Com participação dos pesquisadores do Insper Laura Muller Machado e Ricardo Paes de Barros, livro apresenta dados que analisam as perdas sociais com os altos índices brasileiros de evasão escolar
O acesso, a permanência e a conclusão da educação básica de qualidade continuam sendo grandes desafios no Brasil. Motivados por esse cenário, o Insper e a Fundação Roberto Marinho se uniram para produzir um estudo a respeito dos impactos da evasão escolar na sociedade brasileira.
Laura Muller Machado e Ricardo Paes de Barros, professores do Insper, em parceria com as pesquisadoras Grazielly Rocha e Danielle Zanon, publicam agora os resultados desse estudo no livro Consequências da Violação do Direito à Educação, que apresenta o custo social da falta de educação básica para a juventude e para o país.
A obra faz uma análise a partir de dados extraídos de diferentes fontes que mostram os efeitos da evasão escolar na empregabilidade, na produtividade da sociedade, na qualidade de vida e na violência social. Com essa perspectiva, os pesquisadores buscam oferecer aos formuladores de políticas públicas e à sociedade brasileira, de modo geral, evidências de quanto os jovens e a própria sociedade são afetados por esse problema social.
Clique aqui para baixar a versão em PDF do livro Consequências da Violação do Direito à Educação
Em julho de 2020, o Canal Futura sediou um debate transmitido online sobre o estudo realizado, com a participação de Rodrigo Maia, então presidente da Câmara dos Deputados, Marcos Lisboa, presidente do Insper, Wilson Risolia, secretário geral da Fundação Roberto Marinho, e Ricardo Paes de Barros.
Assista ao vídeo do evento aqui:
Confira entrevista com Laura Muller Machado sobre a publicação do livro:
Como foi o processo de escrever esse livro?
No final de 2019, o presidente da Fundação Roberto Marinho pediu que eu e o Ricardo Paes de Barros fizéssemos um estudo sobre quais as perdas para o país com a enorme taxa de evasão escolar que temos. Queríamos saber o que isso gera de dano tanto para os indivíduos quanto para o país. Buscamos apontar qual o custo desse problema, para expor ao mundo o que estamos deixando de ganhar com tantos jovens não concluindo o ensino médio. O livro é a conclusão dessa proposta.
Como fizeram a coleta de dados para embasar a análise?
Nós fomos atrás de mapear quais as principais consequências da não conclusão do ensino médio. Descobrimos na literatura internacional que as maiores perdas são salariais, com esses jovens recebendo menos ao ingressar no mercado de trabalho. Também há perda em produtividade, ou seja, esse trabalhador que não concluiu o ensino médio gera um ambiente de trabalho menos produtivo. O jovem não perde apenas individualmente, mas a sociedade também acaba perdendo.
Além disso, há perdas na qualidade de vida e há uma relação disso com o aumento da violência. Mapeamos essas, que são consideradas as perdas mais graves de acordo com a literatura, e fomos atrás de estimativas brasileiras sobre o custo de cada uma delas.
Quais foram as conclusões sobre as perdas a que chegaram?
Chegamos à conclusão que deixamos de ganhar 395 mil reais por jovem evadido, enquanto para formar cada um desses jovens o custo é de cerca de 90 mil reais. Para nós, não faz nenhum sentido permitir que essa perda aconteça. Existe uma discussão sobre a efetividade de medidas para reduzir a evasão escolar, já que são aproximadamente 560 mil jovens seguindo esse caminho por ano, e talvez fosse difícil fazer com que eles concluam o ensino médio. Mas nosso estudo mostra que a escolha de não tomar essas medidas não vale a pena em nenhum sentido.
O livro fala sobre o direito à educação, garantido pela Constituição. Como está a aplicação desse direito no Brasil?
Nós estamos violando esse direito para 16% dos jovens e nesse livro provamos que isso acaba gerando uma perda gigantesca. São grandes os benefícios gerados se todos concluírem o ensino básico. A violação gera uma perda impagável, de quatro vezes o custo de fazer o jovem se formar, e mesmo assim o direito continua sendo desrespeitado.
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