Com discussões sobre políticas públicas e planejamento de mandato, formação destacou os valores da democracia, do diálogo e da gestão com base em evidências
Bruno Toranzo
Entre os 513 eleitos para a Câmara na eleição deste ano, 202 nunca exerceram o mandato de deputado federal. Dos 27 senadores eleitos, 20 são estreantes no cargo. Há políticos que estão chegando ao Congresso Nacional que nunca estiveram em cargos legislativos. Situação parecida ocorre nas Assembleias Legislativas, que renovaram seus quadros de deputado estadual. Para que possam exercer suas funções da melhor forma possível, determinados conhecimentos são imprescindíveis. No curso “Gestão Estratégica de Mandato”, promovido pelo Centro de Gestão em Políticas Públicas do Insper, em parceria com a escola de educação política RenovaBR, 57 deputados federais, estaduais e senadores eleitos pela primeira vez tiveram acesso a uma grade curricular abrangente que contemplou os principais desafios brasileiros.
“O curso foi desenhado e conduzido visando a dois objetivos de aprendizagem: que cada parlamentar debata propostas concretas e viáveis para o país com base em evidências, e que planejem seu mandato de forma estratégica, por meio de boas práticas de liderança política”, disse Vinícius Barqueiro, coordenador de programas de gestão em políticas públicas do Insper. “As lideranças políticas que fizeram o curso, provenientes de 21 estados, fazem parte de 19 partidos diferentes, o que resultou em uma diversidade ideológica e regional que enriqueceu as discussões em sala.”
O diretor de educação do RenovaBR, José Henrique Nascimento, destacou que o objetivo dessa iniciativa foi contribuir para a formação de novas lideranças que compartilhem dos valores de defesa da democracia, do diálogo e que se pautem por políticas públicas baseadas em dados.
O planejamento do mandato, segundo Nascimento, contribui para que pautas relevantes para o país sejam trabalhadas. “Isso somente é possível se o parlamentar escolher um assunto-chave para seu mandato, que precisa ser, com base na evidência e nos dados, um desafio nacional ainda não resolvido”, explicou. “Vejo parlamentares entrando de comissão em comissão, participando de vários projetos ao mesmo tempo, sem se apropriarem de nada.”
Nesse aspecto, o curso demonstrou como fazer o diagnóstico desse desafio, identificando, para isso, as leis que já existem e as possibilidades de outras regulações, bem como os interlocutores que precisam ser envolvidos no diálogo. Houve espaço, ainda, para assuntos como capacidade de articulação e ética na política, explorando questões morais. “A aula final deu a oportunidade de refletirem sobre as prioridades do seu mandato, com a definição de metas para todos os anos da legislatura”, disse Nascimento.
A participação do RenovaBR, além do investimento na iniciativa e da contribuição para a governança das atividades, foi convidar os alunos e garantir sua presença na sede do Insper em São Paulo, local onde as aulas foram conduzidas.
O curso trabalhou assuntos prioritários para o Brasil nos próximos anos, como política social; reforma tributária; modernização do Estado e sustentabilidade. Essas aulas foram ministradas por Carlos Melo, David Kallás, Fernando Schüler, Laura Muller Machado, Marcos Jank, Marcos Mendes, Patrícia Tavares, Pedro Burgos, Priscila Claro, Ricardo Paes de Barros, Rubens Ricupero e Vanessa Canado. A aula de abertura foi do economista Marcos Lisboa, presidente do Insper, que abordou a importância de pautar as políticas públicas em evidências, que são obtidas por meio de métodos científicos.
“O curso começou com um panorama de conjuntura internacional, os desafios e as oportunidades do Brasil, com o ex-ministro e ex-embaixador Rubens Ricupero. Depois, se desdobrou em duas trilhas: de um lado, aulas que discutiram evidências sobre políticas cruciais para o país; de outro, aulas voltadas a como planejar o mandato, fazer articulações e exercer a liderança política com foco em gerar valor público. Saímos animados e esperançosos para que a formação, de fato, impacte positivamente o mandato de cada cursista e as políticas públicas do Brasil”, finalizou Barqueiro.