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Acessibilidade digital ainda é raridade nos sites de governos e empresas no Brasil

Menos de 1% das páginas oferece serviços de acessibilidade para pessoas com deficiência, o que indica necessidade urgente de aplicar as melhores práticas nesse sentido

Menos de 1% das páginas oferece serviços de acessibilidade para pessoas com deficiência, o que indica necessidade urgente de aplicar as melhores práticas nesse sentido

Mãos femininas sobre um quadro de alfabeto em Braille
Mãos femininas sobre um quadro de alfabeto em Braille (foto by Freepic)

 

Bruno Toranzo

 

Menos de 1% dos sites no Brasil oferece serviços de acessibilidade voltados para pessoas com deficiência (PCDs), de acordo com a última edição do estudo “Panorama da Acessibilidade Digital”, produzido pela Hand Talk, startup alagoana com foco na tradução automática para Língua Brasileira de Sinais (Libras), em parceria com o Movimento Web para Todos. Somente 21% dos PCDs entrevistados acreditam que os sites e aplicativos consideram suas necessidades de navegação e incluem suas deficiências. O estudo revelou também que 61% das empresas não realizam cursos sobre iniciativas de acessibilidade digital de PCDs e somente 42% têm profissional especialista em diversidade e inclusão. No Brasil, são mais de 17 milhões de pessoas com deficiência, o correspondente a 8% da população.

“Apesar dos avanços notáveis da inteligência artificial nos últimos anos, trazendo evolução tecnológica inclusive em relação às ferramentas de acessibilidade digital, os sites brasileiros, sejam do governo, sejam das empresas, pouco avançaram, conforme demonstra esse levantamento que é feito todos os anos”, diz Vinícius Barqueiro, coordenador administrativo dos centros de conhecimento do Insper e membro voluntário do Movimento Web para Todos. Muito do trabalho manual, segundo Vinícius, que era feito anteriormente para adaptar e fornecer recursos de acessibilidade, já pode ser realizado por meio da IA. “As redes sociais, por exemplo, já trazem automaticamente a descrição das imagens para aprovação do usuário ou autor da publicação, que precisa somente verificar se ela faz realmente sentido. Ou seja, não é mais preciso escrever do zero”, explica.

A supervisão humana da IA é também relevante no contexto da acessibilidade digital. Uma mesma imagem em contextos diferentes demanda descrições distintas. “Para uma reportagem que fale somente sobre um evento ocorrido na universidade, pode não fazer sentido descrever as características físicas das pessoas que aparecem na foto. Mas, se estivermos falando, por exemplo, de uma reportagem sobre diversidade em eventos acadêmicos, talvez faça sentido descrever as características físicas das pessoas retratadas na imagem”, observa. É esse discernimento, na opinião dele, que deve ser feito por quem comanda a tecnologia. Vinícius lembra que 16 de maio foi o GAAD (Global Accessibility Awareness Day), comemorado todos os anos na terceira quinta-feira de maio para promover a consciência sobre acessibilidade e inclusão digital.  Saiba mais sobre o GAAD.

 

Problemas comuns de acessibilidade

Alguns problemas comuns em termos de acessibilidade incluem a falta de descrição das imagens, dos infográficos e demais recursos que aparecem nas páginas. Essas informações, mesmo sendo muito relevantes para a compreensão do conteúdo, não são traduzidas para as pessoas com deficiência. No e-commerce, faz diferença saber a cor da camiseta, o que influencia diretamente na decisão de compra. No entanto, os sites não costumam trazer a descrição detalhada, informando apenas se tratar de uma camiseta. O monitoramento de toda jornada de compra, identificando as necessidades dos PCDs, é imprescindível para que esses sites estejam em conformidade com a acessibilidade digital.

“Outro fator de dificuldade está nos formulários, que nem sempre seguem uma ordem linear e costumam estar escritos de forma incorreta. O leitor de tela usado pelos PCDs vai capturar determinado código que pode ter esses erros”, diz Vinícius. Por fim, ele aponta para o CAPTCHA, campo de preenchimento obrigatório no fim do formulário que pede ao usuário para identificar uma imagem específica. “São aqueles semáforos ou faixas de pedestre, por exemplo, que precisam ser selecionados para demonstrar que o usuário não é um robô. Como não tem descrição, uma pessoa cega não consegue avançar”, diz. Para esse caso específico, o ideal é disponibilizar uma caixa solicitando o resultado de uma operação matemática, ou mesmo um campo que peça confirmação “não sou um robô”.

 

Como promover acessibilidade digital?

Textos acessíveis

Escreva frases curtas e em ordem direta: sujeito, verbo e objeto. Isso ajuda algumas pessoas com deficiência intelectual, estrangeiros aprendendo português, pessoas que usam avatar de Libras, pessoas que usam software de leitores de tela e pessoas em geral com dificuldade em compreender textos, como os analfabetos funcionais.

Evite figuras de linguagem em comunicações informativas ou orientações aos colegas. Quanto mais claro e direto, melhor, pois algumas pessoas compreendem metáforas de modo literal. Tradutores de Libras e estrangeiros aprendendo português também podem ficar confusos com linguagem figurada.

Use vocabulário simples e em português. Temos o costume de evitar palavras repetidas, mas, pensando em acessibilidade, é mais indicado repetir as palavras e evitar sinônimos de difícil compreensão. A mesma indicação vale para palavras em inglês, nem sempre conhecidas por todos e de difícil compreensão para leitores de tela e tradutores de Libras que se baseiam no português.

Evite usar x ou @ para marcar gênero neutro. É muito importante buscarmos uma linguagem inclusiva, mas usos como “alunx” ou “alun@” confundem softwares leitores de tela, tradutores de Libras e algumas pessoas com deficiência intelectual. Há outras alternativas acessíveis, como “estudante” em vez de “aluno; “docente” em vez de “professor”; e outras palavras cujo gênero é neutro. Outro exemplo: em vez de “fale com o coordenador”, podemos usar “fale com a coordenação”.

 

Diagramação acessível

Alinhe o texto à esquerda e com espaçamento entre linhas de 1,5. É importante que haja espaço adequado e regular entre letras, palavras e linhas. Quando deixamos o texto justificado ou com espaçamento entre linhas simples (1 pt), pessoas com dislexia ou déficit de atenção ficam com mais dificuldade de leitura e compreensão.

Use as marcações de nível hierárquico. Em vez de atribuir manualmente tamanho de fonte e negrito para títulos e subtítulos de um documento Word, PowerPoint ou mesmo HTML, use as ferramentas de “Estilo” e marcações de HTML. Isso ajuda quem usa leitores de tela a ter maior clareza da hierarquia das informações, bem como ajuda quem precisa aumentar as fontes para enxergar melhor. Veja como usar “estilos” no Pacote Office.

Garanta contraste adequado de cores. O uso de cores próximas em gráficos ou elementos visuais pode atrapalhar o entendimento, especialmente para pessoas daltônicas. Na dúvida, use um validador de contraste de cor.

Nomeie o hiperlink, em vez de “clique aqui”. Ao criar hiperlinks, é recomendado escrever o destino no próprio link. Por exemplo, em vez de “clique aqui para acessar o formulário”, use apenas “Acesse o formulário”. Isso porque quem navega usando leitor de tela “pula” de um link para outro, então, se há apenas a informação “clique aqui”, a informação de destino se perde. Além disso, o “clique aqui” é uma linguagem pensada para usuários em computadores e não se aplica a quem está lendo no celular ou tablet.

 

Imagens acessíveis

Pessoas cegas ou com baixa visão que usam softwares leitores de tela podem não conseguir acessar informação fornecida com imagens ou gráficos. Para deixá-las acessíveis, é necessário descrever os elementos visuais. Isso pode ser feito no código (pelo recurso “alt”, lido apenas por softwares leitores de tela), ou de maneira explícita e visível a todos.

Descreva imagens de cima para baixo e da direita para a esquerda no seguinte esquema: 1) formato (foto, ilustração ou arte, por exemplo); 2) sujeito da ação; 3) contexto, como uma paisagem); 4) ação do personagem na imagem. Saiba mais sobre descrição de imagens.

 

Gráficos, tabelas e mapas acessíveis

Não dependa apenas de cores para distinguir informações em gráficos, tabelas e mapas. Isso porque nem todo mundo enxerga as cores da mesma maneira, por daltonismo ou por usar dispositivos em preto e branco.

Descreva gráficos levando em conta seu propósito no contexto, no seguinte esquema: 1) tipo de gráfico (gráfico de barras, de pizza ou dispersão, por exemplo); 2) tipo de dado; 3) propósito; 4) link para dados brutos. Saiba mais sobre descrição de gráficos.

 

Vídeos acessíveis

Forneça legendas ou transcrição. Isso ajuda surdos alfabetizados no idioma do vídeo, pessoas aprendendo o idioma do vídeo, ou mesmo quem assiste ao vídeo em meio a barulho ou sem condições de ter o áudio ligado, como quem assiste no transporte público ou em uma sala de espera. Também é recomendado oferecer audiodescrição (narração que descreve para pessoas cegas o que acontece no vídeo) e caixa com tradução simultânea em Libras.

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