A professora do Insper apresentou painel sobre a atuação das mulheres no setor de tecnologia e os desafios para promover a igualdade de gênero
A XP Conference, principal conferência do mundo na área de desenvolvimento ágil de software, é um fórum único no qual pesquisadores, profissionais, líderes, coaches e treinadores Agile se reúnem para apresentar e discutir as inovações e os resultados de pesquisas mais recentes. A edição deste ano foi realizada em Bolzano, na Itália, entre os dias 4 e 6 de junho, com o tema central “Refletir, Adaptar, Visualizar”, e contou com uma trilha especial em comemoração aos 25 anos da conferência.
Presente no evento, a professora Graziela Tonin, docente do curso de Ciência da Computação do Insper, apresentou um painel intitulado “Mulheres na tecnologia: o estado atual, ações tomadas e metas para os próximos 25 anos”. Para participar do debate, a professora convidou alguns profissionais de renome, do mercado e da academia, para discutir os desafios e as diferentes perspectivas com uma visão global. Participaram do painel Jutta Eckstein (coach e consultora), Heidi Musser (executiva C-level), Poulomi Nath (coach de transformação), Gladys Ng’weno (coach Agile) e Alfredo Goldman, professor da USP que deu seu depoimento sobre como os homens podem contribuir para um ambiente mais inclusivo, incluindo a indicação da leitura do livro “Sejamos todos feminista”, de Chimamanda Ngozi Adichie. Os palestrantes eram de diversas origens e lugares do mundo, como América Latina, Índia, África, Alemanha e Estados Unidos, além de pertencerem a minorias, como LGBTQIAP+ e pessoas negras e pardas.
Em sua apresentação, a professora Graziela destacou o papel fundamental das mulheres no setor de tecnologia e a necessidade de promover a inclusão e a equidade na área. “Com o cenário tecnológico em rápida evolução, a busca por diversas perspectivas e talentos se torna cada vez mais crucial”, disse ela. “A disparidade de gênero nesse setor é um problema com consequências profundas. Abordar e reduzir essa disparidade nas empresas de tecnologia não é somente uma questão de justiça e equilíbrio social, o que se justifica por si só. É também um objetivo crítico para promover a diversidade, a igualdade e liberar todo o potencial da indústria.”
Apesar de algum progresso nos últimos anos, as mulheres ainda estão sub-representadas em funções técnicas e posições de liderança. “Várias pesquisas mostram que equipes com um número mais equitativo de gênero resultam em melhor resolução de problema por causa das diferentes perspectivas, têm mais criatividade e geram mais inovação”, ressaltou Graziela. No painel, a docente do Insper propôs ações conjuntas que podem ser implementadas dentro das empresas e equipes, guiadas por metodologias ágeis, para reduzir a disparidade de gênero. “A ideia é refletir sobre o que já alcançamos e como podemos nos comprometer a construir um mundo mais igualitário nos próximos 25 anos.”
A professora ministrou também uma palestra sobre um artigo no qual discute abordagens de aprendizagem ativa aplicadas no ensino de metodologias ágeis. Segundo Graziela, a era digital transformou a educação, tornando os métodos tradicionais obsoletos. Para se adaptarem a essa nova realidade, as instituições educacionais devem adotar metodologias de ensino mais modernas.
“Dadas as rápidas mudanças na tecnologia, é crucial promover um ambiente de cocriação e troca”, defendeu Graziela. “As empresas também precisam se adaptar rapidamente às complexidades do mundo moderno, e a educação deve se concentrar no desenvolvimento de habilidades adequadas aos desafios e à complexidade do mundo atual juntamente com conhecimento técnico.”
A professora ressaltou que metodologias ágeis, amplamente utilizadas nas empresas, são ensinadas no curso de Ciência da Computação do Insper para preparar os alunos para um mercado em constante mudança. “O curso foi concebido com esse princípio em mente, incorporando aprendizagem ativa e abordagens baseadas em problemas”, explicou. “As metodologias ágeis e habilidades interpessoais para resolver problemas do mundo real são ensinadas desde o início.”
A professora ministrou também um lightning talk sobre exemplos de ações que empresas e universidades podem usar para reduzir a desigualdade de gênero. “O setor de tecnologia, em rápido crescimento, avançou, mas ainda enfrenta disparidade de gênero. As mulheres estão sub-representadas em funções técnicas e de liderança, e há uma escassez de professoras e estudantes em STEM (ciência, tecnologia, engenharia e matemática)”, disse a professora.
“Essa disparidade de gênero tem consequências de longo alcance, incluindo a limitação da diversidade na resolução de problemas e na inovação, a promoção de um ambiente de trabalho hostil para as mulheres e a perda do potencial inexplorado de toda a força de trabalho tecnológica.”
Segundo a professora, uma abordagem diversificada é vital para uma indústria tecnológica inclusiva. “Ações como combate aos vieses inconscientes, letramento de colegas do gênero masculino e conscientização deles para, de forma intencional, apoiarem as colegas no dia a dia, bem como a implementação de programas de retenção, são cruciais. É essencial também implementar ações que tornem os ambientes mais receptivos e menos agressivos para o gênero feminino, respeitando as diferentes características dessa profissional.”
A professora afirmou que é importante também ter políticas claras, com métricas definidas, para a atração de profissionais desde o momento da divulgação da vaga, inclusão e processo de seleção, bem como a escolha dos membros que participarão do processo. “Devem existir regras e métricas claras de promoção de carreira em um processo transparente e com ações intencionais que incentivem mulheres a participarem desses processos. Também são necessários canais de escuta externos, confiáveis e transparentes”, disse. “Os esforços colaborativos podem capacitar as mulheres na tecnologia, promovendo a igualdade, a retenção e a representação, gerando ambientes mais saudáveis, melhores resultados e maiores ganhos para o negócio.”