Quem acompanha as transformações da sociedade e da tecnologia se adapta mais facilmente aos novos cenários, diz o advogado Rodrigo Borges, do Conselho Alumni
Leandro Steiw
Nenhuma carreira é tão tradicional que se torne imutável. O advogado Rodrigo Caldas de Carvalho Borges especializou-se em Direito Societário, no qual atuou por quase uma década, e se interessou pelo mercado de criptoativos. Até hoje, poucos conseguem explicar como funciona a blockchain. Na metade da década passada, então, a tecnologia do bitcoin estava restrita a feiras de tecnologia e a investidores tão jovens quanto arrojados. “Comecei a estudar bastante o tema dos criptoativos, desenvolvendo uma nova forma de enxergar o Direito”, diz Borges, membro do Conselho Alumni do Insper.
A partir de 2016, ele redirecionou o seu futuro. “Eu observava que o mercado das minhas experiências profissionais mantinha uma visão mais tradicional”, afirma. “Queria olhar o novo, que não é só a tecnologia, mas a maneira de se relacionar com o cliente, sendo mais proativo e parceiro e gerando oportunidades. Muito aos moldes do papel do advogado nos Estados Unidos, que hoje acaba sendo um hub de negócios entre os clientes.”
Nos anos seguintes, Borges cursou programas de aperfeiçoamento em blockchain e fintechs na Universidade de Oxford e no Instituto de Tecnologia de Massachusetts (MIT). “Muito por conta desses meus estudos, fui convidado pelo Parlamento Europeu, em 2018, para debater a regulação de criptoativos”, conta. A especialização consolidou-se com o livro Criptomoedas no Cenário Internacional, em coautoria com a advogada Tatiana Revoredo, com quem ministrou no Insper o curso de educação executiva Blockchain: Muito Além das Criptomoedas.
Para Borges, chegara a hora de montar o próprio escritório, o CB Associados, adequado à sua nova percepção da profissão. “O Direito e as leis não mudam tão rapidamente, mas a sociedade e a tecnologia estão em constante transformação”, afirma. “Acredito que, enquanto seres humanos, também precisamos estar sempre em transformação para nos adaptarmos aos novos cenários, ao que vem acontecendo mundo afora.” Em 2022, outro passo adiante: uniu-se ao escritório de advocacia Peloso Araujo, abrindo o atual CBA Carvalho Borges Araujo Advogados.
A curiosidade dos consumidores por criptomoedas, blockchain e fintechs esquenta e esfria conforme os movimentos do mercado. “O interessante é que, a cada novo ciclo de crescimento, a tecnologia e o mercado se fortalecem”, diz. “No passado, só existiam startups, empresas muito incipientes. Agora, já ouvimos nomes como Itaú, BTG, XP, Nubank e Mercado Livre se aventurando nesse mercado, mostrando como há, de fato, um potencial enorme para ser explorado.”
O crescimento do segmento de criptoativos oferece um exemplo do dinamismo das profissões. Borges terminou a graduação em 2009, mesmo ano da primeira mineração de bitcoin e auge da recessão mundial causada pela crise financeira iniciada em 2007. “Naquela época, pouco se falava em Direito Digital, que agora é um tema bastante comum”, afirma. De fato, no Brasil, os primeiros marcos legislativos na área são posteriores, como a Lei 12.737/2012, sobre delitos informáticos, e o Decreto 7.962/2013, sobre comércio eletrônico. O marco civil da internet é de 2014.
Certas escolhas parecem claras com o tempo. Mas não era assim quando Borges escolheu o curso de graduação. “Quando fui prestar vestibular, tinha dúvida entre o Direito e a Psicologia, porque cultivava aquele imaginário de que a Psicologia era uma forma de poder contribuir com as pessoas”, recorda. No entanto, ele não tinha convicção de que lidaria bem com a carga emocional envolvida na profissão de psicólogo, à medida que buscava informações sobre o curso.
Acabou optando pelo Direito na Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, onde ingressou em 2005. “Fui muito feliz na minha escolha e acabei me encontrando no Direito Empresarial”, afirma. “É uma atividade que tem uma base de Direito muito sólida, mas exige um olhar de negócios e uma atenção às novidades, à economia, ao que está acontecendo no mundo. E isso me dá um prazer enorme, porque me permite acompanhar as transformações.”
O mestrado profissional em Direito Societário no Insper, concluído em 2013, foi a primeira pós-graduação de Borges e o início de uma relação que chegou ao Conselho Alumni. “Meu irmão fez um MBA em Administração no Insper alguns anos antes e me recomendou”, diz. “Achei legal aquela visão da faculdade, que conectava a parte acadêmica com o mercado de trabalho. Anos depois, pouco antes da pandemia da covid-19, me convidaram para ministrar um curso de blockchain e criptoativos. Foi sensacional fazer essa transição de aluno a professor dentro da mesma instituição.”
Doador e mentor no Programa Alumni de Mentoria, projeto de mentoria vinculado ao Programa de Bolsas, Borges acredita que a educação pode transformar as pessoas, a sociedade e o mundo — mesmo que os reflexos dos investimentos demorem a aparecer. “Tenho uma ligação muito grande com a instituição e ajudo sempre que posso, porque vejo a intenção de mudar”, afirma. “Os projetos são claros e transparentes, e você sabe para onde vai o seu apoio. Neste caso, para as bolsas para estudantes. Isso dá segurança e ânimo para ajudar, que é a nossa forma de retribuir à sociedade.”