Realizar busca

Diferenciar imagens reais e falsas será uma tarefa cada vez mais complexa

É preciso um olhar atento aos detalhes para identificar fotos geradas por inteligência artificial e não ajudar a disseminar desinformação

É preciso um olhar atento aos detalhes para identificar fotos geradas por inteligência artificial e não ajudar a disseminar desinformação

Foto falsa de Trump sendo preso
Na primeira imagem, o ex-presidente Donald Trump carrega um cassetete na cintura e parece ter uma terceira perna. O texto nos bonés dos policiais não tem significado algum

 

Nos últimos meses, as imagens geradas por inteligência artificial tiveram um avanço notável. Elas são criadas por algoritmos de aprendizado de máquina que são treinados em um grande conjunto de imagens para aprender as características — texturas, cores e formas — de diferentes objetos, usando essas informações para gerar novas imagens.

O problema é que, com as ferramentas disponíveis, é possível criar facilmente imagens falsas que parecem autênticas, o que pode ajudar a disseminar desinformação. Softwares como o DALLE-2 (criado pela OpenAI, a empresa que desenvolveu o ChatGPT), o Midjourney e o Stable Diffusion permitem a qualquer pessoa, sem conhecimento técnico, gerar imagens incrivelmente realistas, bastando digitar um simples comando de texto (prompt).

 

Foco nos detalhes

Para não tomar gato por lebre, uma reportagem publicada recentemente no site do rádio francês RFI traz dicas de como reconhecer imagens geradas por algoritmos. Uma das recomendações diante de fotos suspeitas é realizar uma pesquisa reversa em um mecanismo de buscas, como o Google Images, para verificar suas ocorrências anteriores e pesquisar a fonte das imagens.

Contudo, observa a reportagem, a melhor maneira de identificar uma imagem criada por inteligência artificial é abrir bem os olhos e focar nos detalhes. “Por exemplo, as IAs ainda têm muitos problemas para gerar reflexos ou sombras. O grão da imagem costuma ser muito particular, os fundos geralmente são desfocados e, se houver textos, eles não têm nenhum significado.”

O texto exemplifica com fotos divulgadas em março nas redes sociais mostrando o ex-presidente americano Donald Trump sendo preso em Nova York, às vésperas de comparecer a um tribunal em Manhattan para responder às acusações envolvendo o suposto caso de suborno a uma atriz pornô e um esquema de falsificações de registros. As imagens foram compartilhadas no Twitter por Eliot Higgins, fundador do coletivo de investigações Bellingcat.

As fotos mostram Trump reagindo furiosamente à abordagem policial. Olhando atentamente uma das imagens, porém, é possível perceber que as inscrições nos bonés dos policiais não significam absolutamente nada, que o ex-presidente carrega um cassetete na cintura e que ele parece ter… três pernas. Com tais pistas, não era difícil concluir que se tratava de imagens falsas — até porque, à data de sua publicação, Trump não tinha sido preso e sequer havia comparecido ao tribunal de Nova York para prestar depoimento.

 

Fotos falsas do papa Francisco
O Papa Francisco circula no Vaticano com um casaco moderno, em fotos criadas por um artista que usa software de inteligência artificial para vestir celebridades de maneira pouco usual

 

Algumas imagens criadas por inteligência artificial parecem mais travessuras juvenis, como uma foto do Papa Francisco usando um estiloso casaco branco. A imagem foi reproduzida como verdadeira por diversos veículos de comunicação, que depois tiveram de se retratar. Na realidade, a foto foi criada por um artista dos Estados Unidos chamado Pablo Xavier, que tem usado o programa Midjourney para vestir figuras públicas com roupas inusitadas.

Outras imagens fictícias que ganharam as redes sociais recentemente mostram os protestos em Paris contra o presidente francês, Emmanuel Macron, por causa de seu projeto para aumentar a idade de aposentadoria no país de 62 para 64 anos. Várias fotos divulgadas nas redes sociais mostram Macron fugindo de manifestantes furiosos e desolado em meio ao caos provocado pela onda de protestos.

 

Fotos falsas do presidente Emmanuel Macron
O presidente francês, Emmanuel Macron, aparece em fotos falsas fugindo de manifestantes contrários ao aumento da idade de aposentadoria no país

Um dedo a mais

No entanto, conforme observa a reportagem do RFI, os geradores de imagens artificiais ainda não são bons o suficiente para retratar detalhes da figura humana. “Eles também têm problemas para reproduzir dentes, cabelos e dedos. No início de fevereiro, as imagens de mulheres abraçando policiais durante um protesto contra a reforma da previdência viralizaram, mas foram rapidamente identificadas como falsas porque, em uma delas, o policial tinha… seis dedos.”

Esses deslizes mostram que a inteligência artificial ainda tem espaço para melhorias, mas, na velocidade com que está evoluindo, pode rapidamente se tornar impossível distinguir imagens geradas por IA e imagens reais, segundo Guillaume Brossard, especialista em desinformação e fundador do site Hoaxbuster, uma plataforma colaborativa criada para denunciar fake news. Ele ressaltou que a diferença entre a primeira e a quinta versão do software Midjourney, lançadas em intervalo de poucos meses, é “absolutamente impressionante”. O especialista prevê que dentro de alguns anos, ou talvez em alguns meses, não conseguiremos mais perceber a diferença entre imagens reais e imagens criadas por inteligência artificial.

Como corolário dessa evolução, as imagens podem semear dúvidas mesmo sendo reais. Por exemplo, uma foto de uma jovem detida em Paris durante as manifestações contra a revisão da aposentadoria foi imediatamente apontada pelos internautas como sendo criada por inteligência artificial, até o autor da foto em questão vir a público para confirmar que a imagem era verdadeira — corroborou sua afirmação mostrando a cena captada de diferentes ângulos.

Aliás, essa é outra dica para identificar imagens criadas por inteligência artificial.

“Se há uma coisa que as IAs não conseguem fazer, e que não estão nem perto de saber fazer, é reproduzir uma cena de vários ângulos”, disse Brossard.

Para o especialista, diante das novas tecnologias que vão trazer desinformação para uma nova era, o melhor comportamento para se proteger é olhar criticamente para as imagens que tendem a causar escândalo ou despertar fortes emoções. Com o avanço vertiginoso da inteligência artificial, no entanto, Brossard reconhece que talvez não seja suficiente duvidar de tudo.  “Hoje, as pessoas só acreditam no que querem acreditar. Elas não se importam se o que lhes é mostrado é verdade ou não. Esse é o problema”, lamenta o fundador do Hoaxbuster.

 

Este website usa Cookies

Saiba como o Insper trata os seus dados pessoais em nosso Aviso de Privacidade, disponível no Portal da Privacidade.

Aviso de Privacidade

Definições Cookies

Uso de Cookies

Saiba como o Insper trata os seus dados pessoais em nosso Aviso de Privacidade, disponível no Portal da Privacidade.

Aviso de Privacidade