Em 2025, os cursos de Engenharia do Insper completam 10 anos — uma trajetória marcada por inovação, parcerias com empresas e formação aplicada desde o primeiro dia. Um dos marcos dessa história é o curso de Engenharia Mecatrônica, área estratégica que conecta mecânica, eletrônica e computação para projetar sistemas autônomos e inteligentes.
À frente do curso desde sua concepção, o professor Vinicius Licks fala sobre as transformações dessa área, que evoluiu dos robôs industriais para os drones agrícolas e veículos autônomos, além de destacar como o Insper prepara engenheiros para atuar nos principais desafios do século 21. Com formação internacional e passagem por instituições como Harvard e University of New Mexico, Licks defende uma engenharia que vai além da sala de aula — feita com propósito, curiosidade e impacto real.
Confira na entrevista a seguir:
O que faz exatamente um engenheiro mecatrônico?
A mecatrônica é uma área multidisciplinar que une mecânica, elétrica e computação. De forma simples, trata-se da engenharia da automação. São máquinas que operam sozinhas — como os veículos autônomos da Tesla ou equipamentos industriais que fabricam produtos sem necessidade de intervenção humana. O robô autônomo é o exemplo clássico: uma máquina que age de forma independente, projetada por engenheiros mecatrônicos.
Como essa área evoluiu desde que surgiu o primeiro curso superior no Brasil no final dos anos 1980?
A base curricular da mecatrônica não mudou muito, mas as tecnologias evoluíram. Tradicionalmente, o foco estava em robôs industriais, como os que soldam peças em montadoras. Hoje, a ênfase está em robôs móveis — veículos autônomos, por exemplo. Aqui no Insper, temos, por exemplo, um projeto com a Embrapa para desenvolver um robô que percorre plantações, captura imagens e gera indicadores como maturação das plantas e produtividade estimada por hectare.
Na automação, a transformação vem da digitalização. Veja a Amazon: você clica para comprar, e todo o processo até a entrega é automatizado, sem contato humano. Essa integração entre o físico e o digital é uma das fronteiras mais quentes da engenharia atual.
Quais são as tendências mais relevantes para os próximos anos?
O uso de câmeras com processamento local e algoritmos de visão computacional deve se expandir bastante, especialmente na indústria. Além disso, a robótica, a automação de processos e a navegação de robôs autônomos estão em crescimento acelerado.
Mais recentemente, os modelos de linguagem (LLMs) abriram novas oportunidades — e também preocupações. Há aplicações promissoras na automação de processos de negócios, mas a IA ainda é, em parte, uma “caixa-preta”: difícil de prever em cenários críticos. Em setores como o da aviação, onde a previsibilidade é crucial, isso ainda é um obstáculo.
O curso de Engenharia Mecatrônica do Insper tem algum diferencial?
Nosso diferencial está na abordagem prática. Diferentemente da maioria dos cursos que são excessivamente teóricos, aqui a aprendizagem é construída com base em projetos, experimentos e desafios reais desde o início. Por exemplo, ao aprender controle — um conceito matemático abstrato —, o aluno já aplica o conhecimento para controlar a velocidade de um motor ou o movimento de um robô. Isso torna o aprendizado mais significativo, motivador e conectado ao mundo real.
Como é a relação do curso do Insper com o mercado?
Projetos reais com empresas são parte integrante da formação. O curso não se sustenta sem essa proximidade com a indústria. Nos projetos de conclusão, chamados capstones, os alunos trabalham com clientes reais. Um exemplo é o projeto que mencionei com a Embrapa, que precisava de uma plataforma robótica para monitorar pomares. Essa conexão entre empresa, problema real e conteúdo técnico é o que forma engenheiros prontos para atuar.
Quais setores mais contratam engenheiros mecatrônicos atualmente?
Em São Paulo, os maiores empregadores são os setores automotivo, aeronáutico e de equipamentos médicos. Porém, o mercado é diversificado. A demanda cresce com o PIB: quando a economia acelera, a engenharia acompanha.
A vantagem do engenheiro mecatrônico é sua formação ampla, que combina mecânica, elétrica e computação. Muitos egressos acabam migrando para áreas puramente digitais, mesmo sem um diploma específico em computação. Essa versatilidade é um dos maiores trunfos da profissão.
As engenharias oferecem oportunidades internacionais?
Sem dúvida. Áreas técnicas têm alta empregabilidade global. Temos ex-alunos trabalhando nos Estados Unidos, Holanda, Alemanha... Em alguns momentos, há mais oportunidades fora do que aqui. E com o trabalho remoto, esse movimento se intensificou após a pandemia. É comum o engenheiro começar remoto e, depois, ser convidado para trabalhar na sede da empresa fora do país.
Qual o perfil ideal para um aluno de Engenharia Mecatrônica?
A principal característica é a curiosidade — o desejo de entender como as coisas funcionam. Quando o aluno se depara com dificuldades em matemática ou física, precisa lembrar que o objetivo é compreender o funcionamento do mundo. É a mesma motivação de quem estuda biologia ou física. Se você se pergunta como um carro autônomo ou um drone operam, provavelmente vai se encantar com a engenharia.
Alguma mensagem final para quem está considerando a carreira?
Muitos têm medo da Engenharia por causa da fama de “curso difícil”, com muita matemática. E é verdade — é um curso desafiador. Mas também é profundamente gratificante. A formação permite ver além da superfície tecnológica. Você entende o que há por trás do funcionamento de um carro autônomo, de um sistema automatizado — e isso é poderoso.
A tecnologia não é mágica. É fruto da imaginação humana, traduzida em conhecimento e aplicação prática. Ser engenheiro é participar dessa criação.