Realizado pela Amazon Web Services com o apoio do Insper, o evento virtual DigiFinance reuniu especialistas para discutir inovações que estão mudando o setor no Brasil
Tiago Cordeiro
“O futuro já chegou. Só não está uniformemente distribuído.” O setor financeiro brasileiro experimenta neste momento a frase do escritor William Gibson, que cunhou o termo “ciberespaço” e é o autor do livro Neuromancer, de 1984. Estimulados por uma onda de inovações tecnológicas, novos competidores surgem no mercado financeiro, com novas estratégias digitais. Uma série de novidades avança no setor, incluindo o Pix, o Open Banking, o Open Insurance, o Open Finance e moedas digitais, enquanto os reguladores brasileiros atuam não só para viabilizar, como também para estimular o desenvolvimento de projetos de inovações financeiras digitais.
Para oferecer um panorama do novo setor financeiro, a Amazon Web Services (AWS) — a plataforma de serviços de computação em nuvem da americana Amazon — realizou, em parceria com o Insper, o evento virtual DigiFinance Brasil, nos dias 23 e 24 de novembro. O evento faz parte das celebrações dos dez anos de chegada da AWS ao Brasil — a unidade surgiu em março de 2006, nos Estados Unidos.
Voltado para executivos e empreendedores do setor financeiro e de outros segmentos, o webinar reuniu 17 especialistas em painéis e palestras. “A lógica da transformação digital tem um impacto muito grande no mercado financeiro”, disse Marcelo Nakagawa, professor do Insper, ao abrir o evento.
A velocidade das mudanças no setor financeiro foi um dos aspectos discutidos no primeiro dia do evento. “A tecnologia não é mais estratégica, ela é parte do negócio”, afirmou, durante o painel Transformações Digitais Financeiras nos Dias Atuais, Hélio Cordeiro Mariano, diretor de tecnologia da Central Ailos, que integra várias cooperativas de crédito. “Quanto mais tempo as empresas demorarem para entender esse fato, mais riscos elas correm. Por outro lado, as instituições financeiras que compreendem essa realidade saem na frente.”
Para Daniela Binatti, cofundadora e diretora de tecnologia da fintech Pismo, “o maior desafio é acelerar a inovação e entregar soluções de ponta, garantindo compliance e integridade”. Por sua vez, Alexandre Bastos Borges, head de tecnologia da Midway, empresa financeira do Grupo Guararapes, lembrou que a adoção dos novos serviços ainda é desigual. “Existem milhares de clientes que fazem questão de ir à loja e receber atendimento presencial. Para eles, o desafio é deixar claro que a digitalização não surgiu para afastar o cliente, mas para prover comodidade”, disse.
A moderadora Tatiana Orofino, gerente de desenvolvimento de negócios da AWS Brasil, falou sobre o Open Banking, que, em sua avaliação, “vai mudar a maneira como nós, consumidores finais, interagimos com as instituições financeiras”. O Open Banking começou a ser implantado no Brasil em fevereiro deste ano e vai possibilitar que clientes de produtos e serviços financeiros autorizem o compartilhamento de suas informações entre diferentes instituições autorizadas pelo Banco Central. A expectativa é que esse compartilhamento de dados leve ao aumento da concorrência e reduza as taxas cobradas dos clientes.
Para encerrar a programação do primeiro dia, Leandro Bennaton, líder da indústria de serviços financeiros da AWS na América Latina, conduziu o painel Empoderando a Transformação Digital. Ele abordou a importância de valorizar a privacidade e a confidencialidade dos dados, com base em ferramentas de segurança robustas. “Nossa infraestrutura é monitorada 24 horas por dia, sete dias por semana. A confiabilidade e a proteção dos dados são prioritárias para a AWS”, afirmou.
Se a programação do dia 22 de novembro tratou do presente do setor financeiro, o dia 23 foi dedicado a desenhar previsões para o futuro. Começando pelo papel dos reguladores na construção do novo sistema financeiro, tema do painel Regulação e a Inovação no Setor Financeiro. João Manoel de Mello, diretor de Organização do Sistema Financeiro e Resolução do Banco Central, interagiu com Eduardo Fraga, diretor da Superintendência de Seguros Privados (Susep), e Daniel Maeda Bernardo, superintendente de Supervisão de Investidores Institucionais da Comissão de Valores Mobiliários (CVM).
A moderadora Ligia Lopes, gerente de Políticas Públicas para Setor Financeiro da AWS, lembrou: “Os reguladores têm não somente participado, como também vêm sendo importantes agentes do desenvolvimento do novo sistema financeiro”. Para Mello, a geração atual de consumidores exige instantaneidade em qualquer serviço. “O setor vai priorizar a busca por serviços bons, eficientes e baratos”, disse. Fraga reforçou: “Atuamos no sentido de prover a maior gama de oferta, com produtos mais personalizados e menores preços”. E Bernardo destacou: “Existe um outro tipo de inovação, que chama um pouco menos atenção porque trabalha mais nos bastidores, nas bases, e reduz o custo e aumenta a transparência”.
Na sequência, um diálogo moderado por Ulysses Pacheco, gerente de contas da AWS Brasil, abriu um debate sobre as possibilidades futuras. “O futuro é a digitalização e a desmaterialização do dinheiro, que, aliás, pode se diferenciar em moedas proprietárias variadas, para diferentes utilidades”, disse Rodrigoh Henriques, diretor de Inovação da Federação Nacional de Associações dos Servidores do Banco Central (Fenasbac).
“Veremos uma aceleração da tendência atual, em que empresas de todos os setores, de varejistas a companhias de tecnologia, desenvolvem soluções financeiras que, somadas, constroem uma nova experiência para o consumidor, muito mais fluida”, afirmou Bruno Diniz, cofundador da consultoria Spiralem.
Na sequência dos debates, Samir Nassif de Palma, gestor de arquitetos de soluções da AWS Brasil, assumiu a tela para abordar o tema Ampliando o Uso de Novas Tecnologias. Ele falou sobre um desafio enfrentado pelas organizações: “O dado existe, mas será que ele está disponível no formato que eu preciso?”, indagou, ao lembrar que a governança de dados demanda responsabilidade, acuracidade, qualidade, linhagem, excelência operacional, segurança e privacidade.
Para finalizar a programação, Ricardo Rocha, professor do Insper, afirmou que a inovação no setor financeiro é um caminho sem volta. E vai seguir na direção de revolucionar a experiência dos usuários: “Não podemos avançar na regulação só para atender às necessidades financeiras das empresas. É preciso pensar nas pessoas”, disse Rocha. Ele citou como exemplo o Pix, o meio de pagamento criado pelo Banco Central e que permite a transferência de recursos entre contas de forma instantânea. “O Pix, que está completando um ano, é um exemplo de que o regulador está seguindo nessa direção.”