O uso da Robotic Process Automation pode ser um pré-requisito importante para a introdução da inteligência artificial no mundo corporativo
Vainer Munhoz*
A Robotic Process Automation (RPA) é uma tecnologia emergente baseada em software que é utilizada para automatizar processos organizacionais. Seu uso já está bastante difundido entre as empresas que buscam automação. A prática e a literatura acadêmica parecem estar alinhadas que os ganhos de eficiência estão relacionados principalmente à velocidade e à qualidade de processamento de dados e informações, executando atividades rotineiras de maneira precisa e consistente.
Em razão dessas características e de sua larga aplicação, o uso de RPA possibilita a redução de custos, evitando erros humanos e proporcionando ganhos expressivo no tempo de execução de tarefas repetitivas e volumosas ao assumir parte do trabalho anteriormente desempenhado por pessoas.
Até 2024, segundo a consultoria Gartner, 95% dos fornecedores de RPA oferecerão automação por meio de APIs e integração de interface do usuário, e cerca de 80% dos clientes corporativos que implantaram a automação assistida, principalmente em um desktop, mudarão para uma UX mais ampla, abrangendo interfaces da web, dispositivos móveis e de voz.
Entretanto, a RPA somente é capaz de executar programação binária, cujo resultado é determinístico. Por isso, não se trata de uma solução de inteligência artificial (IA) ou machine learning (ML), ou seja, não é capaz de alterar sua programação de forma autônoma. Justamente por essa característica, a execução de rotinas cognitivas é apontada como uma limitação da ferramenta, pois envolvem processos não estruturados, não sendo modeláveis para que a RPA seja aplicada.
Por outro lado, na automação inteligente, o processamento de linguagem natural (NLP) tornou-se uma tecnologia cada vez mais importante para diferentes setores da economia que buscam otimizar suas operações.
De acordo com um dos últimos anúncios da OpenAI, agora é possível integrar o ChatGPT a uma grande parte dos aplicativos e sistemas responsáveis pela gestão dos processos de negócios, incluindo a tecnologia de RPA
O ChatGPT é uma ferramenta NLP com inteligência artificial que permite aos usuários ter conversas mais humanizadas com um chatbot. A empresa OpenAI criou o ChatGPT e o lançou em 30 de novembro de 2022.
O ChatGPT teve um impacto significativo na indústria de tecnologia. Teve mais de um milhão de usuários nos primeiros cinco dias após o lançamento, de acordo com o CEO da OpenAI, Sam Altman. Segundo o UBS, empresa de serviços financeiros com sede em Zurique, na Suíça, o ChatGPT é o aplicativo de crescimento mais rápido, com 100 milhões de usuários ativos apenas dois meses após seu lançamento. Ele usa um LLM (Large Language Model), um grande modelo de linguagem denominado GPT-3.5, com 175 bilhões de parâmetros, tornando-se um dos maiores e mais poderosos modelos de processamento de linguagem.
As maiores empresas fornecedoras de tecnologia e serviços de RPA já dispõem de plataformas que possibilitam a integração com o ChatGPT. Segundo elas, essas plataformas já estão prontas e disponíveis para uso.
A natureza fundamental da IA é que ela se baseia em experiências anteriores, como dados anteriores, imagens e textos que foram preservados. Se os dados e algoritmos forem de alta qualidade, é possível criar modelos de dados preditivos ou generativos com certo grau de confiança nos resultados. Um dos casos de uso natural para isso no mundo real é a automação, na qual o histórico passado pode ser usado para gerar feedback ou ações.
Por exemplo, ao lidar com uma fatura em contas a pagar, o próximo conjunto de ações de alta confiança pode ser determinado por um modelo de aprendizado de máquina treinado com base em como as faturas anteriores foram tratadas. Ele também pode identificar problemas que podem ser potencialmente problemáticos ou levantar sinalizadores posteriormente com base no que ocorreu no passado em situações semelhantes.
Indo além desse exemplo, a integração entre RPA, IA, sistemas empresariais e fontes de dados externos (como Receita Federal, bancos, INSS etc.) pode automatizar — com mais inteligência — processos de negócios complexos em diferentes departamentos, tais como:
Quando se trata de tecnologia, muitas vezes somos condicionados ou induzidos a pensar que temos que escolher entre diferentes modelos de consumo, implantações, tecnologias ou arquiteturas. Embora muitas soluções promovam “o melhor dos dois mundos”, raramente cumprem com as promessas. Tudo indica que o velho ditado “one size fits all” ainda não cabe para nenhum dos dois lados.
O valor da IA continua a ser descoberto de maneiras mais novas e ainda mais inesperadas; o que é outro motivo para as empresas começarem a integrá-la a seus processos e fluxos de trabalho e começarem a (re)aprender novas formas de trabalho. Entretanto, os processos de negócios, os dados e os processos de governança, principalmente sobre proteção de dados (como a LGPD) devem estar minimamente organizados para ter o melhor benefício esperado e riscos mitigados.
Neste ponto, a automação de processos por meio da RPA pode ser um pré-requisito importante para a introdução da IA no mundo corporativo. Portanto, a combinação das duas tecnologias remete a uma conclusão mais sensata para uma próxima onda de digitalização e transformação digital.
Vainer Tadeu Munhoz é formado em Engenharia Mecânica pela UniSanta. Concluiu o MBA Executivo no Coppead (UFRJ) e finalizou seu Mestrado em Administração pelo Insper. Com experiência de mais de 20 anos na área de gestão de tecnologia da informação, atuou em consultorias e empresas de grande porte. É profissional certificado em Scrum Master e PMP pelo PMI.