Realizar busca
test

Alunos de Ciência da Computação desenvolvem projetos para Heliópolis

Sprint Session de Inovação Social envolveu os estudantes do 3º semestre, que interagiram com os moradores locais em busca de propostas concretas para três problemas da comunidade

Sprint Session de Inovação Social envolveu os estudantes do 3º semestre, que interagiram com os moradores locais em busca de propostas concretas para três problemas da comunidade

 

Tiago Cordeiro

 

Profissionais de Ciência da Computação podem contribuir com projetos sociais relevantes para resolver problemas urgentes de uma comunidade? O Sprint Session de Inovação Social comprova que a resposta é “sim”. Ao longo das últimas três semanas do 3º semestre do curso de graduação do Insper, os estudantes se organizaram em grupos de sete pessoas para realizar uma imersão na comunidade de Heliópolis, a segunda maior favela da América Latina, localizada na zona sudeste de São Paulo — tem cerca de 200 mil moradores e mais de 1,2 milhão de metros quadrados.

A renda familiar média fica pouco acima de metade de um salário-mínimo, segundo dados da Secretaria Municipal de Habitação de São Paulo de 2016, e os problemas ambientais se acumulam à medida que a comunidade cresce em área e número de habitantes — 51% deles têm menos de 25 anos. Por três ocasiões, os alunos do Insper foram ao local para identificar demandas, apontar soluções e ouvir dos moradores se elas teriam potencial de trazer resultados positivos.

 

Atividade de extensão

As sprint sessions são atividades de extensão realizadas ao final de todos os semestres do curso. Fazem parte da proposta pedagógica de desafiar os alunos a conectar o aprendizado com desafios reais. No 3º semestre, pela primeira vez, a sessão foi voltada para Inovação Social.

“O principal objetivo é proporcionar aos alunos de Ciência da Computação, um curso essencialmente técnico, a oportunidade de praticar empatia com pessoas menos privilegiadas e, durante esse processo, entender alguns dos problemas brasileiros”, explica o coordenador do Curso de Ciência da Computação, Fabio de Miranda.

“Um objetivo secundário é aplicar os conhecimentos técnicos em um projeto que não necessariamente vai virar um produto no mercado, mas que tem valor social. O entregável desenvolvido pode ser um protótipo de um sistema ou descobertas de uma análise de dados, por exemplo”, diz o professor.

A escolha de Heliópolis se deu em decorrência de uma parceria já existente entre a União de Núcleos, Associações dos Moradores de Heliópolis e Região (UNAS) e o Laboratório Arq.Futuro de Cidades do Insper. O contato foi intermediado pela professora Paulina Achurra, coordenadora acadêmica do laboratório.

“Existe uma demanda, inclusive da parte dos doadores da instituição, de que é necessário que os alunos tenham uma visão mais abrangente do que é o Brasil. Ciências da Computação é um curso novo, então esta foi a primeira experiência com esta graduação. E foi um sucesso”, comenta Paulina. “É comum faculdades irem a campo. O que não se vê com frequência é elas trazerem contribuições concretas e imediatas para a comunidade.”

 

De Olho na Quebrada

Foi nesse contexto que os estudantes do Insper circularam na comunidade, acompanhados de jovens do Observatório de Olho na Quebrada, um projeto da UNAS que tem como objetivo formar jovens de Heliópolis para serem agentes de pesquisa e transformação do território.

“Os jovens do Observatório gentilmente serviram de guias e anfitriões para os alunos do Insper no território. Essa interação foi muito proveitosa para romper visões pré-concebidas de mundo dos dois lados. Os times trabalharam juntos tanto em imersões no território quanto aqui no Insper”, relata Miranda. “Ao final, todos os grupos exibiram familiaridade nos dois ambientes e desenvolveram empatia para entender os moradores locais e as diferentes realidades.”

Como contrapartida para a UNAS, os jovens envolvidos receberam 20 horas de treinamento Python no Insper, ministrados pelos técnicos Tiago Demay, Lícia Salles, William Lima, Victor Tavais e Daniel Messias, com participação do professor do Insper André Filipe de Moraes Batista.

“Soubemos pelos professores que haveria esta atividade. Ficamos curiosos, imaginando como poderíamos contribuir para uma comunidade”, relata Pedro Antônio Silva, de 19 anos, aluno do curso e participante da iniciativa. “Na primeira visita, conhecemos o local. Na segunda, elaboramos perguntas que apresentamos para as moradoras. Entendemos ali algumas características e sutilezas do projeto. Por fim, retornamos para detalhar nossa proposta. As conversas fora muito produtivas e fluidas. Foi uma experiência única”, diz Pedro.

“Alguns dos moradores nunca tinham interagido com universitários, que incluíam bolsistas do Insper”, relata a professora Paulina. “Ao final da experiência, alguns desses jovens da comunidade tinham expandido seus horizontes e já pensavam, pela primeira vez, em fazer uma faculdade.” Para a instituição, os ganhos também são muitos, avalia ela. “Sabe-se que profissionais que convivem com diversidade produzem soluções mais criativas e apoiadas nas demandas reais. Com ações desse perfil, estamos contribuindo de forma de decisiva para a formação desses alunos, que estarão mais preparados para navegar por outros vieses, por outras culturas.”

 

Sprint Session Inovação Social_Heliópolis (2)
Alunos visitam a favela de Heliópolis, acompanhados de jovens do Observatório de Olho na Quebrada

Três desafios

Os grupos de alunos se organizaram para atender a três demandas específicas de Heliópolis:

  1. Enchentes: Poucos dados das enchentes que ocorreram no território chegam ao poder público. Essa situação faz com que as estatísticas oficiais ignorem a região, que fica de fora das ações de mitigação de enchentes. A solução construída pelos times foi um bot de WhatsApp que permite que as pessoas tirem fotos ou vídeos das enchentes e os submetam. Depois, esses dados podem ser consolidados num relatório que comprova a situação enviado ao governo. “A utilização do WhatsApp é interessante porque praticamente todo morador da região conhece o programa e sabe usá-lo, e pode-se mandar uma mensagem ou vídeo mesmo sem ter crédito no celular. Caso caia a rede de celular, a mensagem fica numa fila para ser enviada depois”, relata Miranda. A solução atende a outra dor: como alertar os moradores de chuvas foras do comum que poderiam causar enchentes? “A solução foi desenvolver um outro bot de WhatsApp, que envia alertas de chuvas fortes para os moradores”, explica o professor.

 

  1. Conexões entre mães e cuidadoras: Mães que precisam trabalhar enfrentam um grande problema por não ter onde deixar suas crianças. As creches públicas são insuficientes e às vezes encerram o atendimento em horários em que as mães ainda estão em trânsito no retorno para casa. No território existem as cuidadoras, que cobram um valor e cuidam das crianças quando as mães não podem. O problema é que as mães só contam com o boca a boca para encontrar cuidadoras. Para atender a essa demanda, os alunos implementaram um aplicativo que coloca em contato mães e cuidadoras, com um sistema de reputação para as profissionais. “Foi importante ouvir as mães, que queriam acessar o sistema de reputação, mas também desejam ter um canal de comunicação direto com as cuidadoras”, relata o aluno Pedro Antônio Silva, que participou do grupo que trabalhou com esse desafio. “Outro ponto para o qual as moradoras nos chamaram a atenção foi o cuidado na seleção dos dados de cada mãe, que poderiam ser acessados pelas demais moradoras.”

 

  1. Transporte de professores de escolas públicas: Professores de escolas públicas que trabalham nas periferias acabam gastando muito tempo para chegar ao trabalho. Muitas vezes, têm aulas em vários lugares na periferia distantes entre si no mesmo dia. Essa situação faz com que haja muita rotatividade de desistência de professores. Este projeto envolveu caracterizar, visualizar e entender os deslocamentos desses professores para compreender por que pedem transferência de uma unidade para outra ou por que desistem.

 

Os estudantes apresentaram os projetos para a UNAS. Na sequência, os professores Fabio de Miranda e Paulina Achurra também farão uma apresentação de resultados para a comunidade.

“Os projetos tiveram resultados muito bons. As soluções desenvolvidas estão no nível de prova de conceito: têm as características principais implementadas e funcionando. Muitos dos aspectos foram validados com usuários reais em Heliópolis”, diz Miranda. “Essas soluções estão disponíveis online com uma licença de código aberto. Falta um ator que tenha interesse em colocar em produção, operar e divulgar. O problema de entender a dor inicial dos usuários, projetar uma solução e implementar foi resolvido. A partir de agora, os projetos podem ser continuados por outros alunos do Insper ou por outros desenvolvedores.”

Este website usa Cookies

Saiba como o Insper trata os seus dados pessoais em nosso Aviso de Privacidade, disponível no Portal da Privacidade.

Aviso de Privacidade

Definições Cookies

Uso de Cookies

Saiba como o Insper trata os seus dados pessoais em nosso Aviso de Privacidade, disponível no Portal da Privacidade.

Aviso de Privacidade