Vanessa Carvalho, gerente da Biblioteca Telles, conta como a experiência em projetos de incentivo à leitura contribuíram para a sua formação profissional
Leandro Steiw
Você sabia que, dependendo do curso, os estudantes se relacionam de forma diferente com a biblioteca? Quem conta é Vanessa Carvalho, gerente da Biblioteca Telles e que há 17 anos acompanha as mudanças e melhorias no acervo bibliográfico do Insper. Os alunos das Engenharias e da Computação recorrem, preferencialmente, aos livros digitais ou às fontes na internet, além de compartilharem materiais entre colegas e professores, que montam seus próprios repositórios de códigos e outros conteúdos. Os livros tradicionais, em papel, são mais procurados por graduandos e pós-graduandos de Administração, Economia e Direito.
Nem por isso a biblioteca deixa de disponibilizar obras para todas as disciplinas. Vanessa explica que, sempre que um curso é criado, a formação um novo acervo segue uma série de regras e requisitos em termos de qualidade de títulos e quantidade de exemplares. Muitos são exigências do Ministério da Educação, por exemplo. “A formação de acervo é trabalhosa, mas faz parte da dinâmica e da rotina da área”, diz ela.
O espaço físico é indispensável em qualquer instituição em atualização constante. A Biblioteca Telles passou por duas reformas, em 2018 e 2023, também para acomodar os títulos incorporados ao acervo desde a instalação do campus na Vila Olímpia, em 2006. Os e-books não resolveriam esse problema? “Os modelos de negócios e especialmente de acesso das plataformas digitais ainda não atendem perfeitamente às necessidades de acesso coletivo das bibliotecas”, afirma Vanessa. “Muitas são as plataformas de livros digitais existentes, mas poucas são multieditoriais ou com uma forma de acesso única, o que torna a experiência do usuário na interação com os conteúdos, um desafio para as bibliotecas. E, por incrível que pareça, nem todos os títulos que são demandados em bibliografia estão disponíveis em formato digital. Então, a gente ainda precisa ter o livro físico, e aí o espaço é um desafio.”
Um dos objetivos de uma biblioteca universitária é suprir as demandas de ensino e de pesquisa da comunidade acadêmica. “Faz parte também da nossa missão incentivar o hábito de leitura na comunidade por meio de ações, projetos e serviços que promovam o hábito de ler”, diz Vanessa. Ela acumula experiência de voluntariado desde a faculdade de Biblioteconomia, que começou na Universidade Estadual Paulista (Unesp), em Marília, no interior de São Paulo, e concluiu na Universidade de São Paulo (USP), na capital.
Ainda na Unesp, ela participou de um projeto de extensão da universidade no qual, uma vez por semana, os voluntários contavam histórias para crianças hospitalizadas na Santa Casa de Misericórdia de Marília. A ideia era incentivar o gosto pela leitura e, por alguns instantes, distanciar os pequenos pacientes das restrições do ambiente hospitalar. Os pais ou eventuais acompanhantes também podiam se envolver com o momento de leitura.
Já formada, Vanessa entrou em projeto voltado a crianças em situação de acolhimento temporário em abrigos. “A leitura era utilizada como ferramenta para a construção do objetivo de ajudá-las a criar narrativas e registros das suas próprias histórias, que resultavam em um álbum que iria acompanhá-las por toda a sua trajetória”, recorda. “Quando criança, temos as nossas lembranças e também as memórias contadas pelos nossos pais e pelos nossos cuidadores. As crianças em situação de acolhimento, porém, acabam perdendo um pouco essa referência.”
Embora trabalhe cercada de livros, Vanessa acredita que lê menos do que gostaria. Desde que se tornou mãe do Bento, em 2021, ela tem se dedicado mais à família e aos cuidados com a infância do pequeno, além do trabalho. “Hoje leio muito com ele e para ele, mas literatura infantil. Temos momentos de leitura a dois e a três, que são sempre muito divertidos e às vezes um tanto desafiadores. É sempre difícil mantê-lo quieto por 15 minutos que seja para terminar de ler uma história. A gente acaba precisando contar um pouco, inventar outro tanto, fazer teatrinho, pedir para ele contar também.”
A escolha pela Biblioteconomia reflete a própria infância de Vanessa. “No fim do ensino médio, na época de escolher profissão e prestar vestibular, eu visitava feiras, conversava com pessoas, fazia testes vocacionais”, lembra. “Desde criança, sempre fui muito metódica. Gostava de ter as coisas sempre organizadinhas, seguindo uma lógica. Para mim, era natural e gostoso. E uma das profissões que aparecia nesses testes era Biblioteconomia. Como estudei a vida inteira em escola pública, as minhas possibilidades eram começar a trabalhar ou entrar numa universidade pública. Pesei, então, que Biblioteconomia seria uma opção”.
História contada, Vanessa lembra que foi apreciando o curso e seguiu a profissão. Depois de fazer o vestibular de transferência para a USP e voltar para São Paulo — onde a família residia —, ela percebeu que havia muitas oportunidades de estágio na capital. Ficou um ano em uma empresa de consultoria em negócios e, em 2007, foi contratada como assistente de biblioteca no Insper. “A equipe era bem menor, em outro espaço físico, e eu era responsável principalmente pela aquisição de materiais”, diz. De 2015 a 2017, fez pós-graduação em gestão de negócios no Insper. Passou por diversos cargos na Biblioteca Telles até chegar a gerente, e reconhecendo as variadas conexões dos estudantes com os livros e com a informação.