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“Ousadia para questionar, pensar diferente e agir sem medo de errar”

Paulo Chavarelli, diretor de estratégia de vendas da fabricante de bens de consumo Unilever, relata as lições que tirou de sua viagem a Israel

Paulo Chavarelli, diretor de estratégia de vendas da fabricante de bens de consumo Unilever, relata as lições que tirou de sua viagem a Israel

 

Bárbara Nór

 

Mesmo em um mundo globalizado, as diferenças locais ainda contam — e muito. Essa foi uma das percepções de Paulo Chavarelli, diretor de estratégia de vendas da fabricante de bens de consumo Unilever e um dos participantes do programa Israel Innovation Experience, iniciativa do Hub de Inovação Paulo Cunha, que levou executivos para uma viagem a Israel para se desenvolver em temas de negócios, tecnologia e inovação.

“É isso a beleza da coisa: entrar em contato com empresas de outros países, com os aspectos culturais e mindset de cada lugar”, diz Chavarelli. “Você aborda a mesma problemática sob outra lente, outra perspectiva.”

E Israel, afirma o executivo, tem muito a nos ensinar: “Eles, assim como nós, têm muitas coisas não resolvidas socialmente”. Chavarelli conta ter percebido extremos parecidos com os de muitas cidades brasileiras: de um lado, muita riqueza e tecnologia; de outro, necessidades e problemas mais básicos de infraestrutura. “Mas o que tirei disso tudo é que, mesmo com esses desafios, nada impede Israel de ter uma agenda fortemente voltada para a inovação e o empreendedorismo.”

Uma das surpresas da viagem, por exemplo, foi o modo direto e sem papas na língua dos israelenses. Existe até um termo para isso: chutzpah, palavra iídiche que pode ser traduzida por algo como “ousadia” ou “audácia”. “Até um soldado raso é incentivado a discordar abertamente de seu superior”, diz Chavarelli. Para ele, essa atitude ajuda o país a gerar mais inovação, já que as pessoas são mais questionadoras e têm menos medo de errar.

Outro ponto alto da viagem, para o executivo, foi conhecer de perto a agenda de aproximação das organizações israelenses com as universidades. “Essa parceria quebra o modelo-padrão das empresas e joga uma nova luz no jeito de fazer inovação e empreendedorismo”, diz Chavarelli.

Na entrevista a seguir, o executivo relata suas impressões sobre a imersão em Israel.

 

O que mais chamou sua atenção em sua experiência em Israel?

A proximidade das empresas e da iniciativa privada com a academia e as universidades. Elas têm uma agenda muito forte de investimento e proximidade, é quase uma agenda de simbiose. Elas trabalham junto em inovação e empreendedorismo. Aqui, vejo o Insper tentando criar essa agenda e eu, particularmente, voltei com essa ideia fixa na cabeça, de aproximar minha empresa do universo acadêmico. Já estamos alinhando agendas e queremos entender como a academia pode ajudar empresas como a Unilever a gerar inovação.

 

Qual a importância que essa parceria pode ter para as empresas?

As empresas, em geral, estão muito arraigadas nas metodologias tradicionais. Ainda mais em empresas centenárias, até o jeito de inovar acaba sendo arrastado. Você tem um histórico de como construir cases de sucesso e vai replicando esse modelo. E a parceria com a universidade, estar mais aberto a diversas perspectivas de como abordar temas como inovação e empreendedorismo, pode gerar muita provocação no ambiente corporativo, trazer mais metodologia, muito estudo. Mais do que nunca, tem muita empresa falando em teste, de aprendizado, mas com muito pouca metodologia. Acho que a associação com as academias ajuda a provocar o status quo.

 

Houve algum aspecto na cultura de trabalho dos israelenses que o tenha surpreendido?

O israelense é extremamente direto — a gente chegou a falar em arrogância da parte deles, mas aí nos foi apresentado esse termo, chutzpah, em uma das universidades que visitamos. Eles traduzem essa palavra como “ousadia”. Trata-se de romper com a hierarquia. É a ousadia de pensar diferente, mudar e questionar por que as coisas são feitas de tal maneira. Isso faz parte da cultura israelense e é muito diferente do comportamento que a gente tem no Brasil. O chutzpah estimula a pessoa a fazer coisas diferentes e saber que, se errar, tudo bem. Me parece que isso está no centro dessa agenda de inovação, essa capacidade de pensar e agir a partir desse princípio. Os israelenses abordam e fazem perguntas sobre qualquer tema sem receio e tentam coisas novas sem medo. E é uma agenda muito voltada para a ação: você pode começar a fazer coisas só sabendo a direção, sem ter as respostas. E tudo bem se mudar sua decisão no meio do caminho.

 

Como isso se compara com o modo como a inovação acontece no Brasil?

Aqui, você vai falar em inovação e tenta montar o famoso business case. Aí, você quer saber em quantos dias vai ter o retorno, quais as etapas, qual o cronograma. Lá, isso não é estruturado. Se eles têm uma ideia que entendem ser boa, já começam a procurar recursos para colocá-la em prática. E vão encontrando as respostas no caminho. Achei fascinante uma história de um pesquisador que desenvolveu um produto antes de saber para que servia. Foi o processo inverso. Ele desenvolveu primeiro a solução, um produto químico, e depois foi para o mercado ver para quem aquele produto servia. E acabou vendendo para uma empresa global de bebida. Isso me chamou muito a atenção. É diferente da nossa dinâmica de querer saber todas as respostas já no início da jornada de inovação.

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