A relevância da territorialização foi destacada no 5º Encontro Nacional de Ensino e Pesquisa do Campo de Públicas, que contou com a participação da professora Ana Diniz
Bruno Toranzo
A professora Ana Diniz, do Insper, foi uma das coordenadoras da sessão temática “Gênero, Políticas Públicas e Divisão Sexual do Trabalho”, no 5º Encontro Nacional de Ensino e Pesquisa do Campo de Públicas (ENEPCP), realizado em Belo Horizonte pela Associação Nacional de Ensino, Pesquisa e Extensão do Campo de Públicas (ANEPECP), de 4 a 6 de setembro. Ao lado de Letícia Godinho de Souza, da Fundação João Pinheiro, e Mariana Mazzini Marcondes, da Universidade Federal do Rio Grande do Norte e coordenadora-geral de gestão de informações da Secretaria Nacional de Cuidados e Família do Ministério do Desenvolvimento e Assistência Social, Família e Combate à Fome, Ana selecionou 13 trabalhos acadêmicos dessa sessão temática apresentados no evento.
“O que ficou evidente nessas apresentações é a importância da territorialização desses problemas para obter a compreensão específica necessária para traçar políticas mais efetivas contra a desigualdade de gênero”, diz Ana. “Em Minas Gerais, por exemplo, há muitas adolescentes que não estudam nem trabalham. Apesar de ser uma questão nacional, observada, portanto, em outros estados, é preciso entender os motivos locais desse problema, envolvendo nesse trabalho os múltiplos atores da sociedade. Municípios, estados e União têm papel relevante na promoção de políticas de igualdade de gênero. Para que esses esforços sejam conduzidos da melhor forma, a articulação federativa é fundamental e pode ser liderada pelo governo federal, preservando o protagonismo dos entes subnacionais.”
O evento de ensino e pesquisa no campo de públicas, realizado na Fundação João Pinheiro, envolveu diferentes áreas que estão se esforçando para compreender problemas públicos e as soluções para enfrentá-los. Por meio da inteligência gerada pelos trabalhos acadêmicos e pelos debates realizados, o objetivo foi gerar insumos para otimizar as políticas públicas, aumentando o impacto delas nas realidades que precisam ser transformadas, com o propósito de alcançar uma sociedade mais justa e inclusiva. Estiveram presentes estudantes de diferentes níveis de formação, como doutorado, mestrado e graduação. A programação incluiu mesas-redondas sobre temas específicos, enriquecendo as discussões ao longo dos três dias do encontro.
Além das discussões sobre como as políticas públicas têm contribuído, ou não, para a superação das desigualdades de gênero, a sessão temática coordenada pela professora do Insper abordou o tema da divisão sexual do trabalho, incluindo suas articulações com a divisão social e racial do trabalho; políticas de cuidado; articulação do trabalho produtivo e reprodutivo; e reflexões sobre trabalho doméstico remunerado e não remunerado. Houve espaço, também, para debater formas de conectar as diferentes áreas de política de gênero, como enfrentamento à violência; saúde das mulheres; assistência social e educação; e autonomia econômica das mulheres.
“O trabalho doméstico recai principalmente sobre as mulheres, que também assumem mais o cuidado de alguém próximo com algum nível de dependência, como crianças, idosos e pessoas com deficiência. Em termos técnicos, é dada a elas responsabilidade pelos trabalhos produtivo e reprodutivo, com obstáculos e muitos problemas de conciliação”, destaca Ana. “Para que as mulheres possam participar do mercado de trabalho em nível de igualdade com os homens, é preciso que haja esse entendimento sobre as múltiplas jornadas de trabalho por parte de todos os envolvidos, incluindo as empresas, que precisam criar soluções que possibilitem às mulheres e aos homens equilibrar todas essas demandas.”