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A trajetória acadêmica e profissional do paulistano Bruno Kawaoka Komatsu é marcada por uma interessante intersecção entre diferentes áreas do conhecimento. Graduado em Ciências Sociais pela Universidade de São Paulo em 2006, ele construiu uma carreira que combina métodos quantitativos com análise social, culminando em um mestrado (2013) e doutorado (2019) em Teoria Econômica pela Faculdade de Economia e Administração da USP. “Acho que no final tudo acabou convergindo: a matemática que estudei no início, as ciências sociais e depois a economia. O que parecia disperso se alinhou de forma muito positiva”, reflete Bruno sobre seu percurso.

 

Durante sua formação, ele teve experiências significativas que moldaram sua carreira, como a participação no Programa de Educação Tutorial (PET) durante a graduação e o trabalho no Centro Brasileiro de Análise e Planejamento (Cebrap). Foi no mestrado, sob orientação do professor Naercio Menezes Filho, que Bruno desenvolveu sua pesquisa sobre salário-mínimo e desigualdade, estabelecendo uma parceria acadêmica que perdura até hoje. No doutorado, orientado pelo professor Raphael Corbi, expandiu seus horizontes de pesquisa ao estudar o impacto da mídia evangélica nas adesões religiosas no Brasil.

 

Atualmente, como assistente de pesquisa no Núcleo Ciência pela Infância (NCPI) do Insper e professor no Programa Avançado em Gestão Pública (PAGP), Bruno dedica-se a estudos sobre desenvolvimento infantil e políticas públicas. Seu trabalho atual com uma coorte (grupo que compartilha uma característica em comum) de bebês em Ribeirão Preto exemplifica seu interesse em compreender as raízes da desigualdade social por meio da aplicação de metodologias quantitativas rigorosas.

 

A seguir, conheça mais sobre a trajetória de Bruno Kawaoka Komatsu.

 

 

Das Ciências Exatas às Sociais

 

Minha trajetória acadêmica começou de forma um pouco inusitada. Inicialmente, ingressei no curso de Matemática na Unicamp, onde estudei por cerca de um ano e meio. Na época, percebia o mercado como muito restrito para matemáticos, o que me levou a repensar minha escolha. Depois de conversar com amigos que estudavam Ciências Sociais na PUC-SP, comecei a me interessar por essa área. O que me atraiu foi perceber como eles abordavam questões e problemas sociais relevantes para a vida das pessoas.

 

Venho de uma família onde minha mãe trabalhou como médica sanitarista na prefeitura de São Paulo, na área de tuberculose, e meu pai foi arquiteto. Quando optei por Ciências Sociais, eles não estranharam tanto, pois tinham amigos que haviam seguido esse caminho. No entanto, como não é uma carreira tão definida quanto medicina ou arquitetura, por exemplo, entendo que havia por parte deles uma preocupação natural — que eu mesmo compartilhava — sobre quais seriam as possibilidades profissionais nesse campo.

 

 

A descoberta da pesquisa acadêmica

 

Durante meu curso de graduação em Ciências Sociais na Universidade de São Paulo, um momento crucial foi minha participação no PET (Programa de Educação Tutorial), um grupo de iniciação científica do Ministério da Educação. Foi ali que comecei a me envolver com pesquisa de forma mais séria. Realizamos um projeto interessante: uma pesquisa sobre o perfil dos alunos da própria faculdade, investigando suas motivações para ingressar no curso e sua participação em movimentos estudantis.

 

Essa experiência me levou ao Cebrap (Centro Brasileiro de Análise e Planejamento), onde comecei como estagiário ainda durante a graduação, por meio da indicação de um professor do PET que trabalhava lá. No Cebrap, me envolvi com análises quantitativas sobre mercado de trabalho. No entanto, percebi que as análises que fazíamos eram relativamente simples, pois em Ciências Sociais não tínhamos uma formação robusta em métodos quantitativos. Sentia que me faltava instrumental para realizar análises mais complexas e responder a questões causais.

 

 

A transição para a economia

 

Foi essa percepção que me levou ao mestrado em Economia na FEA-USP, onde fui orientado pelo professor Naercio Menezes Filho. Durante o mestrado, desenvolvi uma pesquisa sobre a influência do salário-mínimo na dispersão dos salários no mercado de trabalho. Foi um período intenso, especialmente no primeiro ano, pois estava mudando de área. Consegui me dedicar integralmente aos estudos graças a uma bolsa da Fapesp e a algumas economias que havia feito.

 

Durante esse período de transição, percebi como minha formação inicial em matemática, que parecia ter ficado para trás, acabou sendo muito útil. O mestrado em economia me abriu diversas possibilidades profissionais, e embora meu interesse principal fosse a pesquisa, estava aberto a outras oportunidades. Por exemplo, cheguei a considerar uma posição no Itaú Social na área de avaliação de impacto de programas sociais. Era fascinante ver como os métodos quantitativos da economia podiam ser aplicados para entender e avaliar questões sociais complexas — justamente o que me havia atraído inicialmente para as Ciências Sociais.

 

 

O início no Insper e o doutorado

 

No final do mestrado, em 2013, surgiu uma oportunidade como analista de pesquisa no Insper, no então chamado Centro de Políticas Públicas, coordenado pelo professor Naercio. Depois de trabalhar um tempo nesse centro, senti necessidade de me aprofundar ainda mais e decidi fazer o doutorado na FEA-USP, que iniciei em 2015.

 

No doutorado, desenvolvi um trabalho bem diferente dos meus estudos anteriores, investigando o impacto da mídia evangélica sobre as adesões religiosas no Brasil, com foco específico na Igreja Universal do Reino de Deus. Esse tema surgiu durante uma das primeiras disciplinas que cursei, sobre inferência causal, onde tive contato com diversos artigos que buscavam estimar o impacto da religião sobre diferentes aspectos sociais.

 

Em conversas com meu orientador, o professor Raphael Corbi, que já tinha essa ideia, eu me interessei em estudar como a mídia evangélica influenciava o crescimento das adesões religiosas no Brasil — um fenômeno que vem se intensificando há algumas décadas. O trabalho se concentrou em analisar o impacto da expansão da Rede Record, pertencente à Igreja Universal, sobre o crescimento do número de evangélicos nas diferentes regiões do país. Foi um estudo que me permitiu aplicar métodos sofisticados de inferência causal para entender um fenômeno social complexo e atual.

 

 

A experiência como professor

 

Embora sempre tenha me identificado mais com a pesquisa, comecei a atuar como professor no Programa Avançado em Gestão Pública (PAGP) do Insper em 2020, ministrando uma disciplina sobre uso de evidências disponíveis. Esta experiência tem se mostrado incrivelmente enriquecedora, tanto em termos de conhecimento quanto de satisfação pessoal.

 

É especialmente gratificante trabalhar com uma turma tão diversificada, com alunos de diferentes regiões do Brasil e variados históricos profissionais. A heterogeneidade de conhecimentos em relação a dados quantitativos representa um desafio interessante — temos desde pessoas que nunca tiveram contato com estatística até profissionais com sólida formação em Engenharia ou Economia.

 

O mais recompensador é ver como os alunos, especialmente aqueles vindos das ciências humanas, conseguem superar o receio inicial e desenvolver habilidades com dados quantitativos. Cada um traz insights valiosos a partir de sua própria experiência, tornando as aulas um espaço rico de aprendizado mútuo.

 

 

Atividades atuais no Insper

 

O centro de pesquisa que foi a minha porta de entrada no Insper passou por algumas transformações e atualmente se chama Núcleo Ciência pela Infância (NCPI). O foco principal são as pesquisas relacionadas à primeira infância, e desde 2021 colaboramos intensamente com o Centro Brasileiro de Pesquisa Aplicada à Primeira Infância (CPAPI).

 

O Insper tem se mostrado um ambiente excelente para desenvolver pesquisas. Além da infraestrutura física, contamos com equipes de suporte eficientes e pesquisadores excepcionais em suas áreas. A interação e troca de conhecimentos são muito ricas, e a instituição demonstra um forte compromisso com o desenvolvimento da pesquisa.

 

 

Perspectivas e projetos futuros

 

Atualmente, estou envolvido em um projeto que considero extremamente relevante: o estudo de uma coorte de bebês em Ribeirão Preto, nascidos entre julho de 2023 e março de 2024. Estamos investigando como fatores como mudanças climáticas afetam o desenvolvimento infantil. Esse trabalho é especialmente importante porque aborda a base da desigualdade social — as experiências e condições de vida durante a primeira infância têm impactos que se amplificam na vida adulta.

 

Para o futuro, sonho em ver essa coorte se desenvolver no longo prazo, compreender os fatores de risco e proteção que influenciam o desenvolvimento das crianças. Um objetivo maior seria ver o Brasil desenvolver uma coleta sistemática de dados sobre desenvolvimento infantil em larga escala, algo que ainda não temos de forma abrangente no país.

 

Olhando para trás, vejo que minha trajetória aparentemente dispersa — da Matemática às Ciências Sociais e depois à Economia — acabou convergindo de forma muito positiva. A parceria com o professor Naercio, que já dura mais de uma década, tem sido fundamental nesse percurso, proporcionando inúmeras oportunidades de aprendizado e crescimento profissional.

 



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