A pesquisa de Thiago de Souza Patto desenvolvida no Doutorado em Economia dos Negócios do Insper recebeu menção honrosa na área de economia no Prêmio Capes de Tese 2024, concedido pela Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior. A tese “Essays in urban and labor economics” foi orientada pelo professor Rodrigo Soares, vice-presidente acadêmico da escola, e é composta por três artigos que tratam de temas de economia do trabalho e economia urbana.
Patto parte da evidência de que os salários não só tendem a ser maiores nas grandes cidades, mas também a crescer mais rápido na comparação com municípios menores. Ele usou dados da Relação Anual de Informações Sociais (RAIS), do Ministério do Trabalho e Emprego, que descrevem detalhadamente esse fenômeno. Ficou demonstrado, então, que o crescimento das diferenças salariais nas grandes cidades está concentrado em um grupo específico: jovens com ensino superior.
O aumento do salário está muito relacionado também às transições de emprego, explica Patto. Nas grandes cidades, o ganho salarial é maior quando o trabalhador muda de empresa com mais frequência. “O achado sugere um efeito de seleção, ou seja, o crescimento de salário é maior entre os jovens com ensino superior que estão mudando mais de emprego”, diz o autor. “Parece que as grandes cidades têm essas oportunidades para esse grupo específico. Isso é relevante porque aponta na direção de que o mercado de trabalho nas grandes cidades parece funcionar de maneira diferente.”
No segundo artigo, explorando os dados da capital paulista sobre a abertura de grandes prédios comerciais, onde os escritórios de alta qualificação se instalam, Patto consegue estimar um efeito multiplicador na economia local. “Esses grandes prédios representam, sobretudo, um choque de produtividade”, afirma. “Aqueles bairros se tornam atrativos para empresas que não dependem de demanda local, isto é, grande circulação de pessoas que se tornam potenciais consumidores. Quando os escritórios vão para lá, por efeito indireto haverá mais pessoas circulando, e aquela área ficará mais atrativa para os comércios locais.”
A pesquisa estima que, para cada dois empregos adicionais criados por escritórios de alta qualificação, um emprego é criado por serviços locais. Esse efeito multiplicador é importante para entender cenários recentes, como o impacto do advento do trabalho remoto durante a pandemia da covid-19, iniciada em 2020, sobre os pequenos comerciantes e os negócios locais.
Por fim, no terceiro artigo, Patto apresenta evidência empírica da dimensão espacial das fricções no mercado de trabalho. Sabe-se que as empresas que abrem vagas de trabalho não conhecem todas as pessoas que estão à procura de emprego, assim como as pessoas não conhecem todas as empresas que abriram vagas. Grosso modo, o encontro é casual. Por fricção espacial, observa Patto, alguém tende a obter mais informações sobre vagas de trabalho nos bairros onde circula com frequência.
É nesse deslocamento que o trabalhador lê cartazes de “procura-se” ou recebe de pessoas do bairro a informação das vagas recém-abertas. O autor recorreu aos dados da RAIS novamente. “O desafio empírico é enorme para argumentar que existe uma causalidade, então tento explorar pequenas variações de distância”, diz. “Comparando duas pessoas que já trabalham na Avenida Faria Lima, aquela que calhou de morar mais perto do prédio comercial tem uma probabilidade de duas a duas vezes e meia maior de ser contratada pela empresa que tem escritório ali.” A fricção espacial tem efeito mais robusto para os profissionais com menor qualificação — quem tem curso superior costuma estabelecer outras redes de contato.
O prêmio da Capes considera méritos de originalidade, metodologia, qualidade do texto e relevância para o desenvolvimento científico, tecnológico, cultural e social, entre outros. Patto festejou o reconhecimento. “Sempre me considerei um bom aluno, mas não a ponto de, por exemplo, participar de olimpíadas científicas, como alguns jovens estudantes fazem”, afirma. “Mas acho que o doutorado é diferente. É o seu trabalho que está em jogo, e tudo motiva a fazer o melhor possível, porque essa determinação vai ter uma grande influência na sua carreira. A menção honrosa foi um passo importante na direção de consolidar a minha carreira de pesquisador em Economia.”
Para o professor Rodrigo Soares, o prêmio demonstra como, em seu pouco tempo de história, o Doutorado em Economia dos Negócios do Insper já se estabeleceu como um dos principais programas de doutorado em Economia do país. “Esse prêmio vem se juntar a outras conquistas dos doutores formados pelo programa, seja em termos de publicações científicas ou de colocações no mercado de trabalho acadêmico”, diz Soares. “Como vice-presidente acadêmico, fico muito feliz em ver a excelência do programa se manifestando mais uma vez através da premiação. Como orientador de doutorado do Thiago Patto, fico ainda mais feliz por ver seu excepcional trabalho reconhecido como uma das principais teses em economia do país no último ano.”
Patto lembra que ingressou no doutorado, em 2017, com a intenção de estudar economia do trabalho e foi se interessando por economia urbana. “Existe uma piada de que todo mundo que escolhe economia urbana gosta de mapa. Talvez seja verdade para mim. Fui uma criança que tinha essa coisa de gostar de localizar os países no mapa, decorar capitais. Tem um pouco também de trajetória pessoal que explica os nossos interesses. Foi um choque quando me mudei de Taubaté para São Paulo, aos 20 anos de idade. Comparava constantemente as cidades em diversos aspectos. Em São Paulo, tem uma série de coisas acontecendo que não tinha onde eu morava. O primeiro artigo da minha tese estuda esse aspecto da mudança, no caso do choque na trajetória do salário”.
Outra motivação vem da própria trajetória acadêmica. Atualmente pesquisador de pós-doutorado no FGV Cidades, Patto graduou-se em Física antes de Economia, áreas talvez não tão inconciliáveis. “Quem gosta de Física tende a gostar de Matemática e modelos matemáticos”, afirma.
No Insper, Patto encontrou um ambiente “efervescente”, como define, em relação ao programa de Economia, criado em 2015. “Havia novos professores e muito debate sobre as pesquisas em andamento, num caldo cultural que jogava todos para cima”, diz. “Foi uma experiência superpositiva, muito por conta do ambiente cooperativo. Fazer doutorado é uma coisa muito solitária, mas nunca me senti desamparado, e arriscaria dizer que os meus colegas também não. Torcíamos um pelo outro. A relação não era de competição predatória. Só queríamos alcançar um ao outro.”