As grandes cidades podem ser ambientes acolhedores e não agressivos, com seus espaços públicos valorizados e frequentados pelos cidadãos. Essa é, aliás, a diretriz cada vez mais perseguida pelas políticas pautadas pelo anseio de tornar as urbes inclusivas e sustentáveis. Há um método voltado para isso, chamado placemaking, cujo objetivo é conectar conhecimento, pessoas e desenho dos espaços urbanos para transformá-los em lugares de valor social, ambiental e econômico. O propósito é criar ambientes que promovam a interação social, a segurança, o bem-estar e a qualidade de vida.
“Percebemos que as cidades, especialmente metrópoles como São Paulo, ainda são desiguais, com muitos ambientes degradados. Precisamos de uma sociedade mais justa e sustentável, e isso só vai ocorrer se criarmos as condições necessárias. O placemaking está voltado para criar essas condições, trazendo o sentimento de pertencimento para as pessoas ao promover a diversidade no ambiente urbano”, diz Laura Janka, coordenadora do Núcleo Arquitetura e Cidade do Centro de Estudos das Cidades – Laboratório Arq.Futuro do Insper.
Segundo a especialista, que lecionará no curso de curta duração Placemaking: do Desenho à Intervenção nos Espaços Urbanos, a ser realizado entre os dias 15 e 17 de maio, o Brasil é um dos países mais urbanizados do mundo, com mais de 80% da população morando em cidades, motivo pelo qual o placemaking precisa estar entre as ferramentas de planejamento urbano. “A mobilidade é um dos fatores considerados para tornar o espaço público acolhedor e diverso. Isso porque toda população precisa acessar facilmente meios de transporte dignos; a mobilidade urbana de qualidade não deve ser um privilégio para poucos que têm carro, por exemplo”, completa.
Uma rua pode se transformar em um espaço público desejável se forem proporcionadas as condições para isso. A criação de uma agenda de eventos, promovendo a cultura local, estimula a interação das pessoas e o crescimento do comércio. Ao mesmo tempo, a arborização torna a experiência mais agradável ao reduzir a temperatura média da rua, o que pode contribuir para a decisão de caminhar por parte dos visitantes — em vez de usar o automóvel. “No fim das contas, ao pensar o planejamento urbano dessa maneira, estamos fazendo com que a cidade seja bem-sucedida no oferecimento de qualidade de vida para seus habitantes”, observa Laura.
Sendo assim, o curso é voltado não apenas para arquitetos e urbanistas, mas para um público amplo, que inclui economistas e outros profissionais de mercado; cientistas sociais; cientistas de dados ou engenheiros; e trabalhadores da área da saúde. “Para quem atua no mercado de forma geral, é relevante entender como o placemaking impacta a economia. No setor imobiliário, por exemplo, se o espaço público passa a ser valorizado, haverá naturalmente a valorização dos imóveis da região”, sublinha a professora. Já em relação a quem atua na saúde, um espaço público com conforto térmico terá impacto direto no bem-estar da população.
Para ciência de dados ou engenharia, a informações coletadas sobre a dinâmica urbana, ainda no contexto do placemaking, contribuem para o entendimento do funcionamento das cidades, justificando a escolha de determinadas políticas públicas. “O cientista social terá interesse em entender como o placemaking pode diminuir as desigualdades nas cidades, enfrentando cenários como o vivido pelo centro de São Paulo”, explica Laura.
O curso contará com professores dos Estados Unidos e da Dinamarca, países pioneiros no uso do placemaking para a transformação de espaços públicos. O corpo docente terá ainda ex-alunos da pós-graduação em Urbanismo Social do Centro de Estudos das Cidades – Laboratório Arq.Futuro do Insper. Eles vão destacar exemplos de placemaking como o do icônico e histórico Seagram Building, em Nova York; as intervenções recentes na Broadway Street, também na metrópole americana; as ações de transformação do centro histórico da Cidade do México; e experiências como o Projeto Centro Aberto e o conjunto multiúso B32, em São Paulo.
O bairro de Puerto Madero, em Buenos Aires, é outra iniciativa nesse sentido. Passou de uma área degradada, com galpões inutilizados que serviam ao porto, para uma das regiões mais procuradas da cidade e da América do Sul. A população que, antes da revitalização, evitava a região passou a valorizá-la como um dos principais espaços de interação com a capital da Argentina. “A própria abertura para os pedestres da Avenida Paulista, em São Paulo, aos domingos, é um exemplo de placemaking, embora não tenham ocorrido grandes intervenções como as de Puerto Madero. Há um impacto positivo na sociabilidade, na diversidade e na cultura ao retirar os carros e promover a interação a pé ou de bicicleta entre as pessoas”, finaliza Laura.