Realizar busca

Olhares múltiplos para os problemas urbanos

Múlti e interdisciplinaridade são princípios do Laboratório Arq.Futuro em busca de soluções efetivas e viáveis para as cidades brasileira, diz a coordenadora acadêmica Paulina Achurra

 

Paulina Achurra

Múlti e interdisciplinaridade são princípios do Laboratório Arq.Futuro em busca de soluções efetivas e viáveis para as cidades brasileira, diz a coordenadora acadêmica Paulina Achurra

 

Leandro Steiw

 

Os problemas das cidades são complexos e precisam de múltiplos olhares e saberes. Por isso, a múlti e a interdisciplinaridade são princípios que norteiam o Laboratório Arq.Futuro de Cidades do Insper. Esse entendimento fica nítido na organização dos 10 núcleos que compõem sua estrutura: Mulheres e Territórios; Urbanismo Social; Cidade e Regulação; Mobilidade Urbana; Saúde Urbana; Arquitetura e Cidade; Economia Urbana e Ciência de Dados; Habitação & Real Estate; Cidades Inteligentes; e População em Situação de Rua. “Temos a representação de uma minicidade dentro do Laboratório”, define Paulina Achurra, coordenadora acadêmica. A criação do primeiro núcleo, Mulheres e Territórios, retrata bem essa orientação. “Ele já começou de maneira pouco usual, com seis lideranças comunitárias, trazendo para dentro do Insper mulheres com longa experiência e atuação na sociedade civil”, recorda Paulina.

Assim, as equipes de pesquisa e ensino dos núcleos são formadas não só por arquitetos e urbanistas como também por engenheiros, administradores, economistas, médicos, advogados, professores e, conforme foi ressaltado pela coordenadora acadêmica, lideranças de territórios vulneráveis., entre outras especialidades. Eles vêm do setor público, do privado, do terceiro setor, da academia em si e de organizações da sociedade civil. O desenho de soluções é fortemente baseado em dados e evidências, muito alinhado ao método Insper.

O Brasil é um país predominantemente urbano — pela classificação adotada mais comumente pelo IBGE, 85% da população vive em áreas urbanas. “O nosso objetivo é impactar as cidades em que vivemos, não só para os 38% da população que moram nos bairros formais, mas também para os demais 62% que vivem nas áreas informais ou que têm lacunas importantes de infraestrutura urbana”, diz Paulina. “As cidades têm inúmeros problemas. Em particular, as cidades brasileiras são lugares com grande desigualdade e são muito segregadas. A pergunta é como solucionar esses problemas, porque até agora não temos conseguido mudar a situação. As desigualdades e a segregação continuam aumentando.”

Nesse contexto de dificuldades, o olhar tradicional do urbanismo não funciona mais. Urbanistas que só constroem infraestrutura, profissionais de saúde que focam apenas na saúde ou economistas que miram somente a economia das cidades, sem interagir uns com os outros, passam longe das respostas certas. É o que tem mostrado a experiência no mundo todo, observa Paulina: “Os problemas são complexos e precisam de múltiplos olhares. Por exemplo, podemos diminuir índices de violência com outras estratégias que não sejam exclusivamente repressão policial, mas para isso precisamos atuar em diferentes frentes, em uma ação coordenada.”

Esse é o princípio basilar do laboratório. “Estudamos as cidades brasileiras com múltiplos olhares, trabalhando em equipes multidisciplinares que trazem diferentes conhecimentos e experiências, para a partir dos dados propor e desenhar soluções”, explica a professora do Insper. “Isso também tem trazido colaborações pouco usuais para dentro da academia, mas que estão dando resultados inesperados e permitindo trabalharmos juntos em iniciativas que envolvem problemas extremamente complexos.”

Paulina cita um projeto de pesquisa em andamento de violência contra a criança, preparado pelo Laboratório em parceria com a Faculdade de Medicina e o Departamento de Geografia da Universidade de São Paulo (USP) e com a Secretaria Municipal da Saúde de São Paulo. Uma abordagem mais comum seria levantar, nos hospitais, os dados sobre crianças que foram vítimas de agressões físicas.

Mas o que números isolados revelam sobre esse tipo de violência? “Essa violência pode estar determinada, por exemplo, pela mobilidade das crianças pela cidade, o que as deixa mais vulneráveis a sofrer violência”, comenta Paulina. “Ou pelo tipo de moradia em que vivem. A violência também está determinada ou pode ser minimizada pela infraestrutura, como as escolas e os serviços, que o Estado provê.”

Segundo Paulina, até se pode fazer um diagnóstico da questão exclusivamente no âmbito da saúde, mas é difícil reduzir os índices de violência sem atuar em novos aspectos da cidade. As estatísticas por si não apontam as respostas para o problema. “É isso que o Laboratório Arq.Futuro faz: incorporar todos os olhares para propor melhores soluções”, afirma.

A participação da sociedade civil é importante nessa visão múlti e interdisciplinar. “São os cidadãos que veem e sofrem os problemas das cidades”, diz Paulina. “E eles têm uma perspectiva muito diferente de quem está no conforto do ar-condicionado desenhando uma política pública. Aprendemos muito com as lideranças da sociedade sobre o que funciona e o que não funciona, sobre maneiras criativas de resolver problemas, sobre onde existem os gaps. E conhecemos problemas que, muitas vezes, nem imaginávamos que existiam.”

Em contrapartida, quem já passou pela administração pública tem a experiência de viabilizar essas ações. “Muitas propostas podem ser excelentes no papel, mas não são viáveis de implementar devido à maneira como o Estado funciona ou porque o ritmo no qual se gera informação não é compatível com o ciclo político”, afirma. “Fazer essa costura de problema real com uma solução viável de implantação está longe de ser trivial. É um enorme desafio, por isso você precisa de todas essas experiências atuando em conjunto.”

 

Criando pontes

Existem várias maneiras de envolver a comunidade Insper nos projetos. “O Laboratório está sempre aberto a novas parcerias”, diz Paulina. “Divulgamos o nosso trabalho com colegas do Insper, às vezes procurando habilidades específicas, às vezes simplesmente difundindo as linhas de pesquisa nas quais trabalhamos para construir uma massa crítica sobre certos temas.”

Outra força vem da colaboração dos estudantes de mestrado e doutorado, dos diversos programas de pós-graduação do Insper, interessados em temas urbanos. Quer sejam orientados por professores da Administração, da Economia ou do Direito, esses pós-graduandos trabalham com pesquisadores do Laboratório, criando pontes e aproximando as diferentes áreas do Insper. Além de cursos executivos e seminários, o Arq.Futuro oferece disciplinas eletivas no Mestrado de Políticas Públicas e promove a inovadora pós-graduação em Urbanismo Social, que aceita alunos sem graduação, mas com experiência de atuação em territórios vulneráveis.

Na graduação, professores e pesquisadores do Laboratório orientam trabalhos de conclusão de curso (TCC), do Projeto Final de Engenharia (PFE) e dos projetos de iniciação científica. Os graduandos são integrados também por meio das entidades estudantis, como o Insper Data, e da coleta de amostras nos pontos de monitoramento das águas do rio Pinheiros em parceria com a ONG SOS Mata Atlântica. “Em projeto piloto, estamos iniciando as conversas para pensar como incorporar o tema de cidades de maneira orgânica e transversal aos currículos da graduação.”

 

Este website usa Cookies

Saiba como o Insper trata os seus dados pessoais em nosso Aviso de Privacidade, disponível no Portal da Privacidade.

Aviso de Privacidade

Definições Cookies

Uso de Cookies

Saiba como o Insper trata os seus dados pessoais em nosso Aviso de Privacidade, disponível no Portal da Privacidade.

Aviso de Privacidade