O artigo “The impact of ESG momentum in stock prices”, assinado por pesquisadores do Insper, recebeu menção honrosa no Prêmio BID-SBFin, promovido pelo Banco Interamericano de Desenvolvimento e pela Sociedade Brasileira de Finanças.
O trabalho é derivado da dissertação de Carolina Sverner para o Mestrado Profissional em Economia do Insper, que foi orientada pela professora de finanças Andrea Minardi. Fernando Tassinari Moraes, doutor em Economia dos Negócios pelo Insper, colaborou com a orientação na econometria.
Publicado na Revista Brasileira de Finanças, o artigo investiga se as práticas de ESG (ambientais, sociais e de governança) impactam os preços das ações. “É gratificante receber a menção honrosa, pois o nível dos artigos estava muito alto e havia muitos trabalhos inscritos nesta primeira edição do prêmio”, diz Carolina, que é graduada em Arquitetura e Urbanismo pela Universidade de São Paulo e trabalha com investimentos alternativos em multifamily office, um tipo de consultoria de gerenciamento de patrimônio familiar.
Segundo Andrea Minardi, na onda do ESG, cada vez mais investidores incorporam os aspectos sociais, ambientais e de governança na tomada de decisão de investimento. Além dessa motivação, a literatura especializada apresenta algumas evidências de que as empresas com as melhores práticas têm maior valor. Mas dúvidas permanecem: são as melhores práticas que levam a um maior valor? Ou as companhias aderem às práticas de ESG porque têm menos restrição de capital, logo melhor rentabilidade e melhores processos, tornando-as mais preparadas e mais sustentáveis?
Os pesquisadores adotaram o rating ESG da agência de classificação Sustainalytics para definir o conceito de qualidade de práticas sustentáveis. As empresas escolhidas fazem parte do S&P 500, índice da agência Standard&Poor’s que considera as 500 empresas mais negociadas na Bolsa de Nova York e na Nasdaq.
As hipóteses foram testadas em 451 dessas empresas que tinham classificação na Sustainalytics — as demais, foram excluídas. “No Brasil, ainda não existem tantos dados sobre ESG como em outros países”, afirma Carolina. “Ou, então, a base de dados não é tão grande ou é corporativa ou não está aberta para estudantes. Então decidimos aplicar em empresas dos Estados Unidos.”
Para explicar o retorno nas ações, criou-se um modelo que não considerasse apenas a influência da sustentabilidade, mas outros fatores como porte da empresa e seu índice beta — que estima a medida de risco e retorno financeiro das ações diante de eventos macroeconômicos e sistêmicos do mercado. Os três pesquisadores encontraram, então, uma relação negativa: quanto maior o rating ESG, menor o retorno da ação. O portfólio das empresas com os piores ratings ESG tem retorno entre 0,20% e 0,29% superior ao portfólio das empresas com os melhores escores.
O resultado é coerente. “Em finanças, temos a máxima do risco-retorno, ou seja, se você quer maior retorno, vai correr maior risco”, explica Andrea. “Os investidores reconhecem que ESG é um fator de risco para o investimento que deve ser levado em conta. Portanto, as empresas com menor sustentabilidade são mais arriscadas e, por isso, cobra-se um prêmio maior de retorno para investir nessas ações ou pratica-se um preço menor das ações. Por outro lado, muitos investidores estão buscando ações mais sustentáveis, por isso o preço acaba subindo e o retorno diminuindo, justificando por que empresas mais sustentáveis têm um custo de captação menor para as ações.”
A primeira hipótese ainda não resolvia a questão da causalidade entre práticas de ESG e retorno das ações. “No segundo teste, em vez de usarmos o rating absoluto, usamos a melhora do rating”, diz Andrea. “Chamamos de Momento ESG: a variação do rating no período de um ano. Assim, as empresas que tiveram variação positiva estão melhorando as suas práticas sustentáveis. As que tiveram reação negativa de momento estão piorando. Ranqueamos todas, comparamos as empresas mais sustentáveis do primeiro tercil em relação às empresas menos sustentáveis e calculamos esse prêmio de risco.”
Desta vez, o prêmio de risco é positivo da ordem de 0,23% a 0,35% ao ano, valor significativo em se tratando de mercado financeiro. “Isso significa que o investidor ganha mais quando coloca dinheiro em uma empresa que está melhorando as práticas de ESG e diminuindo os seus riscos”, afirma Andrea. “Isso é superbacana do ponto de vista corporativo, indicando que lutar pelas práticas sustentáveis se reflete no valor da empresa. É uma evidência de que investidores de private equity que entram para melhorar a empresa estão colocando ESG no processo de diligência e de implantação de melhorias.”
A pesquisa analisou a questão para as empresas do S&P 500 avaliadas sob os parâmetros do escore da Sustainalytics. Futuramente, podem-se testar as hipóteses em outros mercados (o brasileiro, por exemplo) ou com ratings de outras agências de classificação. O experimento seria importante porque as metodologias variam muito entre os diversos índices. “O S&P é um mercado mais eficiente, com empresas que estão sendo superavaliadas pelos analistas”, diz Andrea.
Em mercados menos eficientes, ou até mesmo dentro de outro índice da S&P, não se sabe se o resultado seria replicável, porque há muitos ajustes a fazer. “Mas, à medida que o mercado de classificação se tornar mais eficiente, acreditamos que esse resultado vai se refletir para mais empresas e, consequentemente, as práticas sustentáveis realmente serão valorizadas”, afirma Andrea.
Quando escolheu o tema da dissertação em conjunto com a professora Andrea Minardi, Carolina buscava algo relacionado a impacto financeiro nos negócios. ESG era uma linha com grandes oportunidades. “Queria fazer uma pesquisa que fosse aplicável e provar que pode dar certo investir em empresas sustentáveis”, conta Carolina. “Lendo a literatura, entrei em contato com um tema ainda mais interessante. Em vez de avaliar só a nota em sustentabilidade, por que não avaliar como a mudança de nota, o momento ESG, impactava a variação de preços de ações.”
Carolina começou a se aproximar da área de finanças logo que se formou em Arquitetura, em 2009. O mestrado no Insper, iniciado em 2020, preencheu uma lacuna. “Senti que me faltava uma base mais acadêmica, que eu sabia trabalhar com finanças, mas não entendia muito o funcionamento”, diz Carolina. “Aprendi muita coisa que eu não sabia. O corpo docente do Insper é excelente. Em qualquer assunto que você queria se aprofundar, vai encontrar alguém que conhece muito e que vai auxiliar, dentro e fora da sala de aula.”