O total de viagens por dia útil na região metropolitana de São Paulo, utilizando algum tipo de transporte individual ou coletivo, caiu de 42 milhões em 2017 para 35,6 milhões em 2023, o que significa redução de 15,1%, de acordo com a nova edição da pesquisa Origem e Destino (OD), realizada pelo Metrô de São Paulo. Entre 2017, ano do levantamento anterior, e 2023, houve perda de 6,3 milhões de viagens diárias. Ainda segundo o estudo, que foi abordado na mais recente edição da Sexta da Mobilidade — evento do Centro de Estudos das Cidades — Laboratório Arq.Futuro do Insper realizado na última sexta-feira de cada mês para promover a cultura da mobilidade urbana — o número médio de viagens por habitante também caiu, saindo de 2 para 1,68 naquele mesmo período de comparação. A pesquisa do Metrô analisa como as pessoas se deslocam na Grande São Paulo, que é formada por 39 municípios, buscando descobrir para onde e por qual motivo.
A queda registrada foi maior nas viagens não motorizadas, como a que é feita a pé, com redução de 23%, e no transporte coletivo, com diminuição de 20%. Já o transporte individual motorizado, principalmente por meio de aplicativos, cresceu. Considerando apenas as viagens por esse meio, elas saíram de 468 mil na última edição para mais de 1,1 milhão por dia.
“O propósito fundamental das políticas de mobilidade urbana é reduzir o desejo ou a necessidade de viagem. A ideia é desenhar cidades onde as pessoas não precisem viajar, ou, pelo menos, não por longas distâncias, para atingir seus destinos de trabalho, de educação, de lazer e ou serviços públicos. O estudo demonstra que houve sucesso nisso, com a efetiva diminuição do número de viagens, apesar de a atividade econômica estar mais aquecida do que em 2017. Geralmente, quanto melhor o desempenho da atividade econômica, maior o número de viagens”, diz Sergio Avelleda, coordenador do Observatório Nacional de Mobilidade Sustentável, uma parceria com o Grupo CCR, que integra o Núcleo de Mobilidade Urbana, que ele também dirige, do Centro de Estudos das Cidades — Laboratório Arq.Futuro do Insper. “A redução pode ser explicada pelo efeito da pandemia, já que passamos a adotar o home office e ampliamos a educação a distância”.
A pesquisa mostra que 13% da população da região metropolitana de São Paulo se encontra em regime de teletrabalho – metade em home office integral e outra metade no modelo híbrido. O trabalho não presencial, que é mais frequente nos empregos qualificados, é mais visível nos bairros centrais e de maior renda da cidade, como a região da Faria Lima.
No entanto, a grande redução das viagens se deu no transporte público, que perdeu mais do que outros modais. “Isso é preocupante porque demonstra que os usuários estão migrando para o transporte motorizado individual, como os carros e as motos. O resultado é a piora do trânsito e da qualidade do ar, que já são sofríveis em São Paulo, além do aumento do número de mortos e feridos no trânsito”, afirma Avelleda. Nesse contexto, na visão do especialista, o estudo deixa um alerta para que as autoridades adotem uma política voltada para a retomada da demanda no transporte público, assegurando qualidade superior do serviço prestado e preços melhores.
A população, aliás, deseja retornar para o transporte público, segundo levantamento da Confederação Nacional do Transporte (CNT) mencionada na Sexta da Mobilidade, com 63% das pessoas que migraram do transporte público para o individual dispostas a voltar – desde que os itinerários sejam mais racionais, os tempos de deslocamento menores e as tarifas mais acessíveis. “Há necessidade de investimento constante no aumento da malha metroviária, que representa o modal mais rápido, seguro, eficiente e sustentável. É dessa forma que conseguiremos estimular o uso do transporte público”, pontua Avelleda.
A edição de fevereiro da Sexta da Mobilidade teve como tema a COP30, que será realizada no Brasil em novembro, com o desafio de entender o que é preciso para descarbonizar a mobilidade urbana. “O país tem um enorme desafio porque nossa matriz principal no transporte de carga e de passageiros em viagens de longa distância é rodoviária, que se caracteriza pelo alto nível de emissão de gases de efeito estufa. Por outro lado, temos matriz energética muito limpa, diferentemente do resto mundo, que depende dos combustíveis fósseis”, observa Avelleda.
Para descarbonizar também nos transportes, ele aponta três caminhos: desenhar melhor as cidades para reduzir o desejo ou a necessidade de viagem; trocar o transporte individual motorizado pelo transporte público e pela mobilidade ativa (como o uso de bicicletas); e melhorar a tecnologia dos módulos motorizados (dos carros, ônibus, caminhões e motos) para que emitam o menos possível. “Estamos liderando uma coalizão com mais de 60 entidades para criar uma agenda sólida de descarbonização do setor de transportes e colaborar assim com o governo para o sucesso da COP30. É importante que estejamos todos dedicados a essa agenda”, sublinha o coordenador do Observatório Nacional de Mobilidade Sustentável.
Ainda segundo Avelleda, os debates promovidos pela Sexta da Mobilidade vão trazer, a exemplo da COP30 e da pesquisa de origem e destino do Metrô, outros assuntos “quentes”, que estão no noticiário. Entre os próximos temas estão a criação da faixa azul para motos em algumas das principais avenidas de São Paulo e a implementação crescente da tarifa zero nos ônibus, com as prefeituras subsidiando integralmente esse meio de transporte.