Sabemos que o verde cuida das pessoas — mas sabemos como cuidar do verde para termos maiores rendimentos ecossistêmicos e impactos na saúde? Por meio do Centro de Estudos das Cidades | Laboratório Arq.Futuro, o Insper realizou, no dia 9 de dezembro, um seminário que fechou as atividades deste ano do projeto Making Green Work for Health, iniciativa que debate a implementação de estratégias para conciliar o fortalecimento de áreas verdes das grandes metrópoles com o apoio à economia local e o foco na qualidade de vida.
Durante o encontro, que contou com a participação de pesquisadores da Escola de Desenho TU Delft, representantes da Prefeitura de São Paulo e de organizações da sociedade civil, o destaque foi o detalhamento de um projeto de pesquisa aplicado à capital paulista que procura estreitar esse vínculo entre o verde, a saúde pública e os cuidados. Paralelamente ao seminário, uma série de visitas técnicas demonstrou como espaços verdes impactam a cidade.
“Queremos colocar na agenda pública a relevância do desenho dos espaços públicos saudáveis no ambiente urbano, estabelecendo critérios de gestão e desenho urbano e sistemas mensuráveis de avaliação que precisam ser seguidos para que esse trabalho seja bem-sucedido”, diz Laura Janka, coordenadora do Núcleo Arquitetura e Cidade do Centro de Estudos das Cidades | Laboratório Arq.Futuro. De acordo com ela, nas realidades brasileiras e da América Latina, as áreas urbanas de maior vulnerabilidade social e ambiental apresentam enormes dificuldades para criar grandes parques. Por isso, o projeto foca em espaços menores. “Essas microintervenções de alto impacto podem ser uma oportunidade de aproximar o verde das pessoas nos territórios de vulnerabilidade da cidade ”, observa Laura.
Um exemplo prático dessas intervenções é o jardim de chuva, um sistema que funciona como reservatório para o excesso de água. Por meio de uma rede subterrânea de drenagem, a água permeia o solo e a vegetação filtra os poluentes, permitindo que uma água mais limpa chegue aos rios e córregos. Há centenas de jardins de chuva em todas as regiões de São Paulo nas suas 32 subprefeituras, com destaque para os bairros centrais.
Os pátios escolares são outro tipo de ambiente que reúne crianças em diferentes momentos do dia para brincar e aprender sobre a natureza. “Uma estratégia nesse sentido é aproximar o verde da primeira infância, derrubando literalmente os muros da escola por meio da substituição do concreto pela natureza. Por isso, no seminário, falamos sobre esse tipo de iniciativa, que integra um programa pedagógico com a natureza como elemento de ensino”, explica Laura. A implementação dessas ações exige integração das secretarias municipais, como as do Verde e da Saúde. Entre outras experiências, o seminário deu luz às políticas existentes e em curso, como em Fortaleza, e aos estudos de pesquisa liderados pela Escola de Medicina da Universidade de São Paulo.
O projeto de pátio escolar verde abordado pelo seminário (escola-parque) prevê o acompanhamento prático pelos pesquisadores. As avaliações poderão subsidiar a replicação dessa proposta em toda a rede de ensino público, começando por bairros periféricos como Heliópolis, que enfrentam baixos índices de desenvolvimento humano e escassez de árvores.
Segundo Laura, a maioria das escolas não prioriza áreas verdes — cerca de 60% delas carecem desses espaços. Além de plantar árvores, a proposta é trocar o concreto do pátio por areia ou terra e instalar brinquedos de madeira, fomentando o contato direto dos alunos com a natureza. “Ao selecionar um universo como as escolas, podemos testar a relação entre a expansão de áreas verdes saudáveis, os indicadores de saúde humana e os modelos de governança e cuidado”, pontua Laura.
Nos últimos anos, as cidades têm utilizado o esverdeamento do espaço público como uma estratégia dominante das suas políticas climáticas, com o plantio de árvores para capturar dióxido de carbono, mitigar ilhas de calor e melhorar habitabilidade e saúde pública. No entanto, o movimento internacional Making Green Work for Health argumenta que, embora essencial, o plantio de árvores não é suficiente para sustentar a saúde humana de forma abrangente. É necessário compreender como o aumento das áreas verdes reflete na saúde pública e na qualidade de vida.
O movimento defende que facilitar e capacitar novas economias de cuidado verde em escala local podem ajudar a combater as desigualdades e garantir uma transição verde justa. “Nossa ideia central nesse seminário e nos encontros anteriores que organizamos é como podemos construir modelos de pesquisa aplicados, em parceria com o setor público e com outras instituições, como a TU Delft. A partir da pesquisação podemos descobrir oportunidade e alternativas às condições urbanas das periferias. Os impactos de pequenas intervenções podem ser mensurados com mais facilidade. O Insper é um lugar propício para aproximar o conhecimento acadêmico da realidade a partir de dados e evidências.”, conclui Laura.