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Evento debateu os bastidores dos conselhos de administração

Para Sandra Guerra, autora do livro “A Caixa-Preta da Governança”, a pressão do tempo pode gerar consensos forçados que empobrecem as decisões dos conselhos

Para Sandra Guerra, autora do livro “A Caixa-Preta da Governança”, a pressão do tempo pode gerar consensos forçados que empobrecem as decisões dos conselhos

 

Bárbara Nór

 

O que acontece por trás das portas nas reuniões dos conselhos de administração — uma das instâncias mais poderosas para tomar decisões e definir rumos e estratégias das organizações?

Essa foi uma das questões do webinar “A caixa-preta da Governança”, que aconteceu no início de agosto, no Insper. Com mediação de Roberta Prado, sócia-fundadora da consultoria em governança e gestão Legar G&C, o evento contou com a presença de Sandra Guerra, sócia-fundadora da consultoria Better Governance e autora do livro que inspirou o título do evento. Ambas atuaram também no conselho de administração do Instituto Brasileiro de Governança Corporativa (IBGC), cofundado por Sandra.

“A Sandra é, sem dúvida, uma das pessoas, senão a pessoa que mais conhece sobre governança e conselhos”, disse Roberta na abertura do evento. Agora em sua quarta edição, ampliada e revisada, o livro de Sandra, A Caixa-Preta da Governança: Conselhos de administração por quem vive dentro deles (Best Business, 448 páginas), é baseado não só em sua experiência de mais de 26 anos em conselhos, mas também em pesquisas acadêmicas, 31 entrevistas com profissionais ao redor do mundo e em cases com situações da vida real dos conselhos.

Durante o evento, o público pôde conhecer os principais insights de Sandra, assim como sua motivação para estudar sobre o tema. “Desde o começo em governança, o conselho me atraía muito a atenção pela complexidade que é tomar decisões em grupo”, disse ela. Quando surgiram, contou, os conselhos tinham ainda muitos desafios e incertezas em relação a qual era a sua responsabilidade e como deveriam funcionar. “Eles eram praticamente de papel, não tinham uma função.”

Mesmo com avanços como a chegada, nos anos 2000, do Novo Mercado, segmento da B3 para ações de empresas que se comprometem voluntariamente a adotar práticas de governança corporativa além das exigidas por lei, a situação ainda estava longe de ser ideal. “Foi essa inquietação que me levou a escrever o livro”, disse Sandra. Afinal, não só havia dúvidas sobre qual deveria ser, exatamente, a atuação dos Conselhos, como nem sempre a forma como eles tomavam decisões era a melhor.

 

Capa livro A caixa preta da governça
Capa do livro

 

Vieses inconscientes

“Mesmo quando você tem conselheiro responsável, diligente, ainda assim o conselho pode falhar por questão comportamentais”, afirmou Sandra. Isso porque eles podem ser “capturados” por vieses cognitivos — tanto individuais quanto de grupos. Além disso, outros fatores, como a existência ou não de segurança psicológica e a própria cultura, também contribuem para o nível de discussão que acontecerá nos conselhos. “Achamos que nossas decisões são sempre racionais, mas não são. A racionalidade humana é sempre limitada.”

Além da questão dos vieses inconscientes, um dos problemas mais comuns observados por Sandra é a pressão que os conselhos sofrem para tomar decisões rápidas. Isso acaba gerando consensos forçados, sem tempo ou espaço para, de fato, explorar alternativas, o que empobrece as decisões tomadas pelo conselho.

Outra descoberta foi as diferenças entre as culturas de conselho — principalmente entre diversos países. “É mais fácil discordar fora de ambientes de conselhos da América Latina, por exemplo”, disse Sandra. “Aqui, é muito comum que a gente participe de reunião e, antes de colocar uma posição diferente, a gente fale ‘desculpe’, e aí dê uma volta grande até trazer de leve a sua ideia.” Já em culturas como a anglo-saxã, a objetividade seria maior porque não há medo em ser grosseiro simplesmente por discordar.

O problema nisso é que, de acordo com a pesquisa de Sandra, quanto mais os membros se sentirem livres para expor diferentes ideias, com um debate mais livre e com mais compartilhamento de informações, os conselhos tendem a ter melhor desempenho na avaliação dos próprios conselheiros entrevistados.

E, em um contexto no qual o papel dos conselhos vem sendo cada vez mais relevante, como comentou Roberta Prado, eles devem estar preparados a responder a anseios como inclusão, diversidade e meio ambiente, o que nem sempre acontece. “São iniciativas como a de Sandra que vão mudando essa cultura, porque o comportamento dos conselheiros está intimamente ligado ao comportamento da sociedade”, afirmou Roberta.

Para assistir ao webinar na íntegra, clique aqui.

 

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