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Programas de inovação aberta não duram o suficiente para desenvolver startups

Em webinar do Insper, executivos do Bradesco e da AB InBev destacaram que essas iniciativas precisam estar voltadas à geração de resultados efetivos para organizações e empreendedores 

Em webinar do Insper, executivos do Bradesco e da AB InBev destacaram que essas iniciativas precisam estar voltadas à geração de resultados efetivos para organizações e empreendedores 

 

Bruno Toranzo

 

Uma startup leva em média sete anos para virar unicórnio. Os programas de inovação não duram, em média, três anos. “O tempo que as organizações esperam para maturar um programa desse não é suficiente para contemplar o pleno desenvolvimento da startup”, disse Fernando Freitas, head de inovação do banco Bradesco, no webinar “Inovação aberta onde pega: erros e aprendizados”, promovido pelo Insper no dia 21 de março. Como exemplo, o executivo citou a plataforma ChatGPT, criada pela empresa OpenAI, que, com base nos algoritmos da inteligência artificial, escreve textos pedidos pelas pessoas. Em apenas um mês, a solução alcançou 1 milhão de usuários. “Na realidade, eles começaram em 2015, mas as primeiras versões não obtiveram o mesmo desempenho. Somente depois de oito anos chegaram aparentemente à versão desejada.”

Outro participante do webinar, Bruno Stefani, diretor global de inovação da fabricante de bebidas AB InBev, disse ter percepção semelhante. “Quando olhamos as aceleradoras mantidas por grandes empresas, tenho dificuldade de ver as startups que chegam, por exemplo, à quinta edição”, destacou. O desafio para esses programas de inovação aberta, segundo Stefani, é demonstrar que estão sendo de fato efetivos, endereçando a estratégia da companhia. “Muitos programas medem o sucesso pela métrica de entrada, como a inscrição de mil startups, mas o que realmente interessa é as que saíram bem-sucedidas dessas iniciativas. Pode ser apenas um caso, mas o importante é a entrega efetiva de resultado, que pode ser financeiro ou de imagem para a organização que investiu no programa.” Para Stefani, há necessidade de trabalhar sempre um tripé formado por tecnologia, modelo de negócio e comportamento do consumidor. “Se você não tiver essas verticais em um piloto, em uma prova de conceito, há um gap.

Como parte desse processo de inovação aberta, antes mesmo do lançamento do programa, é vital, na visão de Freitas, que a organização mude sua cultura. “A inovação aberta só se mantém se houver mudanças culturais dedicadas ao seu impulsionamento que atingem o jurídico da empresa, o processo de compras, o compliance, a questão da segurança e a tomada de decisão. Além disso, ela precisa produzir algum resultado de curto prazo para que se possa defender seu orçamento”, afirmou. No Bradesco, o departamento de inovação estimula esse pensamento em toda a organização, que conta com 90 mil funcionários e mais de 3 mil produtos.

 

Semantix e Green Mining

Como exemplo bem-sucedido da parceria do Bradesco com o ecossistema empreendedor, Freitas mencionou o Next, banco digital lançado em 2017. Os principais desafios iniciais estavam no Big Data e no Analytics, já que a instituição financeira não tinha esse conhecimento interno. O banco fez então uma chamada ao mercado com o objetivo de criar um motor de melhor próxima oferta que pudesse ser enviada ao cliente, usando, para isso, o Big Data. A startup brasileira Semantix, com apenas 15 funcionários na época, venceu a disputa e recebeu aporte do Bradesco. “O projeto foi tão bem-sucedido que, além do desenvolvimento do motor, o Bradesco criou pouco tempo depois um departamento voltado para inteligência de dados. Em agosto de 2022, a Semantix fez o IPO na Nasdaq e atingiu valuation de US$ 1 bilhão. Foi um orgulho estar com ela nessa trajetória, que nos ajudou a aperfeiçoar nosso modelo de Analytics”, observou.

Já Stefani comentou sobre a empresa Green Mining, que desenvolve uma tecnologia de logística reversa inteligente para recuperação de embalagens, trazendo de volta esses materiais para o ciclo de produção por meio de um sistema de rastreabilidade que garante o envio para reciclagem. “Nosso problema era a logística reversa de garrafa de vidro. Percebemos que se tratava de não apenas uma oportunidade financeira para a companhia como também uma solução social e ambiental relevante”, disse Stefani. A empresa reúne catadores contratados formalmente, com carteira assinada e com todos os equipamentos de proteção. A Green Mining, criada na aceleradora da Ambev, utilizou a companhia como plataforma de teste para desenvolver seu negócio e cresceu rapidamente. “O Rodrigo Oliveira, fundador e CEO, faz hoje palestras sobre a empresa e solução desenvolvidas, inclusive nos Estados Unidos”, disse Stefani.

 

Estímulo à inovação aberta

Marcelo Nakagawa, professor do Insper que fez a mediação do webinar, chamou a atenção para a onda de inovação aberta a partir dos anos 2000, com a ressalva de que muito antes disso empresas como a Ford já trabalhavam com abordagens semelhantes. “A diferença é que, nos últimos 20 anos, esse movimento se tornou comum em todo o mundo, inclusive no Brasil, com as empresas buscando parceiros externos, como startups, para inovar.”

O Insper também participa desse movimento. “Na educação executiva, pensamos sobre como apoiar as organizações para desenvolver competências e habilidades que permitam o florescimento dos ambientes de inovação nas organizações”, disse o professor Marcus Salusse, coordenador dos cursos abertos da educação executiva do Insper. Para isso, a instituição olha para duas áreas principais: jornada dos empreendedores de inovação e, de forma estratégica, trilha de inovação aberta.

Na primeira área, o Insper acompanha a ideia do empreendedor ou de alguém da organização que mantém um programa de inovação aberta, oferecendo todo o suporte da tecnologia e do ecossistema da instituição até o momento da escalabilidade. “Ou seja, além da adequação e do ajuste do produto ou serviço ao mercado, auxiliamos a escalar a solução”, disse Salusse. Como parte da trilha de inovação aberta, o Insper mostra como convencer a organização a abraçar esse modelo, já que nem sempre a liderança entende sua relevância. Por isso, é fundamental contar com uma estratégia de desenvolvimento da inovação aberta por meio de um processo com várias etapas, incluindo as métricas que demonstram a eficácia dos projetos desenvolvidos.

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