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“O cooperativismo tem o papel de coordenar produtores rurais de todos os portes”

Tânia Zanella, superintendente da Organização das Cooperativas Brasileiras (OCB), fala sobre a relevância do setor na transição para uma agricultura de baixo carbono

Tânia Zanella, superintendente da OCB

Tânia Zanella, superintendente da Organização das Cooperativas Brasileiras (OCB), fala sobre a relevância do setor na transição para uma agricultura de baixo carbono

 

Tiago Cordeiro

 

Reconhecida pela revista Forbes como uma das 100 mulheres mais importantes do agronegócio brasileiro, Tânia Zanella fez história na Organização das Cooperativas Brasileiras (OCB). Começou a trabalhar na organização em 2008 e se tornou a primeira mulher a assumir a gerência de relações institucionais, a primeira a se tornar gerente geral — e, por fim, a primeira superintendente da Unidade Nacional do Sistema OCB.

Catarinense, ela é filha de produtores rurais. Formada em Direito foi convidada para integrar a assessoria jurídica do gabinete do deputado federal Odacir Zonta. Em Brasília, acabou conhecendo a OCB.

Na entrevista a seguir, Tânia Zanella, que é também vice-presidente do Instituto Pensar Agropecuária (IPA), fala sobre a importância do cooperativismo para o agronegócio nacional, principalmente num contexto de busca de redução de emissões, e avalia as perspectivas para o setor em 2023.

 

Muito tem se falado sobre o potencial da agropecuária brasileira para participar do mercado global de carbono. Qual pode ser o papel das cooperativas agrícolas nesse cenário?

As cooperativas podem e devem ser protagonistas nesse tema. Nós, do cooperativismo, somos a principal ferramenta de acesso às tecnologias de baixo carbono para o pequeno e médio produtor. A mesma lógica se aplica ao mercado de carbono, pois os custos envolvidos na homologação e nas atividades de verificação e reporte dos projetos de carbono são extremamente onerosos.

 

Qual a sua visão a respeito da importância das cooperativas para o agronegócio brasileiro? Como elas saíram da pandemia?

Inicialmente é necessário ressaltar a dimensão do agronegócio brasileiro, segmento que equivale a 27,6% do PIB, fatia correspondente a aproximadamente R$ 2,38 trilhões para a economia nacional, gerando emprego para mais de 18 milhões de brasileiros nos diversos elos dos negócios rurais.

Nesse âmbito atuam 1,2 mil cooperativas agropecuárias, que contemplam 1 milhão de agropecuaristas de diferentes perfis e tamanhos, provendo quase 240 mil empregos diretos e R$ 358,4 bilhões em receita no ano de 2021. Elas colocam em prática um modelo societário que, além da participação democrática, possibilita notável acesso a mercadorias e agrosserviços, desde insumos até comercialização, passando por produção, armazenagem e industrialização.

Em vista disso, o cooperativismo agrícola e pecuário tem o importante papel de coordenar e instrumentalizar produtores rurais de todos os portes. Para ter uma ideia, 71,2% do quadro social do movimento é ocupado por agricultores do perfil familiar, que passam a contar com ganhos de escala e a elevação do poder de comercialização, aspectos que resultam em prosperidade econômica, social e ambiental aos cooperados.

No decorrer da pandemia da covid-19, as cooperativas agropecuárias seguiram seu movimento de crescimento, garantindo desenvolvimento e segurança alimentar, cenário em que esses empreendimentos agropecuários são protagonistas.

 

O Código Florestal Brasileiro é reconhecido como uma legislação robusta de preservação ambiental, porém, ainda carece de efetiva implementação para cumprir de fato esse papel. Como as cooperativas podem ser facilitadoras desse processo?

Vale lembrar que o cooperativismo colaborou no aprimoramento do Código Florestal, que trouxe a segurança jurídica necessária para o setor e incorporou uma ferramenta inovadora de transparência do uso e ocupação do solo nas propriedades rurais, o Cadastro Ambiental Rural (CAR). Nesse contexto, fizemos um importante trabalho em cooperação com o Ministério do Meio Ambiente (MMA) e o Ibama para divulgar os benefícios do CAR e da regularização ambiental das propriedades rurais.

Foram inúmeras palestras em nossas cooperativas, além da produção de cartilhas orientativas sobre o tema. Nossos cooperados já fizeram sua parte e realizaram o cadastro.

O desafio atual está nas mãos dos órgãos ambientais e consiste em validar e analisar os registros — um desafio e tanto, já que são mais de 6 milhões de cadastros realizados. Por isso, somos favoráveis a soluções como, por exemplo, a análise dinamizada do CAR, que podem acelerar esse processo. E o trabalho de nossas cooperativas continua na orientação de seus cooperados quanto à necessidade de verificar o status do seu cadastro e, caso necessário, realizar os ajustes para a efetiva regularidade. Nosso desejo é que o CAR sirva como uma certidão de regularidade ambiental para os produtos produzidos no cooperativismo.

 

Qual a sua análise sobre a COP 27? Como o encontro pode impactar o agronegócio nacional em geral e as cooperativas em particular?

Antes de tudo, ressalta-se a presença do cooperativismo na COP26, um comparecimento que, além de destacar casos em linha com a pauta ESG, trouxe frutos por meio do “Manifesto Cooperativista”, material de ampla divulgação com direcionamentos para nortear o futuro desses negócios.

Em relação ao enfoque ESG, a atuação também não parou: o programa ESGCoop, que reúne estratégias de governança, social e ambiental dentro do modelo de negócios do movimento, foi lançado para que as ações do cooperativismo sejam mapeadas e divulgadas.

A respeito dos impactos da conferência da Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas de 2022 sobre o agronegócio e para o cooperativismo, é importante destacar o papel norteador que ela tem sobre os negócios rurais, não somente as prioridades dos produtores mundiais de alimentos, mas também dos consumidores nas próximas décadas.

 

Em sua visão, quais as perspectivas para o agronegócio brasileiro em geral e as cooperativas em particular em 2023?

Em relação ao cenário político e econômico, o que se vê hoje é um agronegócio com expectativa de produzir mais de 300 milhões de toneladas de grãos na safra 2022/23. Nesse sentido, as cooperativas se destacam por ser responsáveis por mais de 50% da safra nacional de grãos, assim como pela eminente presença nas originações brasileiras de 75% do trigo, 52% da soja, 55% do café, 46% do leite, 53% do milho, 48% do algodão, 43% do feijão e 50% dos suínos.

Outro ponto é o protagonismo do país na segurança alimentar frente às adversidades climáticas e geopolíticas mundiais, o que tem causado consequências diretas nos preços e no volume de alimentos no mundo, assim como impactado diretamente os custos de produção diante da volatilidade das commodities.

Por esse motivo, as cooperativas estão cada vez mais aplicando em planos estratégicos para os próximos anos e décadas, com enfoque em inovação do cooperativismo, melhoria de processos de governança e gestão, formação e capacitação de recursos humanos, agregação de valor aos produtos agropecuários e muitos outros processos alinhados às práticas de ESG, que permitem o melhor atendimento tanto para os clientes quanto para o cooperados.

Mediante todas essas ações, o cooperativismo agropecuário consegue vencer as oscilações e incertezas do mercado, propiciando progresso e vitórias para os negócios rurais e favorecendo a prosperidade social e econômica de seus associados, o que tem se refletido, nos últimos anos, em crescimento e sustentabilidade do modelo de negócio.

 

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