A professora Graziela Tonin, coordenadora do curso de Engenharia de Computação do Insper, ministrou um workshop intitulado “Sustainable Development, Managing Technical Debt”, durante a OOP Conference, realizada em Munique, na Alemanha, de 3 a 7 de fevereiro. “Apresentamos um modelo que pode auxiliar empresas a identificar, gerenciar e mitigar a dívida técnica”, disse Graziela, que realizou o workshop em parceria com o consultor americano Joseph Yoder.
Dívida técnica é um conceito da engenharia de software que se refere ao custo adicional gerado quando soluções imaturas são adotadas no desenvolvimento de um sistema, em vez de implementar a melhor solução desde o início. Como um empréstimo financeiro, essa “dívida” precisa ser “paga” posteriormente, geralmente exigindo refatoração, ou reescrita de código.
Essa dívida pode se manifestar de diferentes formas: pode ser deliberada, quando a equipe conscientemente escolhe uma solução mais rápida para atender um prazo; inadvertida, resultante de práticas inadequadas de desenvolvimento ou falta de experiência; ou inevitável, causada pela evolução natural do software e mudanças no ambiente tecnológico.
Exemplos comuns incluem código imaturo, falta de documentação, testes inadequados, uso de tecnologias obsoletas e decisões de arquitetura inconsistentes. As consequências da dívida técnica não gerenciada são severas: maior dificuldade de manutenção e impacto em funcionalidades, custos crescentes de desenvolvimento, menor velocidade para implementar novas funcionalidades e aumento da complexidade e impacto direto no ciclo de vida do software.
No workshop, Graziela e Yoder apresentaram um modelo para auxiliar empresas na identificação, gestão, priorização, monitoramento, pagamento e mitigação desse problema, enfatizando a importância de documentar a dívida técnica e estabelecer um plano sistemático para “pagá-la” por meio de refatoração e melhorias contínuas do código. Adicionalmente, discutiram e apresentaram alguns exemplos do impacto nos negócios, bem como no projeto, no código e na equipe. Eles também apresentaram algumas dicas de boas práticas de desenvolvimento de software, como seguir padrões de desenvolvimento e de arquitetura, ter indicadores claros e tomar decisões guiadas por dados, formas e sugestões de como e quando pagar essas dívidas. E, por fim, trouxeram algumas discussões e exemplos sobre como ferramentas de IA têm sido utilizadas nesse processo.
Além de aprofundar o entendimento sobre dívida técnica, o workshop explorou o impacto da inteligência artificial no desenvolvimento de software. Graziela destacou as vantagens da IA em termos de produtividade e como ela pode ser usada para identificar, mensurar e até mesmo ajudar a mitigar a dívida técnica em sistemas complexos.
No entanto, a professora também alertou para os riscos da utilização descontrolada de IA, como a geração de códigos vulneráveis que podem, ironicamente, aumentar a dívida técnica em vez de reduzi-la e criar problemas no produto, como, por exemplo, imputando vulnerabilidades de segurança. “O uso irrefletido de IA na geração de código pode criar uma falsa sensação de produtividade, enquanto acumula problemas estruturais que só serão percebidos tardiamente”, diz Graziela.
As discussões forneceram aos profissionais ferramentas úteis para lidar com esses desafios, enfatizando a necessidade de uma abordagem equilibrada que aproveite o potencial da IA sem comprometer a qualidade e sustentabilidade do software no longo prazo.
O workshop, que teve duração de 3 horas, contou com dezenas de profissionais de diferentes lugares do mundo e com diferentes backgrounds, como arquitetos, engenheiros de software e executivos C-Levels, o que contribuiu para as atividades hands-on, bem como tornou a discussão em grupo mais produtiva e avançada.
Durante a OOP Conference, Graziela participou também do Meetup de Mulheres em Tecnologia, um encontro de cientistas e empresárias da área para debater desafios e estratégias para aumentar a participação feminina no setor. “Discutimos como os homens podem ser aliados nesse processo e como algumas empresas têm implementado políticas eficazes para reduzir o gap de gênero”, disse a professora.
A OOP é uma das maiores e mais tradicionais conferências do mundo com foco em arquitetura e desenvolvimento de software. Voltado para arquitetos, desenvolvedores, gerentes de projetos, tomadores de decisão e outros profissionais de TI, o evento deste ano contou com uma programação diversificada com mais de 130 palestras distribuídas em até oito trilhas paralelas, nas quais palestrantes nacionais e internacionais compartilharam insights práticos sobre as últimas tendências e desafios do setor.