor do crescimento chinês, vive hoje um período de crise com a redução da demanda, fato que veio à tona ao mundo com grande endividamento da Evergrande, segunda maior empresa imobiliária do país. Um agravamento dessa crise poderia rapidamente contaminar outros mercados, à semelhança do que ocorreu nos Estados Unidos e no mundo em 2008.

Questões regulatórias e controles de empresas, implementados pela gestão de Xi Jinping, também vêm afastando alguns investimentos internacionais e dando sinais ao mundo de que China pode não estar mais tão aberta ao mercado financeiro internacional.

Cabe citar também as preocupações com questões climáticas, dado que secas severas e ondas de calor recentes prejudicaram a produção agropecuária e pressionaram os sistemas energéticos, justamente em um momento de custos de alimentação e energia elevados globalmente.

A combinação desses elementos tem criado obstáculos importantes ao crescimento chinês e representa um aspecto de risco importante ao agro brasileiro: a China é nosso maior mercado, sendo o principal destino para uma série de produtos, como soja, carnes, celulose, açúcar e algodão.

A alta concentração dos embarques brasileiros à China trouxe um forte impulso de crescimento nas últimas décadas, mas a alta dependência em relação a esse mercado pode vir a se configurar em um risco ao setor para próximos anos, caso ocorra qualquer movimento de inflexão da demanda chinesa.

Importante ponderar que a ameaça de uma redução da demanda por produtos alimentares em tempos de redução de atividade econômica é menor, uma vez que esse tipo de produto é considerado essencial.

No entanto, esse contexto não pode ser desprezado em decisões estratégicas, tendo em vista o cenário econômico desafiador que se desenha para o próximo ano (leia mais aqui) e as tensões geopolíticas globais, que podem trazer novos elementos de conturbação aos mercados — como por exemplo a frágil relação entre Taiwan e China. Evidencia-se, portanto, o desafio estratégico para o agro brasileiro em diversificar mercados e destinos para seus produtos.

 

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