Renata Vilenky, alumna que fez um MBA no Insper com a carreira já sólida, fala sobre a importância das soft skills na sua trajetória profissional em tecnologia, finanças e educação
Renata Vilenky fez o MBA Executivo no Insper de 2006 a 2008, quando já tinha uma trajetória profissional consolidada. Formada em tecnologia com especialização em robótica, ela acumula na carreira mais de 30 anos de trabalho em empresas de diversos segmentos, com culturas e portes diferentes, tanto no Brasil quanto no exterior. Mesmo com toda essa experiência, sua passagem pelo Insper foi fundamental para a criação de redes de contatos pessoais e profissionais, além de proporcionar o desenvolvimento da sua percepção de negócios e como eles podem ser transformados por meio da tecnologia.
Atualmente, Renata é sócia de uma fintech chamada Kikkin, que funciona como um marketplace de serviços financeiros, e de uma healthtec chamada Prospera Saúde que financia e entrega a jornada nas pontas do paciente e do profissional de saúde. Além disso, atua como conselheira de startups, professora de negócios e é colunista do portal Escolas do Futuro. Conversamos com ela sobre a importância das soft skills, as habilidades socioemocionais, em seu desenvolvimento profissional, especialmente no setor da educação, que hoje é o mais forte entre as suas frentes de atuação. Confira a seguir a conversa com Renata.
O que você entende por soft skills e qual a diferença que fazem no desenvolvimento de carreiras de modo geral?
Soft skills para mim são o resgate do ser humano: saber trabalhar os cinco sentidos que temos em qualquer ambiente. O mundo complexo em que vivemos exige que todos os dias acordemos abertos a novas experiências e vivências, sabendo que o certo e errado que reconhecemos estão baseados em nossos valores, vieses e limitações, portanto podem ser um norte para nossa conduta, mas não a palavra final para conviver com outras pessoas. Sou muito pragmática e aprender a lidar com a diversidade tem sido meu grande desafio e minha meta de evolução. Em minha carreira trabalhei com antissemitas sendo judia e, especialmente na área de tecnologia, com machistas sendo mulher, e nada disso foi um impeditivo para eu entregar meus projetos e aprender novos negócios. Inclusive, isso me ajudou a desenvolver a audição e a comunicação para falar a língua que essas pessoas entendiam, para que trabalhassem comigo e não contra mim.
E particularmente no segmento da educação, qual a importância dessas habilidades?
Na educação acredito ser fundamental a prática da empatia porque temos desigualdades de toda natureza – social, tecnológica, econômica, cultural, religiosa – e se ficarmos discutindo os certos e errados de cada um não chegaremos a lugar algum. Não é uma disputa para demonstração de poder, é um processo de conciliação para buscar a melhor solução para levar uma escola, um bairro, uma cidade ou um país a outro patamar de desenvolvimento dos cidadãos. Portanto escuta ativa, negociação, pensamento sistêmico, comunicação não violenta, curiosidade, inovação, experimentação, pensamento resolutivo e respeito com as diferenças são os pilares da construção do que chamamos atualmente de educação 4.0.
Como você acha que desenvolveu suas soft skills?
Desenvolvi minhas soft skills porque tive muito incentivo em casa para errar, aprender e me responsabilizar pelos meus erros. Na vida profissional, também tive gestores que constantemente me davam feedbacks honestos, me fazendo compreender que não adiantava ser uma excelente técnica e resolver tudo, se quando precisassem me colocar em equipe eu “morderia” as pessoas. Por aí, é possível imaginar como eu tenho o gênio forte. No começo, pela minha imaturidade eu ficava bem brava – já que comecei a trabalhar, por escolha própria, aos 13 anos. Eu queria um mundo “certo” pela minha ótica, mas com o passar do tempo e encontrando obstáculos no trabalho que me obrigavam a repensar minhas atitudes, fui entendendo que sempre existe um ponto de equilíbrio e que nem sempre a melhor solução possível no momento será do “meu jeito”.
Quais ambientes e desafios foram fundamentais para o seu desenvolvimento?
Confesso que não foi fácil, principalmente em Bancos de Investimento, que são ambientes exigentes e competitivos. Mas o mercado financeiro era um segmento que eu amava e queria muito vivenciar, então aceitei as necessidades de mudança para ter um ganho maior: aprender um negócio pelo qual sempre fui apaixonada. Inclusive hoje sou sócia de uma fintech, na qual todos os sócios são bastante diferentes e trabalhamos bem porque temos a mesma premissa: gerir o negócio com respeito e crescer de forma sustentável e humanizada. Ninguém tem razão, somos um colegiado.
Quais soft skills considera mais importantes em cada fase da carreira?
Incrivelmente, a principal soft skill em qualquer uma das áreas por que passei é o gosto genuíno por gente. E falo isso porque quando entendemos a dimensão dessa característica, percebemos que ela interpretada literalmente nos ajudará a ler pessoas, entender contextos, aprender fazendo, ter paciência para falar ou para calar e principalmente ter a capacidade de se ouvir, ouvir o próximo e buscar soluções colaborativas com a responsabilidade compartilhada pelo acerto ou pelo erro, sabendo que não existe um caminho único para construir relações e negócios saudáveis. Portanto, compreenderemos que o conceito de aprendizado contínuo não engloba apenas temas de natureza profissional, mas de autoconhecimento, para evolução de quem somos e de como convivemos com todos os chapéus que usamos: trabalho, escola, religião, família, amigos e demais contextos.
Qual a importância do Insper no desenvolvimento das suas soft skills?
O Insper fez parte de um momento importante da minha vida. Havia escolhido a escola porque acreditava que queria seguir uma carreira dentro de um grande banco onde trabalhava e ao final do curso entendi que a decisão estava errada, e esse modelo de trabalho me deixava infeliz. Decidi continuar empreendendo e fazendo consultorias, como já havia atuado anteriormente. A convivência com pessoas diferentes, muitas conversas e trocas de experiência, no Insper, ajudaram a me conhecer muito melhor e decidir o rumo que tomei em minha vida. E um aprendizado que tive no Insper e mantenho até hoje é o de conhecer pessoas diferentes recorrentemente, com o simples objetivo de ter uma conversa com um olhar diferente do meu. Isso me ajuda a sempre avaliar meus vieses e fazer novos amigos.
Se você pudesse estabelecer uma proporção de contribuição entre soft e hard skills na sua carreira, qual seria?
As hardskills foram 100% responsáveis pela minha entrada no mercado de trabalho, porém minhas soft skills são 70% responsáveis pela minha permanência nele. Hoje, os 30% de hardskills que uso estão relacionados às finanças, à análise e à avaliação de empresas, ou às questões de tecnologia, ligadas especialmente à arquitetura de sistemas e negócios e, eventualmente, com contribuições para soluções de validação de qualidade de códigos de software.