A adoção de novas tecnologias costuma gerar dúvidas e até receios quanto ao impacto que pode causar no mercado de trabalho. No imaginário coletivo, há a expectativa de que a IA reduzirá custos ao substituir empregos por automação. No entanto, essa é uma visão simplista. Em nível organizacional, o impacto da IA se desdobra em mais de um aspecto, não apenas nos custos, mas também nas receitas e, principalmente, na produtividade.
No mercado financeiro, algumas ferramentas em uso hoje permitem ganhos significativos de eficiência. Há soluções para resumir reuniões de comitês, agrupar demandas recebidas por e-mail e agilizar processos como o KYC (sigla em inglês para “conheça seu cliente”). Essas ferramentas, embora simples, otimizam o tempo dos profissionais para que se concentrem em suas atividades de resultado, permitindo que analistas de crédito aprofundem análises de carteiras, analistas de operações solucionem mais problemas do dia a dia e profissionais de compliance ganhem escala na análise de aberturas de contas. Com isso, a expectativa é de um aumento real de produtividade e geração de receita com mais contas abertas, mais operações liquidadas e melhor performance das carteiras.
Além dessas aplicações, ferramentas mais sofisticadas de IA já estão sendo usadas para execução de trades – compra ou venda de ativo com o objetivo de obter lucro por meio da variação de preço – e construção de portfólios. A lógica permanece a mesma, com a IA não atuando apenas como redutora de custos, mas como potencializadora de receita e eficiência em um setor altamente qualificado e escalável. A longo prazo, podemos esperar que seja usada em abertura de capital e cada vez mais em aprendizagem no atendimento personalizado.
Na educação, a inteligência artificial representa uma inflexão estrutural. Diferentemente de inovações passadas, a IA não se limita à digitalização de conteúdo. Ela personaliza o aprendizado, adapta a jornada pedagógica às necessidades de cada aluno em tempo real e viabiliza avaliações mais sofisticadas, antes restritas a contextos elitizados. Tecnologias como LLMs (Large Language Models), RAG (Retrieval-Augmented Generation) e análise de voz já vêm sendo aplicadas no Brasil com foco em acessibilidade, personalização e desenvolvimento de soft skills como argumentação, comunicação e pensamento crítico.
Startups brasileiras estão liderando essa frente. A plataforma ALAN, por exemplo, simula arguições orais com base nas rubricas de algumas grandes faculdades, e já é utilizada por mais de 60 mil alunos. O Edu, por sua vez, é um tutor virtual via WhatsApp que corrige redações por foto, simula provas e fornece devolutivas por áudio. Tudo com linguagem acessível e curadoria pedagógica. Essas soluções não apenas automatizam processos, mas oferecem acompanhamento contínuo, imediato e adaptado ao contexto individual de cada aluno.
À medida que o setor educacional avança, com projeções de um mercado global de IA em educação ultrapassando US$ 90 bilhões até 2033, o Brasil tem diante de si uma oportunidade única de reduzir desigualdades históricas. A adoção da IA por si só não garante transformação. É preciso articulação entre edtechs, instituições públicas e privadas, educadores e gestores, com um compromisso claro de que a tecnologia deve expandir e não substituir o papel humano no ensino.
Mas qual é, afinal, o impacto econômico de tudo isso? O crescimento e o desenvolvimento de um país estão diretamente ligados ao avanço tecnológico, pois é ele que impulsiona a produtividade. Embora o saldo tenda a ser positivo no longo prazo, o processo traz ganhadores e perdedores, sobretudo no curto prazo. O Brasil, por exemplo, ainda enfrenta barreiras estruturais, como a baixa qualificação da mão de obra, o que dificulta a adaptação plena a essas transformações. Mesmo assim, há otimismo: se houver foco na requalificação profissional e uso estratégico da IA, os impactos podem ser amplamente positivos para o emprego e a economia.
De acordo com o Relatório sobre o Futuro dos Empregos 2025, do Fórum Econômico Mundial, até 2030 serão criados cerca de 170 milhões de novos empregos no mundo, com destaque para áreas relacionadas a tecnologia, dados e inteligência artificial (ainda que profissões rotineiras estejam entre as mais ameaçadas, haverá expansão também em funções humanas e sociais como cuidadores, educação e saúde).
Fonte: Fórum Econômico Mundial – Relatório Futuro dos Empregos 2025 - WEF_Future_of_Jobs_2025_Press_Release_PTBR.pdf
Para discutir esses temas e o papel estratégico da IA no futuro do Brasil e do mundo, alumni de Harvard se reunirão no Insper no final de maio para o evento Harvard Brazil Alumni Summit 25 – IA and Beyond.
O encontro, fechado e com apoio do Insper, reunirá especialistas nacionais e internacionais para debater os caminhos possíveis da inovação com responsabilidade.
*Lucas Borges, financista, especialista em Private Equity pela HBS e Financial Accounting pela LSBF. Membro do Comitê de Empresas Familiares do Insper e Membro do Harvard Alumni Club Brazil (HACB).
*Enrico Gazola, é cofundador da Nero.AI, consultoria em inteligência artificial. Fundador da edtech ASF, vendida ao grupo CPV educacional. É graduado em Economia pelo Insper e visiting student na Babson College.
*Franco Veludo, é o sócio responsável pelo time de Controllers na Verde Asset Management. É formado em Administração pelo Insper e integra o Comitê Alumni de Fundraising.