A produção de conhecimento do NERI gerou evidências empíricas para estudos, artigos e debates sobre a questão das desigualdades, que culminaram no livro “Números da Discriminação Racial”
Leandro Steiw
O ano de 2023 foi intenso para o Núcleo de Estudos Raciais do Insper (NERI) e culminou com o lançamento do livro Números da Discriminação Racial, pela editora Jandaíra. Um registro de toda a produção está no Relatório Anual publicado em janeiro e disponível neste link. “Fiquei feliz com os resultados do ano passado, que foram bem acima das minhas expectativas”, diz o economista Michael França, coordenador do núcleo. “O livro teve muita repercussão, tanto entre profissionais da academia quanto entre gestores públicos e pessoas ligadas aos movimentos. Gradativamente, estamos conversando mais com todo esse público e contribuindo para o debate das questões raciais.”
A produção de conhecimento do NERI fomentou os artigos publicados no Nexo Políticas Públicas e na Folha de S.Paulo. No primeiro, foram divulgados estudos e reflexões sobre desigualdades na educação, política antidrogas, violência policial e participação das mulheres no mercado de trabalho. Na coluna Políticas e Justiça da Folha, o núcleo convidou pessoas de diferentes áreas de atuação para debater a presença da política em todas as esferas da nossa vida.
Segundo França, a proposta é avançar em pesquisas que subsidiem o debate público no país, a partir da geração de dados e estudos empíricos sobre a evolução das desigualdades ao longo do tempo. Além das colunas na internet e no jornal, o NERI publicou artigos acadêmicos e reuniu especialistas em eventos como a série de debates “A Cor da Desigualdade”, realizado em setembro, no auditório do Insper. O próprio lançamento do livro Números da Discriminação Racial, no mês seguinte, lotou o mesmo auditório e foi, posteriormente, apresentado oficialmente em Brasília e no Rio de Janeiro.
O NERI tem se destacado pelas contribuições à investigação do setor educacional brasileiro. Em 2023, foram dois publicados dois relatórios de pesquisa: “Desigualdade Racial na Educação Básica” e “Desigualdade Racial no Exame Nacional do Ensino Médio (Enem)”. Resumidamente, os resultados apontam para o crescimento das médias dos alunos em Português e Matemática, mas com melhor aproveitamento de crianças e adolescentes brancos em relação aos colegas negros. Os dados mostram que os degraus e raça e gênero continuam profundos na educação, com reflexo nas oportunidades de ensino e trabalho desses jovens.
Não é de estranhar que a produção do NERI tenha repercutido na mídia, com a divulgação das pesquisas e o convite para entrevistas em jornais, programas de TV, portais de internet, podcasts e blogs, entre outros. “A ideia agora é tentar difundir um pouco mais esse conhecimento técnico do que seria uma boa diretriz na agenda racial para quem trabalha com políticas públicas”, afirma França. “Os dados de educação, por exemplo, surpreenderam alguns gestores públicos, porque indicam que o gap racial continua aumentando mesmo com todos os investimentos e políticas das últimas décadas.”
O primeiro projeto de difusão começa em março, com um minicurso relacionado à agenda racial mais empírica, sustentado pelas evidências apresentadas no livro Números da Discriminação Racial. Também em março serão realizados workshops em universidades e secretarias de Igualdade Racial em municípios do Nordeste. Nos próximos meses, o núcleo divulgará quatro relatórios e vários estudos que se tornarão work papers e policy briefs — documentos técnicos consultados por especialistas em políticas públicas.
Administrar toda essa programação foi um dos desafios do ano passado, na opinião de França. Diante de uma agenda tão pulverizada, o NERI está mais bem estruturado e organizado para 2024. “É curioso porque eu não pensava em estudar o tema racial na Economia, porque meu plano era outro”, diz França. “Mas percebi que os economistas não davam tanto espaço ao tema e que havia muita coisa empírica para fazer.”
França se espanta com a rapidez que o debate ganhou tração e proporcionou credibilidade ao NERI no cenário nacional. A preocupação é manter a estrutura de pesquisadores em funcionamento, por meio das parcerias e apoios atuais (Instituto Ibirapitanga, Fundação Lemann, Fundação Telefônica Vivo e Open Society) e de novos financiamentos. “A ideia é que o NERI gere ainda mais impacto nos próximos anos e se torne uma instituição que sobreviva no médio e longo prazo”, diz o coordenador. “Esse é um dos meus legados para sociedade brasileira e para o Insper.”