A Typcal, que já produz substitutos de carne feitos à base de ervilha, faz parte do programa de residentes do Insper, que dá suporte aos empreendedores no desenvolvimento de startups
Bruno Toranzo
A Typcal, uma foodtech de produtos à base de plantas, foi criada pelos empreendedores Paulo Ibri, Eduardo Sydney e Guilherme Sortino, este último ex-aluno do Insper. A startup faz parte do programa de residentes do Hub de Inovação e Empreendedorismo do Insper, apoiando suas ações como parceira nos eventos realizados pela aceleradora FOKS. “Trabalhamos com proteína alternativa. Nossos produtos, distribuídos no Brasil inteiro, são substitutos de carne feitos à base de ervilha, imitando o gosto e a textura da proteína animal. Estamos desenvolvendo uma nova proteína baseada em cogumelos”, explica Ibri, CEO da empresa.
A primeira carne do país baseada em cogumelos, também chamada de mush-based, está sendo lançada em agosto por meio de tecnologia própria que utiliza o micélio, ou seja, a parte vegetativa do fungo formada por hifas emaranhadas, que se assemelham às raízes das plantas. A foodtech, por meio de processo próprio que foi patenteado, produz as proteínas a partir do cultivo dos micélios em ambiente controlado — em biorreatores similares aos usados na produção de cervejas.
A Typcal vende seus produtos para grandes redes de supermercado e para o mercado de food service, como restaurantes e hamburguerias. Como o gosto e a textura são parecidos com a proteína tradicional, os produtos, como mini crispy e hambúrguer, estão voltados para o público em geral, e não apenas vegano. “Utilizamos como referência duas startups estrangeiras, a Beyond Meat e a Impossible Foods, por causa do pioneirismo delas e do tipo de tecnologia adotado”, afirma Ibri. No próximo ano, a startup abrirá uma rodada Série A com o objetivo de captar 30 milhões de reais. No ano passado, a Typcal levantou 4 milhões de reais na rodada seed, tendo utilizado parte desse capital para tecnologia e P&D.
“O mercado de proteína alternativa está crescendo muito nos Estados Unidos e na Europa. Um dos motivos é a limitação que o mercado de proteína tradicional vai encontrar nos próximos anos, já que não haverá carne de origem animal para todo mundo”, diz Ibri. Em 2040, 60% da carne consumida no mundo será de origem vegetal ou cultivada em laboratório, de acordo com umrelatório recente da consultoria ATKearney.
A pecuária é apontada como uma das principais responsáveis pelo aquecimento global. O número elevado de cabeças de gado, que continua em expansão para atender a uma demanda crescente por carne, responde atualmente por cerca de 18% das emissões de gases de efeito estufa (GEE). O gás metano, classificado como GEE, é emitido pelos bovinos como consequência da fermentação entérica — a formação de gases — que ocorre no processo digestivo desses animais. O Brasil tem o maior rebanho do mundo, com quase 225 milhões de bois e vacas, de acordo com o IBGE.
O escritório da foodtech está no Hub de Inovação e Empreendedorismo do Insper. O programa de residentes permite que empresas compostas por alunos ou ex-alunos sem lugar fixo de trabalho, ou em fase de desenvolvimento inicial do negócio, possam usar para trabalhar o espaço do Hub e demais instalações e laboratórios da instituição de ensino. O objetivo é contribuir para o desenvolvimento de soluções inovadoras que resolvam problemas reais das organizações e da sociedade.
“Não fazemos parte das startups aceleradas pela FOKS, mas estamos inseridos no ecossistema de inovação do Insper, convivendo com outras empresas e tendo acesso a investidores qualificados”, destaca Ibri. “Essa troca de experiências é relevante para o crescimento das startups, que estão em busca de conhecimento em todas as etapas do negócio.”