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Por enquanto, IA gera mais impacto na vida pessoal do que na rotina das empresas

Masterclass do Insper reuniu André Filipe de Moraes Batista, Carolina da Costa e Pedro Burgos para debater o potencial — e as limitações — da inteligência artificial no mundo dos serviços

Masterclass do Insper reuniu André Filipe de Moraes Batista, Carolina da Costa e Pedro Burgos para debater o potencial — e as limitações — da inteligência artificial no mundo dos serviços

 

Tiago Cordeiro

 

“A inteligência artificial proporciona a liberação do potencial humano. Quando se alavanca o uso de IA nas organizações, a pessoa fica livre de tarefas repetitivas e pode pensar de uma maneira cognitiva.” A avaliação do professor André Filipe de Moraes Batista, logo no início da masterclass do Insper “IA e as Transformações no Mundo dos Serviços”, deu o tom do encontro.

Realizado no dia 20 de maio, com mediação de Tadeu da Ponte, coordenador do Processo Seletivo do Insper, o evento debateu o impacto da tecnologia no dia a dia das pessoas e das organizações. Além de Batista, que é também diretor de tecnologia da informação do Insper, participaram Carolina da Costa, chief impact officer da fintech de meios de pagamentos Stone, e Pedro Burgos, coordenador do Programa Avançado em Comunicação e Jornalismo do Insper.

O objetivo da conversa foi discutir o impacto da IA no mundo dos serviços, incluindo educação, saúde, finanças e jornalismo. Batista lembrou do potencial da tecnologia e exemplificou com uma área que ele está habituado a pesquisar. “Muito se falava que, quando se colocasse a IA, o médico voltaria a ser humano novamente. Porque hoje ele é pressionado a preencher prontuários, a conectar os dados ao sistema e não tem tempo de realizar sua principal missão, que é dar atenção ao paciente. Ao liberar o potencial, ele vai voltar a fazer aquilo que sempre quis”, afirmou.

Carolina da Costa e Pedro Burgos concordaram e apontaram outros exemplos de uso concreto da tecnologia. Mas, ao longo do debate, ficou claro que, na prática, esse potencial ainda não vem sendo utilizado plenamente. Ao contrário, a IA tem sido adotada pelas pessoas, individualmente, muito mais rápido do que as corporações conseguem incorporar a ferramenta a suas rotinas.

 

Potencial não explorado

Carolina lembrou que as empresas olham para a IA considerando três grandes pilares: geração de receita, eficiência e risco. “Para falar de como a tecnologia afeta os negócios, começamos pensando nos problemas que cada setor precisa resolver. A saúde, por exemplo, tem um grande problema existencial, que é sustentar um sistema cada vez mais caro, que não se paga, para atender uma população que envelhece de forma bastante avançada”, apontou. “Já no agronegócio existe um elemento fortíssimo de georreferenciamento, estudo do solo, tecnologia de sementes. A dificuldade aqui é o acesso a financiamento, considerando inclusive os riscos climáticos.”

Já Burgos apontou os desafios que a IA apresenta para o setor de educação. “A IA existe há décadas, mas houve uma mudança no uso há um ano e meio, com a ascensão de IA generativa, que permite não apenas detectar padrões, mas também criar conteúdos novos”, observou. “Sabemos há milênios que uma educação individualizada é o melhor caminho. Com a tecnologia, estamos mais próximos de alcançar esse objetivo, porque ela é socrática, permite questionar e construir conhecimento junto com o professor.”

O mesmo vale para o jornalismo, comentou Burgos. “Em vez de o repórter fazer uma entrevista com todos os candidatos a prefeito, definindo os temas sozinho, ele pode colocar o eleitor para conversar com o entrevistado, interagindo com suas respostas. Esse nível de personalização, na comunicação, na educação, na saúde, ainda não está sendo explorado o suficiente.”

 

Novos dilemas

As empresas, de fato, ainda buscam formas de incorporar a IA aos negócios, levando em consideração aspectos de regulação e jurídicos — e até mesmo buscando entender os vieses inseridos na ferramenta, em decorrência da maneira como ela é treinada. “Uma empresa do setor financeiro pode utilizar análise de score automatizada, a partir de poucos dados e uma única selfie. Essa solução já existe. Mas há o risco de a ferramenta se mostrar racista”, apontou Batista.

“O mercado tem uma ambição muito grande em extrair valor da IA, mas vejo pontos de discussão que estão longe de se resolver. Além dos vieses, existe o temor de que a tecnologia substitua empregos. Este é um medo antigo: quando surgiu o termômetro, os médicos não aceitavam utilizá-lo, porque parecia colocar em risco o status deles, a capacidade de avaliar a temperatura colocando a mão no pescoço. O mesmo se diz hoje sobre o professor, que vai atuar como um facilitador, como já acontece no Insper. Na verdade, um profissional só vai ser substituído pela tecnologia se não souber trabalhar com a IA”, afirmou Batista.

A adoção da tecnologia vai trazer novos e complexos dilemas, que vão demandar tempo para a adoção, apontou Carolina da Costa. “A tecnologia está evoluindo muito rápido, mas ainda não se incorpora aos modelos corporativos vigentes. Existe um equilíbrio de mercado, com as margens garantidas, e há uma resistência para se apropriar da tecnologia de uma forma mais mercadológica. Mas não tem saída: uma hora o sistema não vai conseguir mais se manter do jeito que está.”

 

Eficiência sem foco

Por outro lado, como apontou uma pesquisa recente da Microsoft em parceria com o LinkedIn, os profissionais já utilizam a ferramenta para tarefas recorrentes, como escrever e-mails ou automatizar o preenchimento de planilhas. O estudo aponta que 75% dos trabalhadores intelectuais do mundo já estão usando IA no trabalho. No Brasil, essa proporção é ainda mais alta: 83%. “As pessoas usam o ChatGPT mesmo que isso vá contra a política da empresa”, apontou Burgos.

“As organizações se movem mais lentamente do que os indivíduos, isso é normal. Existe uma falta de clareza sobre qual deve ser a estratégia, o que também é normal. Por outro lado, existem dezenas de tarefas que levavam 6 horas para serem completadas, e hoje podem ser realizadas em 30 minutos”, disse o professor.

O risco é a usar a IA para deixar eficientes as coisas erradas, ressaltou o docente. “Uma pessoa pode pensar: ‘Agora consigo usar IA para fazer a ata de todas as minhas 14 reuniões no dia’. Acontece que está errado fazer 14 reuniões por dia. Além disso, quem é que, de fato, vai ler essa ata? Precisamos olhar para a tecnologia de forma estratégica, para melhorar processos.”

Por fim, Batista lembrou que há muito de humano na ferramenta. “Deixar a IA restrita à camada tecnológica é ignorar que o ser humano continua sendo o elemento principal nessa equação. É nossa agenda, nossa jornada, nossa responsabilidade.”

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