As propostas de aplicativos de saúde e educação de duas equipes do Insper foram selecionadas no concurso nacional de ideias e soluções para dispositivos móveis
Leandro Steiw
Duas equipes formadas por estudantes de Engenharia do Insper foram selecionadas para a 11ª edição do Campus Mobile, um concurso nacional de ideias e soluções para dispositivos móveis. Para a chamada Etapa 3, os graduandos emplacaram projetos nas categorias Educação e Saúde. Beatriz Rodrigues de Freitas, Ellen Coutinho Lião da Silva e Jéssica Lendaw Silva de Araújo concorrem com o trabalho “Fisy: onde a Física se torna easy”, um aplicativo de ensino de Física para o ensino médio. Pedro de Lucca Sartori Chagas Ferro, Pedro Antônio Braga Dutra e Rafael Costa Auto de Albuquerque, com o “Cuidadoso”, solução voltada para cuidadores de idosos.
Os dois projetos foram desenvolvidos na disciplina de Aplicativos, ministrada pelos professores André Santana e Luiz Fernando Durão, com o apoio dos professores auxiliares Lucas Artacho, Igor Coelho e Maria Gonzales, no 2º semestre das graduações em Engenharia de Computação, Mecânica e Mecatrônica. “A disciplina está pensada para que os alunos possam trabalhar em cima do processo de design e, a partir daí, construir uma solução digital”, explica Durão. “O foco da disciplina não é necessariamente a programação, mas principalmente o processo de entendimento do usuário e, a partir disso, o uso da programação para construir a solução como ferramenta.”
Assim, os estudantes aprendem a identificar o potencial usuário do aplicativo e o problema que ele enfrenta e a fazer testes de interface e usabilidade. “A disciplina tem a premissa de resolver problemas reais”, diz Santana. “Uma das novidades que apresentamos para a turma do 2º semestre de 2022 foi a possibilidade de os estudantes definirem problemas que eles gostariam de resolver. No primeiro dia de aula, eles já têm que escolher quais são as equipes e os temas candidatos que eles queiram trabalhar e, eventualmente, quem seriam os usuários. Em cima dessa escolha, começam a desenvolver toda a rotina da disciplina.”
A participação no Campus Mobile é opcional. Trata-se de uma atividade extra que conta com o apoio e a orientação dos professores, mas que expressa o interesse dos alunos em produzir trabalhos que não estão no escopo da disciplina. A edição deste ano abriu a participação para cursos de mestrado e doutorado, o que deixou a concorrência mais difícil para graduandos e valorizou ainda mais a seleção dos dois grupos da Engenharia. No caso dos concorrentes do Insper, o reforço na preparação vem da sala de aula.
As equipes que se interessam pelo Campus Mobile acabam avançando em conteúdos futuros, como a análise de incerteza tecnológica, medida pelo índice TRL (do inglês, Technology Readiness Levels). É uma escala de 1 a 9 que tenta avaliar quão próxima uma tecnologia está da solução de mercado, ensinada na disciplina Empreendedorismo Tecnológico, do 4º semestre das Engenharias, parte da mesma trilha de Design. Embora essas equipes sejam do 2º semestre, elas acabaram antecipando um pouquinho da experiência do 4º semestre, para poderem se fortalecer na inscrição.
Como a disciplina Codesign de Aplicativos trabalha com as necessidades do usuário e solicita protótipos mais próximos do real, as soluções acabam tendo um TRL mais alto do que o habitual em projetos de graduação. “Em geral, observamos nessas competições que os estudantes entram com uma ideia sem muita compreensão do mercado”, afirma Santana. “Acho que esse foi um diferencial para termos duas equipes do Insper aprovadas para a Etapa 3. Eles já têm uma noção muito mais clara do próprio mercado.”
O público-alvo do aplicativo Fisy são pessoas que estudam ou pretendem começar a estudar o conteúdo programático do ensino médio. Beatriz Freitas, Ellen Coutinho e Jéssica Araújo (o grupo tinha ainda os colegas Yan Romano, Antônio Michelon, Raul Rangel e Carlos Eduardo Yamada) entrevistaram professores e alunos e notaram que a atual rotatividade dos professores de Física em escolas públicas compromete a qualidade da aprendizagem, devido à fragmentação do conteúdo. Lá no início do semestre, porém, a ideia foi motivada por experiências pessoais das três alunas, bolsistas do Insper.
Segundo Beatriz, a equipe tem proximidade com as fragilidades do ensino público, pois algumas das colegas já haviam participado da rede como estudantes. Jéssica conta que só teve a matéria de maneira integral no primeiro ano do ensino médio, por falta de professores na escola. Familiares de Ellen passaram pela experiência de se formar sem ter tido sequer uma aula de Física, com contato exclusivo por apostilas. “Assim, a aprendizagem se torna autônoma e é recheada de desafios”, diz Ellen. “É difícil encontrar conteúdos em plataformas gratuitas que sigam uma ordem e um progresso gradual, e por consequência os exercícios também se tornam grandes desafios.”
A proposta é que o aplicativo sirva para ensinar Física na forma de games, avançando por fases para tornar nítida a evolução do conteúdo entre as diferentes áreas da ciência, como cinemática e termologia. Sem substituir o professor, é claro. “Para motivar os estudantes, as fórmulas são tratadas como conquistas, sendo desbloqueadas, e há formação de uma rede de apoio por meio do recurso de localização”, afirma Jéssica. “O estudante também pode encontrar os demais usuários que estiverem nas proximidades. Além disso, os conteúdos disponibilizados têm uma linguagem simples e informal, criando um ambiente mais confortável para o usuário.”
Daqui para frente, o desafio é continuar dedicando tempo ao projeto. “Ainda vamos passar por aperfeiçoamentos e avaliações construtivas durante o Campus Mobile”, diz Beatriz. “Acreditamos que o contato com pessoas experientes e os feedbacks que receberemos ao longo do processo contribuirão para que possamos disponibilizar o aplicativo para o público futuramente. Também acreditamos que a proposta do aplicativo seria muito benéfica para os usuários.”
O Cuidadoso é um aplicativo em formato de site que pretende auxiliar o trabalho de cuidadores de idosos, adicionando mais eficiência e profissionalismo aos objetivos do dia a dia. Conforme Pedro Ferro, Pedro Dutra e Rafael Albuquerque, tarefas que normalmente são feitas de modo distinto poderão ser realizadas simultaneamente na mesma plataforma, dando comodidade à família, ao cuidador e ao paciente, além de otimizar os afazeres do trabalhador. Dados do Ministério do Trabalho apontam a existência de 35.000 cuidadores de idosos no Brasil.
Entre os recursos do app, estão contato direto com os responsáveis, lembretes automatizados de tarefas que precisam ser realizadas durante o dia de trabalho (medicamentos específicos e atividades que levam ao bem-estar do paciente) e tutoriais de diversas áreas da saúde (Fisioterapia, Nutrição e Psicologia). “O que hoje é feito com pesquisas avulsas, documentos, cronômetros, listas e conversas informais será compactado e otimizado no Cuidadoso, com o intuito de auxiliar nessas e em outras funções da profissão que mais cresce no Brasil”, diz Pedro Ferro. “Além disso, buscamos trazer mais confiança profissional na relação entre os responsáveis dos pacientes e seus cuidadores a partir do uso do nosso aplicativo.”
Rafael recorda que, ainda no 1º semestre do curso, na disciplina Natureza do Design, o professor André Santana comentou sobre o Campus Mobile, ao apresentar conceitos de empreendedorismo e de construção de ideias inovadoras. Quando demonstraram maior interesse no concurso do Instituto Claro, foram instruídos a aguardar até o semestre seguinte, pois na matéria Codesign de Aplicativos aprenderiam os fundamentos de programação necessários para um bom desempenho na competição.
No início do 2º semestre, os três (mais os colegas Fernando Mattos e Jorge Gyotoku) idealizaram o projeto que gostariam de desenvolver na disciplina, já levando em consideração os pré-requisitos estabelecidos pelo Campus Mobile. “Entre muitos outros problemas que poderíamos abordar, notamos a falta de amparo tecnológico no dia a dia de cuidadores profissionais”, diz Pedro Dutra. “Como a tecnologia voltada para esse público possui potencial de impactar positivamente as vidas de responsáveis pelos pacientes, dos pacientes em si e dos próprios cuidadores, trabalhamos ao longo do semestre no app Cuidadoso.”
Eles pretendem se dedicar ao máximo para a próxima etapa do concurso, em março, na qual as equipes serão orientadas por especialistas da área de inovação, durante uma semana de imersão com palestras e oficinas. “O objetivo final é ganharmos os grandes prêmios da competição, visitar o Vale do Silício, e conseguir o investimento para continuar com o projeto que se tornou um sonho para nós”, afirma Ferro. “Queremos trazer também mais uma conquista para o Insper, incentivando outros alunos a construírem projetos que realmente impactem a sociedade e servirmos de modelo para as próximas gerações de engenheiros que estão por vir.”
As equipes Cuidadoso e Fisy poderão avançar para a Etapa 4 do Campus Mobile, em maio, que prevê a finalização de protótipos entre os três finalistas de cada categoria (Diversidade, Educação, Games, Saúde, Smart Cities e Smart Farms). A partir de então, a premiação aumenta conforme a classificação dos projetos, culminando, para os vencedores, na visita a empresas e instituições de pesquisa do Vale do Silício, nos Estados Unidos, em setembro.