Como proteger os ativos em um cenário de juros altos e de incerteza no cenário internacional
Jacqueline Winandy*
O ano de 2023 vem se caracterizando como um período repleto de notícias e manchetes impactantes, muitas delas trazendo temas novos ou inesperados. Contudo, questões bastante antigas que pareciam estar em modo “stand by” também voltaram à pauta e estão movimentando o noticiário.
No Brasil, também, assuntos que estiveram no radar em anos anteriores voltaram à tona em 2023, com uma sinalização bastante clara de que importantes mudanças devem acontecer por aqui. Entre eles podemos destacar a tributação dos investimentos no exterior, o entendimento em relação à figura do trust, a tributação dos fundos exclusivos locais, a tributação de lucros e dividendos e o potencial aumento no imposto de sucessão.
Na esfera econômica, os juros seguem em um patamar elevado apesar do início do ciclo de cortes e, ao que tudo indica, devemos encerrar o ano com a inflação acima da meta. Além disso, boa parte das companhias se encontra em situação financeira delicada, devido ao alto custo da dívida e à seletividade do lado dos bancos e instituições financeiras na concessão de crédito. Contudo, vale mencionar a expansão da atividade acima do esperado, liderada pelo setor agropecuário. Para 2024, estarão no radar a troca prevista na diretoria no Banco Central e os desdobramentos da equação fiscal, o que justifica a pressa do governo em atacar boa parte dos temas mencionados.
No exterior, na esfera econômica, estamos acompanhando a dificuldade dos bancos centrais no combate à inflação, com os juros superando máximas que não ocorriam há décadas. Nos Estados Unidos, os juros atingiram a banda de 5,25% a 5,5%, enquanto na zona do euro chegou a 4,00%, patamar surpreendente e que pode se estender até meados de 2024, cenário pouco esperado nas projeções realizadas ao longo de 2022.
É importante lembrar que no cenário pré-pandemia o combate era contrário, no sentido de buscar “gerar inflação”. Com isso, passamos de um período longo de juros muito baixos em nível global, e até negativos em certas regiões, para o panorama atual.
Para nós, brasileiros, o cenário de juros altos não é uma grande novidade, apesar dos impactos relevantes em nossa economia. Porém, quando olhamos para as economias desenvolvidas, esse patamar de juros traz riscos conjunturais relevantes, como a ameaça de uma possível recessão.
Olhando para os Estados Unidos, a forte demanda do lado dos consumidores, que seguem confiantes em relação aos próximos trimestres, preocupa. Alguns sinais de arrefecimento em fatores que impactam o consumo já começam a aparecer, como o percentual de poupança das famílias caindo para o menor nível desde 2008, salários começando a apresentar crescimento real negativo em alguns dos setores e o aumento da inadimplência.
A demanda, ainda resiliente, coloca em risco o esperado progresso da desinflação na economia americana. Os Estados Unidos representam aproximadamente ¼ da economia global e possuem aproximadamente 70% do seu PIB composto pelo consumo interno. Considerando este cenário, uma desaceleração no consumo e uma recessão, mesmo que leve, poderia trazer um impacto significativo não apenas para o país, mas também para a economia global como um todo.
Quanto aos possíveis impactos desse desdobramento para o Brasil, é preciso lembrar que, em um cenário de estresse internacional, os países emergentes costumam sofrer, devido à fuga de capital e de investimentos. Em momentos de maior incerteza, os investidores costumam buscar os “safe havens”, o que poderia trazer impactos locais em relação à precificação dos ativos e também para a nossa moeda.
A multiplicidade de temas, tanto no âmbito político quanto econômico (local e internacional), reforça a importância do planejamento patrimonial e a necessidade de as famílias olharem para essa pauta o quanto antes. Isso lhes permitirá seguir com calma nos debates junto aos assessores, tanto tributários quanto financeiros, tomando as decisões aplicáveis de forma organizada e evitando contratempos.
Entre as pautas para reavaliação, compartilho os principais tópicos que meus clientes têm revisado no atual cenário:
O cenário está em constante evolução e a inércia será a pior inimiga. Minha dica é não subestimar a importância de agir agora, pois as consequências no futuro podem ser irreversíveis.
*Jacqueline Winandy atua como client advisor no grupo suíço Lombard Odier, focado em gestão de patrimônio, com posições anteriores sempre dentro do universo de wealth management. É administradora com minor em Finanças, formada pelo Insper, e profissional CFP.