Nas maiores companhias americanas, os CEOs chegam a ganhar mais de 1.400 vezes a média dos empregados que comandam. O guru de gestão Peter Drucker sugeria um limite de 20 vezes
Ninguém duvida que o executivo que administra uma empresa tem um papel crucial no resultado dos negócios e, por isso, deve ser bem remunerado para exercer essa função. Mas há quem diga que algumas companhias foram longe demais, pagando salários excessivos ao ocupante do cargo mais alto na organização.
O quadro abaixo dá uma dimensão do problema. Ele mostra a remuneração dos CEOs das 10 maiores empresas dos Estados Unidos em faturamento (segundo o ranking da revista Fortune), o salário médio dos empregados e a diferença entre os valores. Os dados foram extraídos do site Salary.com, que traz as remunerações estimadas dos presidentes das maiores companhias dos Estados Unidos.
O maior salário entre as 10 empresas americanas que mais faturaram no ano passado é de Tim Cook, CEO da Apple. No ano fiscal de 2021, o executivo que dirige a fabricante de celulares iPhone recebeu uma bolada de 98,7 milhões de dólares — 1.447 vezes o salário médio dos empregados comandados por ele, que recebem pouco mais de 68.000 dólares por ano.
Na maior empresa dos Estados Unidos em faturamento, a rede varejista Walmart, o CEO Douglas McMillon teve uma remuneração bem mais modesta que a de Tim Cook: “apenas” 22,6 milhões de dólares. Ainda assim, ganhou 1.078 vezes o salário médio de seus subordinados, de menos de 21.000 dólares por ano.
O menor salário entre os dirigentes das 10 maiores empresas americanas é de Warren Buffett, presidente da Berkshire Hathaway, um grupo que administra negócios e investe em diversos setores, de seguros e varejo até ferrovias e energia elétrica. Buffett recebeu pouco mais de 380 mil dólares em salários em 2021, apenas seis vezes a remuneração média de seus empregados. O salário de Buffet, porém, é simbólico. Além de CEO, ele é o principal acionista da Berkshire Hathaway e tem uma fortuna pessoal estimada em 100 bilhões de dólares – é a quinta pessoa mais rica do mundo, de acordo com o mais recente levantamento da revista Forbes.
A disparidade entre os salários dos CEOS e dos demais empregados não é um fenômeno recente. Em 1977, o guru da administração Peter Drucker sugeriu que a proporção dos ganhos dos CEOs e dos funcionários fosse estabelecida em, no máximo, 25 para 1. Anos depois, em 2011, o próprio Drucker reduziu essa proporção, recomendando que fosse de até 20 para 1. Na época, ele disse: “Muitas vezes, aconselhei os gestores que uma proporção salarial de 20 para 1 é um limite além do qual eles não podem ir caso não desejem que o ressentimento e a queda do moral atinjam suas empresas”.
O conselho de Drucker tem sido amplamente ignorado. De acordo com os dados mais recentes da AFL-CIO, a maior federação de sindicatos dos trabalhadores dos Estados Unidos, os CEOs das empresas que integram a S&P 500 (índice que reúne as 500 maiores companhias com ações na bolsa americana) ganharam em média 15,5 milhões de dólares em 2020, o equivalente a 299 vezes o salário do trabalhador médio no país. No ano anterior, a diferença havia sido de 264 vezes.
Segundo o levantamento, mesmo com a queda nos lucros em consequência da pandemia da covid-19, que levou milhões de pessoas ao desemprego, os CEOs dessa lista tiveram, em média, um aumento superior a 700 mil dólares na remuneração recebida em 2020 em comparação com o ano anterior.