Simulador Favelas Contra o Coronavírus contribui com o debate sobre a implementação de iniciativas de combate ao Covid-19 nas camadas mais vulneráveis da população
ENTREVISTA| CONTEÚDO SOBRE A PANDEMIA DE COVID-19 |ACESSE A PÁGINA ESPECIAL
Seguindo os esforços conjuntos de toda a Comunidade Insper para mitigar o impacto do vírus Covid-19, estamos publicando uma série de entrevistas com professores, gestores e diretores para abordar ações realizadas pela nossa escola, além de dicas e orientações nas mais diversas áreas para colaborar com a superação dos desafios deste período.
Na entrevista a seguir, Vinícius Picanço, professor do Insper, e Igor Oliveira, consultor de organizações internacionais, explicam o funcionamento do simulador Favelas Contra o Coronavírus:
1) No que consiste o simulador Favelas Contra o Coronavírus?
O simulador é uma ferramenta que permite estimar o potencial efeito de diferentes políticas de resposta ao enfrentamento do coronavírus nas favelas brasileiras. O simulador atual considera dados do Rio de Janeiro, onde o percentual da população vivendo em regiões de adensamento urbano excessivo é mais alto que a média brasileira.
2) Como surgiu a ideia de realizar essa iniciativa?
Foi uma iniciativa voluntária de um grupo de pesquisadores e consultores brasileiros da área de Dinâmica de Sistemas, que enxergou uma oportunidade de criar algo que pudesse contribuir com o debate sobre a implementação de iniciativas de combate ao Covid-19 nas camadas mais vulneráveis da população e, em particular, nas favelas. Em contato com o grupo que se estruturou no Rio de Janeiro, chamado “Favelas Contra o Coronavírus”, foram levantadas necessidades dessa população e os contextos que elas estavam enfrentando. Com base nisso, usamos a tradição da área de Dinâmica de Sistemas de produzir modelos epidemiológicos e de políticas públicas para adaptar à realidade brasileira e, em particular, dessa população.
3) Quais medidas que podem reduzir o impacto do novo coronavírus nas favelas são estudadas nessa iniciativa?
São 7 medidas levantadas junto às favelas e incluídas no simulador: 1) remoção temporária de moradores de favela para espaços públicos; 2) remoção temporária de moradores de favela para hotelaria; 3) subsídio a insumos de higiene; 4) renda básica para compra de produtos de higiene; 5) estruturar emergenciais de saneamento; 6) expansão da disponibilidade de UTI (leitos/dia) e 7) uso de máscaras de proteção facial. Esta última tem um dos maiores efeitos isoladamente (e é potencializada na combinação com demais medidas).
4) Quais são as principais conclusões alcançadas a partir da análise desses dados?
Considerando os cenários mais pessimistas de propagação e evolução da doença, o maior impacto potencial no número de vidas salvas pressupõe uma combinação de políticas e ações que removam 5000/km2 das favelas, desenvolvam estruturais emergenciais de saneamento em todas as favelas do Rio de Janeiro, forneçam produtos de higiene para 50% dos domicílios e construa/disponibilize cerca de 20 UTIs/dia.
5) Na sua visão, o empreendedorismo social pode ajudar a minimizar os efeitos do coronavírus nas favelas?
É hora dos empreendedores sociais voltarem suas atenções para as camadas mais desatendidas e vulneráveis da sociedade, e de maneira absurdamente rápida. As técnicas, métodos e modelos de empreendedorismo social devem ser emergencialmente aplicados para garantir respostas rápidas às populações que mais precisam. Desde desenvolvimento rápido de novos produtos e serviços acessíveis, até a articulação de campanhas filantrópicas para a doação e entrega de produtos de higiene, alimento, desenvolvimento de capacidade hospitalar e remoção de pessoas vulneráveis, todas são ações absolutamente possíveis de serem desenvolvidas em tempo hábil. Cada uma das medidas exploradas no simulador é uma chance de ouro para empreendedoras e empreendedores sociais agirem, e rápido!
Vinícius Picanço Rodrigues é Ph.D. em Engenharia Mecânica pela Technical University of Denmark (DTU). É Professor Assistente no Insper, atuando nas áreas de Sustentabilidade e Operações em programas de Graduação, Pós-graduação (lato e stricto sensu) e Educação Executiva. Atualmente, é também Research Affiliate do Departamento de Engenharia Mecânica da DTU e Conselheiro do The Good Food Institute (GFI).