A professora Bruna Arruda, embaixadora da Comissão de Diversidade, Equidade e Inclusão do Insper, comenta os avanços no Programa de Bolsas
Michele Loureiro
Um a cada dez estudantes de graduação do Insper tem acesso ao Programa de Bolsas da instituição. Desde 2018, foram concedidas mais de 150 bolsas integrais para as pessoas que se autodeclaram pretas e pardas, e a cada semestre esse número vem crescendo em média 40% com as novas entradas. Atualmente, 34% dos bolsistas se declaram pretos e pardos. A meta da escola é ampliar ainda mais a diversidade e ajudar a promover a transformação do Brasil por meio da formação de líderes inovadores e da pesquisa aplicada.
Em busca desses objetivos, no início de 2024, o Insper reformulou sua governança de diversidade. A professora Bruna Arruda, até então coordenadora da Comissão de Diversidade, Equidade e Inclusão do Insper, foi nomeada embaixadora para promover a causa. A ideia é ir além dos muros da escola e colaborar para a conexão com outras instituições e organizações estudantis, buscando oportunidades de integração para a evolução do tema. “Meu papel é de ativismo da diversidade e da inclusão. O foco é trazer conscientização e sensibilização sobre os marcadores sociais, como raça, gênero, acessibilidade, etarismo, orientação sexual e diversidade corporal”, diz a professora Bruna. Confira na entrevista a seguir.
Qual é seu principal objetivo como embaixadora da diversidade no Insper?
Acredito que meu papel seja fomentar o diálogo da diversidade, com uma escuta ativa na comunidade Insper, e também participar de eventos externos para ver o que estão fazendo, o que está dando certo, para levar à comunidade esse debate. Sabemos que para aumentar a diversidade enfrentamos diálogos difíceis, mas é necessário passar por isso para promover a evolução em um espaço seguro de discussão. Além disso, enquanto mulher negra, tenho papel de representatividade, que é fundamental para quem está em grupos sub-representados e precisa ver que existem pessoas negras que estão batalhando e chegando a posições de liderança. Minha missão é que as mulheres negras saibam que podem ser engenheiras, professoras, enfim, o que quiserem. É o empoderamento de pessoas que por muito tempo tiveram suas vozes silenciadas.
Em sua avaliação, qual a relevância do Programa de Bolsas do Insper?
O programa aumenta a diversidade de maneira muito significativa porque oferece oportunidade, acesso à educação para estudantes de diferentes origens socioeconômicas, étnicas, raciais e culturais. Além disso, permite a pessoas que não têm recursos financeiros necessários o acesso a uma educação de qualidade e, consequentemente, uma boa formação, uma boa profissão. Muitos, inclusive, são a primeira geração da família a estudar, a cursar uma graduação. Então, o programa traz um impacto pessoal, familiar e para a sociedade. Isso é extremamente benéfico para a agenda de diversidade e para o Insper. Afinal, enriquece o ambiente e a comunidade com uma variedade de ideias, perspectivas e conhecimentos. Há alunos de diferentes regiões do país, o que também promove uma diversidade intelectual e criativa. Precisamos de pessoas diversas para produzir inovação.
O que pode ser feito para ampliar a diversidade no Programa de Bolsas do Insper?
Tudo começa pelo letramento, pela conscientização. Todos nós temos vieses inconscientes e precisamos trazer isso à tona para nos tornarmos pessoas melhores. Por isso, temos um onboarding de diversidade, um treinamento para quem está começando no Insper, no qual explicamos toda a agenda e como temos trabalhado. Também há iniciativas como o programa Women in Tech, com a liderança da professora Graziela Simone Tonin. Nos últimos dois anos, o programa focou em capacitações, mentorias, rodas de conversas e workshops, que trouxeram conteúdos, atualizações, acolhimento e informações sobre as profissões e alavancagem nas carreiras nas áreas de ciência, tecnologia, engenharia e matemática. Outro exemplo prático foi a parceria com o Fundo Alas, uma iniciativa direcionada ao desenvolvimento de lideranças negras ligada à Fundação Tide Setubal, que triplicou o valor das doações para bolsas para alunos negros.
Como a questão da diversidade evoluiu no Insper nos últimos anos?
Muita coisa já foi feita. Ingressei no Insper em 2017 e ajudei na estruturação do coletivo estudantil Raposa das Negras, formado por alunos, colaboradores e professores negros. Os primeiros eventos foram feitos na minha casa e participavam sete alunos. Hoje, são mais de cem membros ativos no coletivo. Isso dá uma ideia do quanto a diversidade tem avançado, mas ainda temos um longo caminho pela frente. Além de ser um imperativo ético do Insper, a diversidade é uma característica fundamental de todas as vidas humanas, então, precisa ser reconhecida em todos os seus graus de manifestação, em todas as suas especificidades e deve ser respeitada. Não podemos nos acomodar. Temos que continuar criando estratégias de enfrentamento dessas desigualdades.
Como funciona a governança para que o tema diversidade seja prioridade no Insper?
A inclusão da agenda de diversidade no planejamento estratégico da escola, em 2020, foi fundamental. Reforçamos o compromisso institucional na promoção da agenda e temos uma área de diversidade, que é responsável pelos programas e projetos e faz o acompanhamento das métricas e indicadores com a coordenação executiva de Débora Mallet. Então nós da comunidade Insper estamos construindo um ambiente de inclusão bem estruturado. A recente consolidação dessa área é muito importante para que consigamos ter um convívio mais equitativo. Também temos canais de escuta, com a criação de uma ouvidoria específica de diversidade. Esse canal é externo e quem escuta são psicólogos. Temos vários pilares de atuação: uma área, uma comissão de diversidade, uma ouvidoria específica de diversidade. Tudo isso reforça o compromisso e a preocupação de que as pessoas devem se sentir inseridas e acolhidas, para que a gente consiga diluir as barreiras que foram criadas em função das desigualdades.
Entre os bolsistas do Insper, os alunos negros são atualmente 34%. Entre os bolsistas integrais, os alunos pretos e pardos representam 39% do total. Como você avalia esses números?
Os números apresentados são um reflexo positivo do progresso em direção à diversidade e inclusão no Insper. Mostram o compromisso da instituição com a representatividade, a diversidade e oportunidades iguais para estudantes de diferentes origens étnicas. Esses números indicam que já fizemos um avanço considerável, com ações concretas para promover a inclusão e a equidade na comunidade Insper. No entanto, precisamos avançar e seguir implementando políticas e programas para garantir um crescimento ainda maior nessa área. E aproveito para parabenizar Ana Carolina Velasco, gerente de relacionamento institucional, e toda sua equipe pela brilhante condução e dedicação frente ao Programa de Bolsas.