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A aposta na moda sustentável que cresce em grande estilo

A jornada empreendedora de Bárbara Almeida e Mariana Penazzo, ex-alunas do Insper que fundaram a plataforma online de aluguel e venda de vestuários Dress & Go

A jornada empreendedora de Bárbara Almeida e Mariana Penazzo, ex-alunas do Insper que fundaram a plataforma online de aluguel e venda de vestuários Dress & Go

 

Bárbara Nór

 

Quando ingressou no Insper, em 2004, Bárbara Almeida não imaginava que se tornaria empreendedora. Sua verdadeira paixão sempre foram os números. Filha de engenheiros, ela teve contato com esse universo desde cedo, o que logo se expandiu para um interesse pelo mercado financeiro. Ao escolher sua faculdade, optou por estudar Administração no Insper. Ela diz que foi atraída pela reputação da escola como um centro de tecnologia e inovação. “Era a única que já usava computadores em vez de cadernos e que desde o começo se preocupava com programação”, lembra Bárbara. “Isso, para mim, atestava que era uma escola fora da curva. Eu acreditava que era algo que faria diferença e, de fato, fez.”

Já Mariana Penazzo, que entrou na mesma turma de Bárbara, sempre teve o desejo de empreender. Nascida em uma família de empreendedores, ela acreditava que era questão de tempo para começar o próprio negócio. “Na época do vestibular, acabei prestando para várias faculdades, como Arquitetura, Hotelaria e Engenharia”, diz. “Mas escolhi Administração no Insper porque achava que isso depois me abriria portas.”

Embora se conhecessem desde pequenas, Bárbara e Mariana não eram próximas.. Mas o que nenhuma delas imaginava é que elas iriam fundar, juntas, uma das primeiras startups do mercado de moda brasileiro, a Dress & Go.

Para Bárbara, o caminho natural seria seguir para o mercado financeiro. “Esse era o destino de praticamente 90% dos alunos no Insper na época”, diz. Sua vontade de começar a trabalhar era tanta que, mesmo antes do período de estágio curricular, ela procurou uma corretora de investimentos e conseguiu um acordo para estagiar nas horas vagas. Mais tarde, foi aprovada para trabalhar no time de research do fundo de investimentos de um ex-sócio do Banco Garantia.

Enquanto isso, Mariana já testava seus primeiros movimentos no mundo do empreendedorismo. Durante a graduação no Insper, ela cursou matérias de empreendedorismo e, no sexto semestre, foi fazer um intercâmbio, passando seis meses na Itália e seis meses na Inglaterra. “Essa experiência me ajudou a desenvolver skills importantes para o empreendedorismo, como a autoconfiança e a habilidade de lidar com pessoas diferentes”, afirma. Ela também considerava importante ter experiência no mercado para entender melhor como funcionava uma empresa. Assim como Bárbara, ela foi primeiro para o mercado financeiro e depois para uma multinacional. “Aprendi muito sobre como estruturar uma empresa e como atuar estrategicamente.”

Em 2010, Mariana decidiu sair da empresa em que trabalhava para, finalmente, começar seu próprio negócio. Sua primeira aposta foi uma confeitaria. “Eu sempre gostei de cozinhar e decidi tentar”, conta. “Meu pai dizia que, na dúvida, é melhor andar à toa do que ficar à toa.” No entanto, após fazer cursos de gastronomia e voluntariar-se em diversas confeitarias, percebeu que não era exatamente o que queria.

Para Bárbara, a experiência no fundo de investimentos abriu portas para um universo de empresas e negócios. “Foi um privilégio, porque era um fundo com dinheiro próprio, então tinha muita flexibilidade para olhar para vários tipos de negócio”, diz. O fundo também foi um dos primeiros a atuar na área de venture capital, no início do boom do Vale do Silício. “Começou uma sementinha”, conta Bárbara. “Eu conhecia empreendedores, via as pessoas contando como tinham começado as empresas e, ao mesmo tempo, via que estava tendo fomento”. Sua vontade de empreender, assim, ficava cada vez mais forte.

 

O nascimento do negócio

A oportunidade finalmente surgiu em 2012, quando Mariana procurou Bárbara. “Eu queria alguém para compartilhar as dores e dividir as dores e as responsabilidades”, diz Mariana. “Perguntei se a Bárbara topava ser minha sócia, e ela topou.” A decisão de fundar uma empresa veio antes da ideia de negócio. Foram cerca de quatro meses de brainstorming para definir o que seria o empreendimento. “Elencamos algumas questões que sabíamos que eram essenciais para a empresa, como inovação e tecnologia, e fomos testando alguns modelos”, diz Mariana. No fim desse processo, surgiu a Dress & Go, fundada em 2012, com a ideia de ser uma plataforma online para aluguel de vestidos de marca para festas.

Com a decisão de se aventurar em um mercado novo para ambas, Bárbara conta que o começo foi “do zero”. “Tivemos que colocar tijolinho por tijolinho, entendendo quem seriam os nossos fornecedores, como funcionaria na prática e desenhando o plano de negócios”, diz. Além disso, a proposta era algo novo no Brasil. Falar em consumo sustentável ainda era novidade, e havia certos preconceitos a serem superados. “Há dez anos, as pessoas tinham vergonha de alugar roupa para festa”, lembra Bárbara.

O ambiente do Insper foi um dos impulsionadores para que as duas se dedicassem à empreitada. Primeiro, elas contam, porque o próprio curso de Administração já ensinara como dar aqueles primeiros passos e testar modelos. E, mesmo já sendo ex-alunas, o Insper manteve as portas abertas para que elas usassem os ambientes para trabalhar.

Além disso, o contato de Bárbara com o mundo de investidores e empreendedores ao longo de sua jornada no mercado financeiro também foi fundamental para dar o pontapé no negócio. “Desde o começo, conseguimos captar dinheiro para alavancar o negócio”, diz Bárbara. “Fizemos algumas rodadas logo de cara para investimento de capital.” Foi assim que, no primeiro ano de funcionamento, elas receberam um aporte de 1 milhão de reais da A5 Internet Investments.

 

Vantagens e desafios

Se a vantagem disso foi poder começar “grande”, a experiência, para Bárbara, mostrou que ter muito dinheiro desde o começo também pode ter um lado não tão bom. “Você acaba investindo em coisas erradas”, afirma. “Há uma pressão muito grande dos investidores para ter o retorno desse investimento.” O resultado, ela diz, foi gastar muito para gerar crescimento, mas não necessariamente com a qualidade que ela gostaria.

Por outro lado, o capital ajudou a encampar a proposta da Dress & Go. Os recursos foram usados, por exemplo, para a divulgação da marca, colocando famosas como Gisele Bündchen e Ivete Sangalo usando vestidos alugados pela plataforma. E deu certo: a empresa logo se tornou conhecida e contribuiu para mudar o comportamento de consumo no mercado de vestidos de festa. “Esse começo ajudou muito na mudança de cultura”, afirma Bárbara. “Eu e a Mariana tivemos um trabalho importante nessa educação para um consumo mais consciente, sustentável e inteligente, o que sempre foi nosso objetivo.”

Para Mariana, o fato de as duas serem ainda jovens ajudou a ousar mais na proposta. “Nós acreditávamos muito no nosso negócio e acho que isso fez com que não tivéssemos tanto medo”, diz. “Além disso, aos 21 anos, você ainda tem uma certa ingenuidade de não saber os tombos que pode tomar.” Com o tempo — e novos aportes —, a empresa foi aumentando a linha de vestidos e acessórios, além de passar a atender outras cidades e estados no Brasil. Não à toa, em 2015, a revista Forbes Brasil destacou a dupla de sócias no prêmio das 30 pessoas mais influentes com menos de 30 anos de idade.

Naquela época, ainda em meio ao boom de startups, Bárbara e Mariana eram quase sempre as únicas mulheres nos ambientes onde transitavam “Eu acredito que havia mesmo uma falta de interesse, motivada por questões culturais superantigas”, diz Bárbara. “Mas sempre fomos muito bem recebidas nos fundos. Inclusive, acho que tivemos benefício porque eles estavam loucos para investir em mulheres, mas havia poucas.” Hoje, segundo ela, o cenário já começou a mudar.

 

Altos e baixos

Para Bárbara e Mariana, empreender exige, acima de tudo, muita resiliência. Elas lembram, por exemplo, de um dos maiores desafios da empresa, durante a pandemia. Naquele momento, elas começaram a se questionar se continuariam o negócio. Afinal, sem eventos, não havia mais motivos para as pessoas alugarem vestidos. “Nosso mercado sofreu e ainda sofre muito por causa disso”, diz Mariana. “As pessoas mudaram o comportamento, os eventos mudaram, já que não existem mais aquelas festas gigantescas.” Sem fonte de renda, elas precisam recorrer a investimentos para se manterem de pé nesse momento — e ao apoio uma da outra.

Foi quando criaram uma plataforma para terceiros e para venda de peças usadas.  A ideia é colocar de volta para circulação roupas que, de outro modo, ficariam paradas ou iriam para o lixo. Hoje, de forma espontânea, a Dress & Go recebe 3 mil peças de roupas por mês. “Esse projeto de vendas de peças second hand tem muito a ver com um consumo mais consciente, que vem crescendo”, diz Mariana. “Sabemos que existem países que recebem toneladas de roupas e têm  dificuldade em fazer com que tudo não vire lixo.” Em vez de comprar uma peça de fast fashion nova, as duas apostam que as pessoas verão o valor em comprar uma peça usada, mas de qualidade e de origem confiável.

Agora, o momento, diz Bárbara, é de tentar “andar com as próprias pernas”. “Decidimos parar de captar dinheiro e trazer qualidade para nossa empresa andar sozinha, sem necessidade de aportes”, diz. “O que os últimos dez anos me mostraram é que você precisa ter coragem, resiliência e, principalmente, energia e vontade para correr atrás e fazer.”

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