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Aprendizado muito além da escola

Segunda turma do curso de pós-graduação em Urbanismo Social aprendeu a levar a teoria da sala de aula para aplicações reais nos territórios vulneráveis

Segunda turma do curso de pós-graduação em Urbanismo Social aprendeu a levar a teoria da sala de aula para aplicações reais nos territórios vulneráveis

 

Michele Loureiro

 

Depois de um ano de aulas em formato híbrido, a segunda turma do curso de pós-graduação lato sensu em Urbanismo Social do Insper, com um total de 40 estudantes, terminou suas atividades acadêmicas em outubro. Mas os encontros, como dizem os estudantes, vão muito além da sala de aula.

Para o agora ex-aluno Paulo Moraes, secretário executivo de Segurança Cidadã do Recife, com décadas de experiência no setor público, a pós funcionou como uma oportunidade de interação e ampliação de repertório. “Além dos ensinamentos dos professores, os alunos se tornaram companheiros da vida. Já temos planos de criar uma ONG e queremos garantir que os aprendizados extrapolem a academia”, diz Moraes.

Ele acredita que o tema de urbanismo social deve ganhar destaque no novo governo, conforme já sinalizou o presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva. “Sabemos que há movimentação em torno do tema no Brasil, que vai precisar se ajustar para reverter indicadores sociais e de exclusão. O urbanismo social não é só moradia e saneamento, mas é tudo que aborda a oportunidade de vida digna ao mesmo tempo. Fiquei feliz de ver que há mais pessoas aptas para ajudar nessa transformação.”

Além disso, Moraes afirma que a parte teórica das aulas colaborou para tirar as ideias do papel de forma ordenada e efetiva. “As aulas sistematizaram os ensinamentos que a gente vê nos projetos ao redor do mundo, me ajudaram a adotar um roteiro prático.”

Durante o curso, 15 estudantes se organizaram e foram à Colômbia para conhecer Medellín, cidade que é referência global em urbanismo social e que conseguiu reduzir drasticamente seus índices de violência por meio da integração de espaços e de outras políticas. A visita foi à EAFIT, universidade privada colombiana, parceira do Laboratório Arq.Futuro de Cidade do Insper.

Liana Feingold, arquiteta e urbanista do ateliê de arquitetura Estar Urbano, de Fortaleza, foi uma dessas alunas. Durante o ano no Insper, ela aproveitou para fazer conexões e trabalhar no projeto DiverCidade, que propõe ser um hub de soluções urbanas, adotando uma tecnologia social focada no desenvolvimento territorial sustentada pelos pilares moradia digna, oportunidade de trabalho e renda e governança local.

“Os desafios agora seguem na implantação do projeto-piloto para que os dados levantados nos períodos pré e pós-ocupação desses territórios possam favorecer a calibragem necessária e que o projeto possa evoluir de forma cada vez mais efetiva, tornando-se escalável, partindo então de Fortaleza para outras cidades brasileiras. O curso de pós-graduação me ajudou a tangibilizar isso”, diz Liana.

 

Diversidade para ampliar repertórios

A turma de 40 alunos foi marcada pela diversidade, tanto em termos geográficos quanto de formação anterior dos inscritos. A classe teve pessoas de diferentes regiões do Brasil, com atuações que vão desde o trabalho como gestores públicos a ativistas de organizações não governamentais, passando por pesquisadores e até funcionários do setor privado.

“São pessoas que dialogam com a perspectiva do urbanismo social”, observa Eliana Sousa Silva, coordenadora da pós-graduação na área, professora do curso e fundadora e presidente da ONG Redes da Maré, estabelecida em 2007 (cujo processo, porém, de criação, remonta a 1997).

A história de Eliana permeia toda a pós e é uma das referências para o urbanismo social. Hoje com 58 anos de idade, a paraibana chegou ao Rio de Janeiro ainda criança, fugindo da seca. Foi morar com os pais e quatro irmãs na favela Nova Holanda, no complexo da Maré. A infância difícil, em meio a problemas financeiros e a ausência de direitos básicos como esgoto e energia elétrica, foi um dos fatores que levaram Eliana a participar de projetos coletivos — primeiro por meio da igreja e depois através de movimentos sociais.

Na mesma época em que se tornou uma liderança comunitária, Eliana ingressou no curso de Letras da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). Depois fez mestrado em Educação e doutorado em Serviço Social pela Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (PUC-Rio) e trabalhou por 32 anos na UFRJ, onde se aposentou, até voltar a dar aulas, exatamente no Insper.

Eliana é também doutora honoris causa pela Queen Mary University, de Londres, e catedrática do Instituto de Estudos Avançados da Universidade de São Paulo (IEA-USP), onde desenvolve um projeto de aproximação da universidade com as periferias.

Até hoje, a maior parte do seu tempo é dedicada à Maré, onde vivem cerca de 140 mil pessoas, a maioria com renda mensal de até 300 reais. Do ponto de vista populacional, o complexo de favelas é maior do que 96% dos municípios brasileiros. Por lá, Eliana desenvolve inúmeros projetos sociais.

Para ela, que compõe o quadro de docentes com outros colegas renomados no assunto, a pós-graduação em Urbanismo Social é uma oportunidade de mobilização, já que no contexto nacional se verifica uma carência de práticas inovadoras na gestão das cidades e de avaliação de impacto sobre a eficiência de políticas públicas para a sua transformação.

Segundo a professora, “o papel do Insper é trazer o contexto de urbanismo social e mostrar a interseccionalidade de diferentes políticas públicas possíveis para transformar uma região”.

 

Projetos para transformar territórios

O objetivo da pós é que as pessoas possam se sentir mais fortalecidas para atuar em projetos de mudança social. “Os alunos ganham com esse curso uma possibilidade concreta de propor e contribuir na formação e no olhar sobre as cidades”, afirma Eliana.

Cada um dos estudantes precisou apresentar um projeto ao final do curso. “A ideia é que nosso tempo na academia leve os alunos a pensarem nos projetos de forma a definir caminhos para mobilização, fazendo melhores escolhas de monitoramento a partir de modelagens para o território e, o mais importante, em conjunto com as comunidades, que devem fazer parte de todo processo de mudanças,” diz.

Na segunda turma da pós-graduação de Urbanismo Social foram apresentados projetos de várias frentes de atuação, desde arte e transformação dos ambientes como forma de mobilização até questões de saneamento, por exemplo.

“Em todos os projetos o percurso é identificar o lugar, entender o desafio, propor uma modelagem, criar um plano de efetivação de mudança, e desenvolver uma proposta de monitoramento das ações, mensurando o impacto do projeto na dinâmica social”, explica Eliana. “Nosso papel é contribuir com instrumentais para essa jornada acontecer.”

 

Terceira turma em seleção

A primeira turma do curso de pós-graduação em Urbanismo Social foi formada no início da pandemia. “Foi uma turma totalmente online e pioneira, que foi fundamental para dar a partida desse importante curso no Insper. A segunda turma foi híbrida e contou com o privilégio dos encontros presenciais. A terceira turma virá para consolidar as trocas possíveis presenciais”, diz Eliana.

As inscrições para a seleção da turma de número três já estão abertas e contam com oportunidade de bolsas. As aulas começam em 1º de fevereiro de 2023. O curso está inserido no Núcleo de Urbanismo Social do Laboratório Arq.Futuro de Cidades e é resultado de uma parceria entre o Insper, o Itaú Cultural e o Laboratório.

 

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