Realizar busca

“A cada dois dias, geramos um volume de informações equivalente ao criado desde o início da civilização até 2003.” A célebre afirmação de Eric Schmidt, então CEO do Google, em 2010, permanece atual: o volume de dados gerados no mundo não para de crescer e é impossível de ser quantificado. Nesse contexto, compreender como usar essas informações para transformar as cidades é o objetivo do curso Dados, Ativismo e Desenvolvimento Urbano, que será oferecido no próximo mês pelo Centro de Estudos das Cidades | Laboratório Arq.Futuro do Insper.

 

“O foco do curso é a produção e o uso de dados como potência de transformação da cidade, explorando a relação entre dados, ativismo e desenvolvimento urbano”, diz o pesquisador Gilberto Vieira, docente-líder do curso. “A escolha desse tema se baseia na necessidade de capacitar profissionais e lideranças comunitárias para utilizar dados de maneira estratégica, especialmente em contextos vulnerabilizados, como o das periferias.” 

 

Um dos temas centrais do curso é a Geração Cidadã de Dados, um método que vem ganhando força nos movimentos sociais e chamado a atenção de gestores públicos. “A ideia é que a turma entre num debate sobre a centralidade dos dados nos tempos de hoje e como eles podem ser mais eficientes para formular melhores políticas públicas”, afirma Vieira. 

 

De acordo com o docente, os dados têm papel fundamental na solução de questões urgentes relacionadas ao urbanismo. “A exclusão socioespacial e a segregação urbana, por exemplo, podem ser mais bem compreendidas por meio da análise de dados sobre acesso a serviços e infraestrutura, possibilitando a formulação de políticas mais inclusivas”, pontua o professor.

 

Vieira entende que o planejamento urbano participativo se fortalece com a Geração Cidadã de Dados, permitindo que comunidades produzam e interpretem informações sobre suas realidades e, assim, influenciem decisões públicas sobre as cidades. “No que se refere a segurança pública, saneamento básico, saúde, cultura, memória, habitação e mobilidade, observatórios comunitários e redes locais vêm utilizando dados para monitorar violações de direitos e propor alternativas baseadas em evidências”, observa. 

 

Temas como o enfrentamento das mudanças climáticas e a busca por justiça ambiental também se beneficiam do uso de dados de diversos tipos para embasar ações locais de adaptação e mitigação de impactos climáticos. “Outro tema importante para a gestão das cidades é a gentrificação e a especulação imobiliária, cujos efeitos podem ser analisados a partir de dados sobre deslocamento populacional e valorização fundiária, contribuindo para um debate mais qualificado sobre os impactos de grandes projetos urbanos”, exemplifica o docente.

 

Para Eliana Sousa Silva, que atua no acompanhamento geral do curso e é coordenadora da Pós-Graduação em Urbanismo Social do Centro de Estudos das Cidades | Laboratório Arq.Futuro do Insper, tais reflexões são fundamentais para se pensar a produção de conhecimento e o papel nas transformações estruturais que precisamos ocorrer nos municípios. “É muito importante analisar que existe um hiato grande entre as demandas que uma parte da população tem no acesso às políticas públicas e o que os gestores públicos oferecem concretamente. É essencial que se reconheçam a produção de dados e o conhecimento que as próprias periferias vêm fazendo para garantir direitos”, sublinha ela.

 

Diferenciais 

 

Para Vieira, entre os diferenciais desse curso de Educação Executiva está a abordagem crítica e prática, que integra debates conceituais com exercícios aplicados, possibilitando que os participantes desenvolvam não apenas uma compreensão teórica como também habilidades concretas para a coleta, análise e uso de dados. “Além disso, o curso se diferencia ao enfatizar o protagonismo de iniciativas periféricas, promovendo metodologias participativas que valorizam o conhecimento produzido nos territórios populares”, ressalta o professor. 

 

Outro aspecto a ser destacado é a interdisciplinaridade, que possibilita o diálogo entre urbanismo, tecnologia, ciências sociais, ativismo e políticas públicas. “A equipe de professores e convidados é composta por especialistas com experiência prática no uso de dados para transformação social, garantindo que os conteúdos abordados estejam alinhados com as realidades enfrentadas nos territórios populares”, destaca Vieira, que é mestre em Cultura e Territorialidades pela Universidade Federal Fluminense (UFF), gestor de organizações e projetos sociais há 15 anos e também cofundador do data_labe, um laboratório de mídia, pesquisa e geração cidadã de dados sobre favelas e periferias.

 

O curso abrange as principais demandas dos profissionais da área, que atualmente giram em torno da necessidade de uma capacitação maior em gestão e análise de dados voltados para o impacto social. “Há uma carência de profissionais que saibam coletar, interpretar e utilizar dados de forma estratégica para fortalecer movimentos sociais e influenciar políticas públicas. A questão da soberania digital e da ética dos dados também é um desafio para a formação de gestores e outros profissionais das cidades, uma vez que a concentração do poder informacional nas mãos de grandes corporações exige um olhar crítico sobre vigilância digital e novas formas de colonialismo que às vezes passam despercebidas, ou se apresentam como inexoráveis”, avalia o docente, que também é Doutorando em Gestão Urbana pela Pontifícia Universidade Católica do Paraná (PUCPR).

 

Além disso, Vieira pondera que há uma necessidade urgente de criar narrativas alternativas a partir de dados mais locais, evidenciando desigualdades e disputando a construção de políticas urbanas mais participativas. “O domínio de ferramentas digitais, tanto para busca e organização de dados quanto para visualização e comunicação estratégica também é uma demanda crescente. Profissionais e ativistas precisam desenvolver estratégias de advocacy baseadas em evidências para tornar os dados instrumentos eficazes de incidência política e mobilização social.”

 

 

Público-alvo esperado

 

O público-alvo do curso é diverso e interdisciplinar, incluindo gestores públicos e formuladores de políticas urbanas, profissionais da tecnologia interessados na interseção entre dados e justiça social, lideranças comunitárias e coletivos organizados que atuam na defesa de direitos, pesquisadores e acadêmicos das áreas de urbanismo, ciências sociais, comunicação e ciência de dados, além de organizações sociais que buscam fortalecer sua atuação por meio do uso estratégico de dados. 

 

“Também se espera a participação de profissionais do setor privado que tenham interesse em inovação social e impacto territorial. O curso visa criar um ambiente de aprendizado colaborativo, no qual diferentes perfis possam compartilhar experiências e construir soluções inovadoras para os desafios urbanos contemporâneos”, conclui Vieira.

 



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