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Agente de saúde SP_combate à dengue (2)

Agentes de saúde reinterpretam papéis para lidar com pressão

Servidores próximos dos usuários oscilam entre aquiescência e imposição de limites
27/03/2024 16:26

 

 

Trabalhadores responsáveis pelo atendimento aos usuários do programa Estratégia Saúde da Família adotam meios flexíveis para lidar com as pressões geradas por um cenário de desafios constantes em regiões marcadas por desigualdade, vulnerabilidade e insegurança.

Os pesquisadores Charles Kirschbaum (Insper), Gabriela Lotta (FGV), Morgana Krieger (Universidade Federal da Bahia) e Nissim Cohen (Universidade de Haifa) investigaram a atuação de agentes de saúde da família para entender como servidores na linha de frente de políticas públicas interpretam na prática os seus papéis institucionais.

No trabalho foram entrevistados 94 agentes comunitários que atuavam na cidade de São Paulo de 2018 a 2021. Nas equipes do programa, esses servidores ocupam a posição de menor prestígio e remuneração, atrás de médicos e enfermeiros. Interface direta e mais frequente com o público-alvo, esses profissionais atuam na região em que moram.

Ao sistematizar as respostas às entrevistas sobre a atuação dos agentes de saúde da família, a pesquisa definiu três gêneros de obstáculos que eles encaram em seu cotidiano de trabalho e três maneiras usuais de lidar com eles.

Um dos desafios encontrados foi a confusão de fronteiras entre a vida pessoal e a profissional, com demandas da comunidade surgindo em períodos de folga e queixas de falta de privacidade dos servidores. Outro obstáculo relatado foi o risco de agressão física e psicológica em comunidades violentas e por vezes dominadas por criminosos.

A sensação de impotência surgiu como o terceiro eixo de dificuldades. Servidores se mostraram frustrados por não conseguirem resolver problemas de saúde de moradores ou questões que extrapolam sua alçada profissional. Incomodaram-se com a visão difundida de que agentes de saúde podem ser exigidos numa gama genérica de tarefas.

Entre as estratégias para contornar os riscos da atividade diária, consta a necessidade de por vezes reafirmar as fronteiras institucionais e profissionais que definem o trabalho dos agentes de saúde, impondo limites legais e hierárquicos em situações críticas.

A aquiescência, por outro lado, também figurou no rol das maneiras de lidar com as pressões. Os agentes contam ter eventualmente deixado de agir ou de relatar abusos para preservar sua integridade. Ativar e estreitar a rede de contatos pessoais — por exemplo, para pedir ajuda a chefes criminosos em situações de ameaça à saúde — foi o terceiro feixe de estratégias detectado no estudo de Charles, Gabriela, Mogana e Nissim.


Leia o estudo: Not Separate, but Certainly Unequal: the Burdens and Coping Strategies of Low-Status Street-Level Bureaucrats.


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