O ensino nessas áreas precisa priorizar a dinamicidade própria da tecnologia, preparando os futuros profissionais para aprender constantemente, de acordo com professor do Insper
Bruno Toranzo
Ninguém questiona que o mercado de trabalho está cada vez mais voltado para a tecnologia. Até 2025, 540 mil vagas serão abertas na indústria, com destaque para o aquecimento da logística atrelada à tecnologia, de acordo com o Observatório Nacional da Indústria, núcleo de inteligência e análise de dados da Confederação Nacional da Indústria (CNI). A ascensão de tecnologias como a inteligência artificial tem demandado dos profissionais novas habilidades e competências, além da capacidade de adaptação aos inúmeros desafios que surgem todos os dias.
“Ainda há aquela preocupação com a IA tomando os empregos das pessoas. Isso pode até ocorrer com alguns postos de trabalho, mas, em compensação, são criados outros que estão inseridos nessa nova realidade. Há 50 anos, por exemplo, ninguém sequer imaginava que haveria uma demanda tão alta por programadores nos dias de hoje”, destaca Luciano Soares, professor do Insper que atua, entre outras frentes, na pesquisa acadêmica em engenharia e na coordenação do Laboratório de Realidade Virtual e Jogos Digitais.
A expectativa da CNI é que a área de logística e transporte chegue a 2 milhões de trabalhadores até 2025 no Brasil. Esse desempenho fará dela uma das que mais empregam. Como o país tem dimensões continentais, o processo de transporte, armazenagem e distribuição de produtos e mercadorias tem enorme relevância para as empresas, especialmente as que atuam em nível nacional. O profissional desse setor precisa lidar de forma estratégica com todas as etapas — das compras e estoque à entrega dos itens. Diversas tecnologias, como IA, big data, chatbots, robôs colaborativos e internet das coisas (IoT), já estão sendo usadas para atividades de logística, como escaneamento e controle de mercadorias nos armazéns e meios de transporte. Na logística 4.0, há espaço, também, para ganho de eficiência na logística reversa, que se dedica ao descarte adequado para os produtos que chegaram ao fim da sua vida útil.
Essas alterações observadas no mercado são refletidas no ensino oferecido pelas universidades. No início do planejamento dos futuros cursos de Engenharia do Insper em 2013 e 2014, de acordo com o professor Luciano, havia uma preocupação muito forte de trabalhar as habilidades sociais, e não somente as técnicas. “A indústria estava preocupada que os engenheiros fossem, além de bons tecnicamente, aptos ao trabalho em equipe, por meio do aperfeiçoamento das soft skills ou habilidades sociais”, relembra. Com o passar dos anos, os cursos foram dando mais ênfase ao desenvolvimento dessas competências, fazendo com que os alunos assimilassem cada uma delas.
“O desafio sempre foi — e considero que seja ainda maior agora — preparar o aluno para estar constantemente aprendendo. O Insper chama isso de aprender a aprender. A tecnologia muda rapidamente, motivo pelo qual não podemos nos ater a ensinar somente aquilo que temos atualmente”, afirma. Para o professor, é preciso ir além, demonstrando para os alunos os principais conceitos e fundamentos, por meio de situações práticas, para que eles estejam preparados para atuar com qualquer que seja a tecnologia que surja. Nesse contexto, a dinamicidade está entre as principais características do profissional de hoje, que precisa estar disposto a aprender rapidamente novos conteúdos, ferramentas e tecnologias.
Há, além disso, uma transformação do mercado de trabalho, com a possibilidade hoje de trabalhar em casa, no modelo home office, para empresas do mundo inteiro. Esse movimento é cada vez maior entre os profissionais de TI, cuja demanda pelos serviços tem sido crescente. O déficit na oferta dessa mão de obra deve chegar a 70% em três anos no Brasil, de acordo com estudo da Brasscom (Associação das Empresas de Tecnologia da Informação e Comunicação). Até 2025, o mercado de tecnologia, segundo a Brasscom, gerará 797 mil vagas de emprego, com uma remuneração quase três vezes maior do que a média dos trabalhadores brasileiros.
A IA generativa está entre os principais campos de criação de oportunidades para os próximos anos. Essa tecnologia, que utiliza volume elevado de dados, faz análise do conteúdo oferecido a ela, entendendo a correlação entre as palavras, para, na sequência, criar textos inseridos em um determinado contexto. Também pode trazer insights a partir da análise de planilhas com uma infinidade de números. Ao fazer isso, reduz os custos para fazer uma tarefa, como tempo e esforço, além de oferecer uma solução que pode ser completamente nova.
“Essas ferramentas, como o ChatGPT, evoluíram muito. No entanto, podem não ser sempre precisas, motivo pelo qual o olhar humano é fundamental. Na sala de aula, temos visto o uso cada vez maior delas, e isso cria um desafio para as instituições de ensino, que não podem proibir, mas precisam garantir seu uso de forma eficaz para o aprendizado. O mesmo raciocínio se aplica às empresas, que devem criar uma governança sobre essas ferramentas para que os funcionários possam usá-las adequadamente, sem que haja risco para o negócio em termos de compartilhamento ou vazamento de informações sigilosas”, finaliza Luciano.