A variação cambial é um dos fatores que influenciam diretamente o desempenho dos fundos de Private Equity (PE) e Venture Capital (VC) brasileiros que captam com investidores internacionais. Isso porque os aportes em dólares norte-americanos são convertidos em reais no momento da aquisição de participação em empresas brasileiras. E depois, quando as participações nas empresas são vendidas, os recebimentos em reais são convertidos em dólares norte-americanos para serem enviados aos investidores.
No entanto, o impacto da variação cambial no longo prazo para investidores internacionais e gestoras de PE e VC com orientação de longo prazo é praticamente nulo. Isso acontece devido à diversificação de safras: ciclos de desvalorização do real são compensados por ciclos de valorização no longo prazo.
É o que aponta o estudo Currency Impact in Brazilian PE/VC deals performance, que analisou 239 investimentos em empresas brasileiras, realizados por fundos de PE e VC entre 1994 e 2014 e que tiveram saída. A média da variação cambial sofrida por todos os investimentos da amostra estudada é 0,4% a.a., ou seja, praticamente nula.
Taxa de performance
A dispersão de variação cambial sofrida pelos investimentos da amostra, entretanto, é grande, tendo impacto forte na taxa de retorno em dólares e, consequentemente, na taxa de performance (carry) gerada por vários investimentos da amostra. A probabilidade de se ter uma desvalorização cambial superior a 10% a.a., se o padrão dos últimos 20 anos se repetir, é de 10,5%.
Vários investimentos que tiveram desempenho muito bom em reais não geraram carry devido à desvalorização cambial. Para ilustrar, o artigo comenta sobre um investimento que teve um retorno de 37% a.a. em reais e apenas 6% a.a. dólar. Como o padrão internacional é que, para se ter direito ao carry o retorno precisa ser superior a 8% a.a., a equipe responsável por esse investimento não recebeu nada pelo desempenho excepcional.
Mas a situação contrária também ocorre. Desempenhos medíocres em reais geram bons desempenhos em dólares, se houve apreciação do real. Outro exemplo citado é um investimento que teve um retorno de 8% a.a. em reais, e 29% em dólares, e por isso, mesmo com um desempenho medíocre, a equipe recebeu taxa de performance.
Perda de talentos
Em geral os fundos tentam minimizar o risco de variação cambial ao não concentrar todos os investimentos num mesmo ano. Porém, essa estratégia se torna inócua se o fundo for afetado por um ciclo de desvalorização.
É o que aconteceu com fundos que fizeram investimentos entre 1995 e 1999, com o dólar valendo em torno de R$ 1, e desinvestiram nos anos seguintes, quando o dólar estava sendo negociado entre R$ 2 e R$ 3,70.
Nestes casos, há risco de perda de talentos pelas gestoras. Vários membros da equipe podem ficar desmotivados ao perceberem que não receberão taxa de performance, levando-os a até mesmo mudar de emprego.
Situações contrárias obviamente também acontecem. Fundos que fizeram o investimento entre 2000 e 2006, com o real desvalorizado frente ao dólar, e desinvestiram nos anos seguintes, quando o dólar voltou a patamares entre R$ 1,40 e R$ 2, receberam carry mesmo em investimentos com desempenho medíocre em reais
Base de dados
A pesquisa utilizou as informações do banco de dados Spectra Insper, desenvolvido por meio de uma parceria entre o Centro de Finanças e a Spectra Investments, gestora brasileira de investimentos PE e VC.
Assinado pela professora Andrea Minardi, o trabalhou analisou o impacto cambial no desempenho de investimentos de PE’s e VC’s ao longo de 20 anos (de 1994 a 2014).
O estudo foi publicado pelo periódico The Journal of Private Equity (Summer 2017, Vol. 20, No. 3: pp. 45–51), voltado para pesquisas aplicadas para a indústria de PE e VC.
Acesse aqui o arquivo completo: Currency impact in Brazilian PE/VC deals performance
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