Um professor e dois pesquisadores do Insper estão entre os vencedores da primeira edição do Prêmio Jabuti Acadêmico. Sérgio G. Lazzarini foi escolhido pelo livro A Privatização Certa: por que as empresas privadas em iniciativas públicas precisam de governos capazes (editora Portfolio-Penguin). Alysson Portella e Michael França ganharam com Números da Discriminação Racial: desenvolvimento humano, equidade e políticas públicas (editora Jandaíra). Os resultados foram divulgados no dia 6 de agosto, em cerimônia no Teatro Sérgio Cardoso, em São Paulo.
O livro do professor Lazzarini, que concorreu na categoria Administração Pública e de Empresas, Ciências Contábeis e Turismo, examina o debate polarizado sobre a eficiência das privatizações, destacando tanto os méritos quanto as falhas de serviços prestados por empresas privadas e estatais. “Esse título fecha uma trilogia que se iniciou com o livro Capitalismo de Laços e resulta de análises e conclusões advindas de pesquisas com inúmeros coautores”, diz Lazzarini. “Mais do que um prêmio para uma obra, eu diria que se trata do reconhecimento de toda uma agenda de pesquisa cumulativa e colaborativa, da qual eu tenho muito orgulho de fazer parte.”
Premiado na categoria Economia, Números da Discriminação Racial analisa o tema sob a perspectiva econômica, com contribuições de pesquisadores do Núcleo de Estudos Raciais do Insper (NERI) e convidados. “Ganhar o Jabuti tem uma dimensão individual e outra coletiva”, afirma França. “Do ponto de vista individual, representa para mim mais uma grande conquista. Quando o prêmio foi anunciado, confesso que até passou um filme pela minha cabeça. Venho de uma origem desfavorecida e já até pensei em largar a escola. Alunos pretos, como eu, enfrentam muitos preconceitos na escola, e fora dela a realidade não é muito diferente. Para chegar até aqui, tive que superar muita coisa.”
França ressalta ainda a importância da premiação sob o ponto de vista coletivo. “No Núcleo de Estudos Raciais, estamos procurando não só informar gestores públicos com informações quantitativas de alta qualidade, mas também tentando sensibilizar mais a academia e a sociedade para os desafios da agenda racial”, diz ele. “Deste modo, o prêmio não representa só um reconhecimento pelo trabalho que temos feito, mas a visibilidade que ele dá ajuda a nossa mensagem a chegar mais longe.”
Na opinião de Portella, o Jabuti Acadêmico mostra que o trabalho realizado ao longo dos últimos anos foi feito de forma séria e com excelência. “É um grande reconhecimento para nós e mostra que estamos seguindo no caminho certo”, afirma. “Ao mesmo tempo, o que mais nos alegra com o prêmio é justamente o reconhecimento da importância da questão racial na área de economia do Brasil. Embora o mito da democracia racial tenha sido derrubado há muito tempo por acadêmicos de outras áreas, em especial a Sociologia, a ciência econômica brasileira ainda estava um pouco aquém, inclusive com muitos pesquisadores negando a relevância do tema. A premiação mostra que esse é um debate relevante e incentiva outros pesquisadores a se engajarem no assunto. Ainda há muito a ser feito nessa área no Brasil e precisamos de mais gente com interesse no tema, tanto na academia como no debate público.”
O Prêmio Jabuti Acadêmico é um “filhote” do Prêmio Jabuti, instituído em 1958 pela Câmara Brasileira do Livro e reconhecido como a maior distinção literária do Brasil, celebrando anualmente contribuições de diversos profissionais envolvidos na produção literária. O nome “Jabuti” homenageia a emblemática tartaruga do escritor Monteiro Lobato, simbolizando resiliência e superação. Em 2018, o prêmio foi reestruturado em quatro eixos principais: Literatura, Ensaios, Livro e Inovação, abrangendo um leque diversificado de categorias, como Romance, Contos, Poesia, Literatura Infantil e, mais recentemente, Histórias em Quadrinhos e Livro Brasileiro Publicado no Exterior.
O Prêmio Jabuti Acadêmico foi criado neste ano para suprir a lacuna de reconhecimento das contribuições acadêmicas, científicas e profissionais no Brasil. Apoiado pela Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC) e pela Academia Brasileira de Ciências (ABC), este novo prêmio visa valorizar e promover obras que impulsionam o avanço do conhecimento e da inovação. Com uma organização focada em dois eixos principais — Ciência e Cultura, e Prêmios Especiais — e 29 categorias específicas, a premiação destaca a relevância, a inovação e o potencial de impacto das obras acadêmicas. Mais de 1.900 obras foram inscritas na primeira edição do Jabuti Acadêmico.