A principal função do Data as a Service (DaaS) é fornecer insights para ajudar a sua empresa. Veja exemplos de aplicações disponíveis no mercado
Admar Concon-Neto*
Hoje vamos falar sobre Dados como um Serviço, do inglês Data as a Service (DaaS). Podemos dizer que esse conceito está relacionado com soluções baseadas em nuvem, que armazenam, gerenciam e, principalmente, analisam os dados, fornecendo insights valiosos para o negócio.
Por estar associado com aplicações na nuvem, o DaaS acaba se ligando ao conceito de Software como um Serviço (do inglês Software as a Service, SaaS), pois é comum uma empresa oferecer um DaaS dentro de uma plataforma SaaS. Existe também a tecnologia de Dados como um Produto (do inglês Data as a Product, DaaP), que não se confunde com DaaS, mas deixaremos para focar nele em outra oportunidade. Nossa, quanta sigla…
E por que você deveria continuar lendo este texto? O fato de abordar a área de dados já justifica a leitura, pois é difícil imaginar um negócio em tecnologia que não utilize dados. A motivação principal é que o DaaS tem a missão de fornecer insights para ajudar a sua empresa. De que adianta ter os dados e não saber tirar proveito deles? Se você não precisa que um terceiro forneça esses insights, se já tem um time dentro da sua empresa que faz esse trabalho, então talvez não vá usá-lo. Mas, mesmo que você não venha a usar o DaaS, é interessante saber como ele funciona.
Como são muitas tecnologias, de fato é difícil ficar a par de tudo, então escolher o que iremos ler também é um desafio. Para ajudar, existe uma empresa chamada Gartner que faz um relatório sobre a evolução e as expectativas sobre as tecnologias em função do tempo. É o que eles chamam de Hype Cycle. Segue um gráfico de 2018. Note que o DaaS estava no pico de expectativas. De acordo com a metodologia, em 5 a 10 anos (ou seja, a partir de 2023), o DaaS estaria no seu platô de produtividade. Não vamos entrar em detalhes sobre essa metodologia, mas você pode ver a quantidade de vezes que a palavra Data aparece. Não são poucas, e ilustra bem o aquecimento que a área de dados vem experimentando nos últimos anos.
Agora que já contextualizamos o DaaS, vamos ver alguns exemplos de aplicação, que podem ajudar a visualizar como você pode usar a tecnologia em proveito próprio. Vou começar com um case governamental. A empresa que desenvolveu o DaaS foi o Serpro, uma empresa pública brasileira (ou seja, 100% do capital é estatal). De acordo com seu site, é a maior empresa pública de tecnologia de informação do mundo. Nada mal.
Eles definem seu DaaS como “Um novo conceito em serviço”, que “…inova ao oferecer uma infraestrutura para acesso on-line às informações atualizadas de governo, que auxiliam na tomada de decisões”. A ferramenta que eles construíram é um DaaS que tem como objetivo atender órgãos da administração pública federal, estadual ou municipal. Ou seja, é um relacionamento B2G (Business to Government).
A imagem a seguir ilustra bem como funciona essa ferramenta e serve de parâmetro para entender um DaaS qualquer.
À sua direita, temos o Data Lake, que é a grande fonte de dados. Imagine que todos os dados da sua empresa inicialmente vão para o Data Lake. Muitas vezes, eles não estão estruturados, precisam de tratamento para ser utilizados. Imagine que seu cliente escreveu a cidade de São Paulo como saopaulo, ou colocou o CEP errado, ou uma nota fiscal foi preenchida incorretamente em algum campo etc. Enfim, o Data Lake teria os “dados crus”. O tratamento dos dados é feito por meio dos ETLs, que são os módulos do software responsáveis pela Extração, Transformação e Carregamento dos dados (do inglês Extract, Transform, Load, ETL). No diagrama está indicado dois ETLs (cliente e servidor).
Agora entra o cérebro do DaaS, a parte que ele fornece insights para a sua empresa. A parte de descoberta dos dados (Data Discovery), mineração dos dados (Data Mining) e inteligência de negócios (Business Intelligence). Ela está conectada ao servidor da aplicação. São nesses módulos que o DaaS mostra sua força. Imagine que seus clientes colocam reclamações no seu site, sobre seus produtos e serviços. O módulo de Data Mining pode ter uma ferramenta de Text Mining (mineração de texto) que extraia, das reclamações dos clientes, pontos de melhoria para o seu negócio. Por exemplo, das 2.000 reclamações da última semana, o Text Mining identificou que os clientes escreveram “aplicativo do celular não permite parcelar a compra” em 1.750 reclamações. Então, esse módulo geraria um relatório que ajudaria você a priorizar os problemas que iria resolver. Nesse caso fictício, corrigir o aplicativo do celular para permitir parcelamento de compras seria uma prioridade.
Foi só um exemplo. Vários outros insights poderiam ser encaminhados, dependendo da natureza do negócio. À esquerda temos o cliente. No DaaS do Serpro, seria um órgão estadual, uma secretaria de uma prefeitura, ou um órgão federal. O cliente acessaria na nuvem a aplicação, os dados desejados, os relatórios com insights etc.
Para finalizar, eles dizem muito bem que “…O acesso aos dados viabiliza auditorias e diversas ações que apoiam a gestão e a tomada de decisão dos órgãos”. É bacana ver que os órgãos públicos também podem usar o DaaS.
Agora vamos ver um exemplo de DaaS para uma startup que trabalha com inteligência artificial, a Amplyfi. Ela precisava testar um novo produto que tinha desenvolvido, e para esse teste precisaria de uma quantidade massiva de dados da internet. Como uma startup, ela teve que tomar uma decisão: desenvolver a solução para testes dentro da empresa (solução in-house), ou comprar um DaaS de terceiros. Ela optou por comprar o DaaS. Não entrarei em detalhes dos produtos, que podem ser consultados nos sites das empresas, mas posso adiantar que, nesse caso, por se tratar de muitos dados de muitas fontes distintas, existiam desafios de ETL, bem como de Data Mining e Data Discovery, que são módulos importantes vistos acima.
Nem sempre é fácil tomar a decisão de comprar um DaaS, pois às vezes a solução do terceiro precisa de tantos ajustes, que você acaba se arrependendo de não ter feito in-house ou com parceiros. Mas quando a solução se encaixa, o ganho de tempo para colocar o seu produto à disposição dos clientes pode ser um diferencial muito interessante.
Existem diversos materiais bacanas para ler sobre o assunto. Neste texto há uma abordagem de alguns cases de DaaS bem legais. Este outro discute benefícios e tendências, neste artigo temos algumas definições. Enfim, o assunto é um dos conceitos em voga na área de dados. Eu já estava me esquecendo: em 2009, The Wall Street Journal publicou um artigo sobre o DaaS, intitulado “The New Information Goldmine”. Vale a pena ler.
Esperamos que tenha gostado do texto e que ele possa ter ajudado nos seus próximos passos. Bons negócios e, caso precise de uma ajuda para desenvolver seu DaaS, estamos à disposição.
Admar Concon-Neto é fundador da Northern, cofundador do Wabafood, mentor de startups no Founder Institute, mentor na disciplina Resolução Eficaz de Problemas no Insper e professor de desenvolvimento web e data science no Le Wagon.