O grupo de pesquisadores do Insper já fez várias contribuições importantes na agenda racial, diz o economista Michael França
Leandro Steiw
Funcionando há pouco menos de dois anos, o Núcleo de Estudos Raciais, ligado ao Centro de Gestão e Políticas Públicas do Insper, já é uma das referências para o debate empírico das questões raciais no Brasil. Uma parcela importante desse sucesso é garantida pelos financiamentos obtidos em instituições nacionais e internacionais, como o mais recente prêmio da Open Society Foundations e o suporte aprovado pelo Instituto Ibirapitanga.
Os recursos da Open Society serão aplicados, nos próximos dois anos, em pesquisas sobre disparidades sociais relacionadas à educação, renda e violência. O prêmio dará prosseguimento a uma parceria com a fundação filantrópica que se iniciou em 2021, quando um primeiro subsídio custeou os estudos Desigualdade Racial nas Eleições Brasileiras e Desigualdade Racial de Gênero nas Eleições Municipais no Brasil.
A contratação de pesquisadoras e pesquisadores para desenvolver as três temáticas envolve o desafio, entre tantos outros, de continuar aumentando a diversidade dentro da própria instituição. “O Insper está tomando algumas medidas para tratar a diversidade e uma delas é a criação do núcleo, que já fez várias contribuições importantes na agenda racial”, diz o economista Michael França, coordenador do núcleo.
Entre os resultados da atuação do núcleo estão o Índice Folha de Equilíbrio Racial, em conjunto com o jornal Folha de S.Paulo, e o Índice ESG de Equidade Racial, com a Associação Pacto de Promoção da Equidade Racial. Foram publicados dois relatórios sobre desigualdade de gênero e raça no setor de publicidade e um terceiro sobre a influência da raça no acesso às UTIs de hospitais durante os primeiros meses da pandemia da covid-19. Em breve, será divulgado estudo referente às empresas listadas na bolsa de valores.
França tem diversas experiências bem-sucedidas na captação de recursos para pesquisas. Antes de coordenar o núcleo, fez trabalhos para o Ministério Público do Trabalho e para a organização sem fins lucrativos Parceiros da Educação. “No passado, eu atendia mais ao interesse de pesquisa dos financiadores e conciliava com contribuições para a pesquisa acadêmica”, afirma. “Nos estudos mais recentes, tivemos total liberdade para encaminhar a pesquisa da forma que achamos melhor.”
Prosseguindo na busca de recursos e explorando o potencial do grupo de estudos na questão racial, existem outras propostas sendo analisadas, que incluem um estudo financiado pela Fapesp e outra focada em formação de novos pesquisadores, por meio de minicursos e workshops. “A intenção é fazer uma rede de pesquisadores na área e, talvez, trazer pessoas que são referência fora do país para dar palestras”, diz França.
O progressivo avanço na direção de discussões cada vez mais qualificadas, com respaldo em rigorosas análises dos dados e evidências, faz parte da missão do núcleo. “Estamos procurando gerar informações e conhecimentos a partir de dados, que foi o primeiro passo que o núcleo deu para procurar contribuir com o debate racial brasileiro”, afirma. “Mas acredito que podemos ser mais propositivos no sentido de pensar iniciativas de políticas públicas. Por exemplo, existem muitas experiências e intervenções feitas no exterior que poderiam ser testadas aqui. Também podemos pensar soluções próprias que tenham impacto nas questões raciais.”
Para França, uma possibilidade interessante é investigar as relações entre as disparidades. “A partir do momento que mapeamos melhor essas desigualdades raciais internas, começamos a identificar lugares que estão avançando na pauta e podemos procurar tentar entender quais as práticas locais que podem estar fazendo a diferença”, diz.
Uma cidade que tenha uma lacuna educacional muito baixa entre pessoas brancas e negras em relação à média pode indicar algum padrão positivo. “O que há nesses lugares que está influenciando nesse efeito? Será que é uma prática pedagógica, alguma política antirracista, algo relacionado ao comportamento dos pais? Os dados podem ajudar a pensar em ideias mais propositivas. Como sociedade, precisamos procurar construir soluções cada vez mais eficientes para gerar melhores oportunidades de desenvolvimento para todo o conjunto da população,” afirma França.