Os estudantes do 5º semestre reuniram o que aprenderam desde o primeiro dia de curso para oferecer soluções de negócios alinhadas aos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável da ONU
Tiago Cordeiro
Resgatar conteúdos multidisciplinares, modelos e ferramentas utilizados desde o início da Graduação em Administração para desenvolver, em grupo, uma solução de negócios alinhada a um ou mais Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS), da Organização das Nações Unidas. Essa é a tarefa proposta aos alunos do 5º semestre do curso.
“Todo semestre, desde 2013, em média 25 grupos desenvolveram planos de negócios para empresas existentes, ou novos negócios, para resolver problemas relacionados a desenvolvimento sustentável”, diz a professora Priscila Claro, que coordena a atividade — e é também uma das idealizadoras do novo Programa Avançado em Sustentabilidade da instituição.
A iniciativa tem o objetivo de estimular os estudantes a desenvolver competências relacionadas à análise crítica dos problemas e desafios do mundo real relacionados aos ODS, à visão sistêmica sobre o funcionamento de um negócio e suas relações com o contexto e à formação de uma atitude empreendedora para a criação de soluções de negócios transformadores.
Entre os projetos do segundo semestre de 2021 está o desenvolvido na Comunidade de Nova Vila União, em São Paulo, por Kevin Abi Ghosn, Marco Pigossi, Rafael Khebzou, Rafael Suslik, Johathan Mansur, Felipe Spirito Diniz e Carlos Henrique Borges.
Um líder comunitário e empreendedor social da região, Hermes Souza, pretendia criar um negócio sustentável e com fins lucrativos, para ajudar a população local. Os estudantes desenvolveram para ele um conjunto de planos financeiro, operacional, marketing e de pessoas.
“A empresa que ele gostaria de construir iria comprar de pequenos produtores parte de suas produções de frutas, legumes e verduras e depois revender os alimentos para a comunidade”, explica Kevin Abi Ghosn, de 20 anos. “Nesse sistema, Hermes Souza buscaria opções com pequenos defeitos, como, por exemplo, uma banana com muitas manchas. Dessa forma, conseguiria pagar um preço mais baixo, uma vez que são produtos com menor demanda, e ao mesmo tempo ajudaria o produtor, que não teria de jogar fora esses alimentos.” Já a população poderia obter os produtos a um preço mais acessível.
O grupo encontrou dificuldades, relata o aluno, incluindo desenvolver metas e objetivos claros, que pudessem ser seguidos pelo empreendedor. “Para conseguir lidar com essas dificuldades, o grupo teve de realizar alinhamentos constantes com professores e com o próprio Hermes, além de reuniões semanais para sempre nos ajudarmos.” A experiência foi rica em aprendizado, diz Ghosn. “Aprendi a perceber e identificar problemas que estão muito distantes da nossa realidade, mas que acabam impactando positivamente muitas pessoas.”
Outro grupo desenvolveu um projeto para que pequenas e médias empresas e pessoas físicas consigam neutralizar suas emissões por meio de uma assinatura anual, com auxílio da calculadora, uma solução digital e acessível. A iniciativa foi desenvolvida por Livia Biazzi Reis, Guilherme Giannasi, Júlia Mazzocato Yunes, Lorenzo Garcia Karam Poianas, Lucas Martins, Milena Isa Rezende Fonseca e Sofia Teodoro de Abreu Coutinho.
“O grupo conseguiu firmar uma parceria com a Biofílica, uma companhia de serviços ambientais”, explica Livia Biazzi Reis, que tem 20 anos e é nascida em Sorocaba. “Desenvolvemos um business plan que atende a dois ODS, o 12 (que se refere à produção e ao consumo sustentável) e ao 13 (que trata de ações contra a mudança do clima).”
Os alunos se dividiram em três áreas: marketing, operações e financeira. “Descobri que gosto muito de marketing”, relata a aluna. “Era um tema muito novo, o que dificultou a pesquisa inicial, mas depois conseguimos que a proposta ficasse mais palpável.”
Milena Isa Rezende, que também tem 20 anos e morava em Goiânia até começar a cursar a faculdade, apontou outra dificuldade: “Foi difícil, a princípio, entender como abordar os consumidores, como fazer a pessoas se interessarem”. A proposta final, diz ela, contribuiu para a sua formação profissional e para ampliar a capacidade de trabalhar em grupo. “O assunto ‘neutralização de carbono’ atraiu meu interesse”, diz.
Desenvolver um centro gastronômico sustentável, em que clientes e participantes de ações educativas interajam de perto com uma horta real e entendam, assim, como os alimentos são produzidos. E tudo isso num bairro nobre de São Paulo, de forma a atender a um público de alta renda. Essa é a proposta da The Greenhouse, um empreendimento projetado pelos alunos Maria Antonia Scandar de Souza Chassot, Ana Carolina Huffenbaecher, Antônio Huang Dib, Isabella Brito de Oliveira e Lucas Mateus do Nascimento.
“Eu cheguei a passar no vestibular de Medicina, porque queria ajudar as pessoas. Depois percebi que não era o meu perfil, mas que eu podia contribuir em qualquer curso que fizesse”, lembra Maria Antonia Scandar de Souza Chassot, paulistana de 22 anos. Depois de cursar um ano de economia no Insper, ela migrou para Administração, onde encontrou o rumo pessoal e profissional.
“Uma das dificuldades do projeto foi encontrar um tema que cativasse todos os participantes do grupo”, diz ela. “Aprendemos a buscar o consenso entre todos. Também tivemos que buscar conhecimentos de diferentes disciplinas que estudamos no curso, e integrá-los num projeto que fizesse sentido sob diferentes aspectos, do marketing ao financeiro.”
O projeto desenvolvido pelo grupo detalha a implementação do empreendimento, incluindo plano operacional e de marketing e estabelecendo o investimento inicial e os bairros da capital paulista onde a proposta teria maiores chances de sucesso.
A atividade ocupou boa parte do semestre letivo. O diagnóstico e a ideia inicial do negócio foram apresentados nas aulas de estratégia. Ao final do semestre, chegou o momento de apresentar, em vídeo, o pitch dos planos completos. Além de apontar as ODS atendidas e as dores do cliente a ser solucionadas, o plano detalha diferentes aspectos da ação: marketing, operacional, pessoas e financeiro.
A partir de 2022, a atividade continua sendo realizada entre os alunos do 5º semestre, com uma diferença: “O Insper vai alocar para cada grupo uma startup e a missão será identificar, para ela, uma oportunidade real relacionada às ODS”, explica Priscila Claro. “A atividade foi turbinada, de forma a ampliar ainda mais seu impacto.”