Realizar busca
test

A nova liderança do Centro de Gestão e Políticas Públicas do Insper

Marcelo Marchesini da Costa, novo coordenador executivo do CGPP, fala sobre sua trajetória profissional e sobre os desafios e as oportunidades nas novas funções

Marcelo Marchesini da Costa, novo coordenador executivo do CGPP, fala sobre sua trajetória profissional e sobre os desafios e as oportunidades nas novas funções

 

O Centro de Gestão e Políticas Públicas (CGPP) está sob nova direção. No dia 6 de fevereiro, o Comitê Executivo do Insper anunciou Marcelo Marchesini da Costa como novo coordenador executivo do CGPP em substituição a André Luiz Marques, que liderou o Centro desde o seu início, em 2017, e assumiu em agosto de 2023 a cadeira de diretor administrativo financeiro do Insper.

Marchesini é Ph.D em Administração Pública e Política pela University at Albany (State University of New York), mestre em Administração pela Universidade de Brasília e graduado em Administração Pública pela Escola de Administração de Empresas de São Paulo da Fundação Getulio Vargas (FGV-Eaesp).

Nas novas funções, o paulistano Marchesini, que é professor do Insper desde 2017, afirma que pretende se aproximar da comunidade de ex-alunos que o CGPP construiu ao longo dos últimos anos, composta por milhares de profissionais que passaram pelos diversos cursos. “Esses ex-alunos são ativos preciosos para o Insper, pela experiência acumulada de atuação no setor público e no terceiro setor. Acredito que essa comunidade pode nos fornecer insights valiosos para identificarmos os principais desafios nos quais devemos investir em termos de pesquisas e em novos cursos.”

Confira na entrevista a seguir:

 

Como se deu o seu envolvimento com a administração pública? É uma área que o atraiu desde cedo?

Eu tinha pouco conhecimento sobre o curso de administração pública, mas muito interesse por política. Eu queria cursar ciência política, mas, ao mesmo tempo, não sabia como seria um mercado profissional nessa área. Pensei em fazer direito, porque via muitas pessoas que atuam na área pública e que são formadas em direito. Mas acabei prestando o vestibular de administração pública por um motivo prosaico: o vestibular na FGV era antes da Fuvest e achei que seria um bom treino. Então, fiz o vestibular em administração pública na FGV e acabei sendo aprovado. Após passar no vestibular, busquei mais informações, me interessei e identifiquei a oportunidade de estudar com bolsas, o que se tornou um fator relevante no início da minha jornada.

 

Depois de iniciar o curso na FGV, você percebeu logo que era exatamente o que queria fazer?

Na verdade, foi uma jornada de persistência. Na época, o vestibular na FGV de administração pública e de administração de empresa era um só. Apenas um pequeno grupo tinha interesse pela administração pública, mas escolhiam esse curso para garantir uma vaga na FGV e não ter que prestar vestibular novamente no ano seguinte. No meu caso, eu realmente queria administração pública. Mas, devido à predominância de alunos interessados em administração de empresas, o currículo acabava pendendo para atender a esses estudantes.

Para mim, isso resultou em engajamento. Ao longo do curso, participei ativamente do movimento estudantil e das discussões acadêmicas, buscando enfatizar a importância do curso de administração pública. Com o tempo, e com a colaboração de muitas outras pessoas, conseguimos realizar uma reforma no currículo e nos processos da FGV, resultando no curso que é hoje, com estudantes que genuinamente desejam fazer administração pública.

 

Na faculdade, você já tinha em mente o que faria quando terminasse a graduação? Pensava em seguir uma carreira acadêmica, trabalhar no setor público ou tinha outros planos?

Na época, tínhamos poucas informações sobre as diversas opções profissionais disponíveis, e o campo de trabalho em administração pública era mais restrito. Minha expectativa era passar em um concurso público, ou conseguir ser nomeado para um cargo de livre provimento. No entanto, minha preferência era conquistar uma vaga por meio de concurso público, o que eventualmente aconteceu. O terceiro setor, que hoje é uma alternativa bastante atraente para quem deseja atuar em questões públicas, ainda estava em desenvolvimento na época. Embora já existissem, as oportunidades nessa área não eram tão claras. Então, meu real desejo era trabalhar no governo. Prestei concurso para técnico especializado no Ministério da Saúde e fui aprovado. Logo após me formar, mudei-me para Brasília para assumir o cargo. Depois acabei sendo aprovado em outros concursos, o que me propiciou trabalhar em diferentes áreas de políticas públicas.

 

Foi em Brasília que você decidiu fazer o mestrado?

Sim, enquanto estava lá, iniciei meu mestrado na Universidade de Brasília. No primeiro ano, permaneci no Ministério da Saúde. Posteriormente, migrei para o Ministério da Cultura, onde atuei como consultor de organismos internacionais. Trabalhei no Ministério da Cultura por cerca de dois anos antes de me dedicar integralmente ao mestrado.

 

E como surgiu a oportunidade de fazer o doutorado nos Estados Unidos?

Após minha experiência em Brasília e enquanto concluía o mestrado, me desvinculei do Ministério da Cultura para me dedicar exclusivamente a essa etapa acadêmica. Ao terminar o mestrado, busquei novamente oportunidades de emprego e, ao ser aprovado no concurso da Petrobras, me mudei para o Rio de Janeiro. Permaneci na Petrobras por quatro anos e atuei em diferentes áreas. Nessa época, ressurgiu o desejo de aprofundar meus estudos em administração pública. Decidi buscar uma experiência internacional, submeti aplicações para universidades americanas e acabei ingressando na Universidade de Albany, no estado de Nova York. Fiquei três anos lá. Consegui uma bolsa que cobria os custos do curso e proporcionava uma renda pela minha atuação como assistente de pesquisa.

 

Como foi essa experiência internacional?

Foi uma experiência muito rica. Em todas as etapas da minha formação, vivenciei momentos bastante positivos, e o doutorado nos Estados Unidos representou um desafio pessoal, com a necessidade de viver longe de minha rede de relacionamentos. No entanto, proporcionou um contato com uma produção acadêmica de excelência, oferecendo condições para a produção de conhecimento e formação em um padrão que, até então, eu desconhecia no Brasil.

 

Depois de concluir o doutorado, você retornou ao Brasil. Quando o Insper entrou em sua vida?

Foi exatamente nessa época. Como no período do mestrado, quando estava próximo da conclusão, comecei a buscar uma colocação profissional para evitar qualquer período de desemprego. A Universidade de Albany, de forma explícita, direcionava os doutorandos para atuar no mercado de trabalho das universidades americanas, já que isso contribui para a reputação da instituição. No entanto, como meu objeto de pesquisa sempre foi o Brasil e meus interesses estavam aqui, apesar de admirar as condições de trabalho e pesquisa nas universidades americanas, não me via continuando a pesquisa nos Estados Unidos. Decidi que precisava retornar ao Brasil. Ao voltar para o país, comecei a colaborar com o Insper em um projeto de pesquisa do Insper Metricis. Isso foi em 2016. Nessa época, por coincidência, o Insper havia decidido criar cursos na área de gestão e políticas públicas e buscava profissionais com conhecimento nesses campos. Como eu já estava envolvido em pesquisas no Insper, coloquei-me à disposição. Fui contratado como professor em 2017, para colaborar no desenvolvimento dos novos cursos.

 

Você é servidor concursado na prefeitura de São Paulo. Como se deu esse envolvimento com a gestão pública municipal?

Depois de concluir o doutorado, estava envolvido em pesquisas no Insper, mas inicialmente sem um vínculo formal. Nessa época, prestei um concurso para o cargo de analista de políticas públicas e gestão governamental na prefeitura de São Paulo. Passei no concurso, mas a prefeitura demorou a convocar todos os aprovados. Continuei a trabalhar no Insper, mas, anos depois, fui chamado pela prefeitura. Nesse momento, eu sentia falta de estar próximo do dia a dia do governo, presenciando o impacto das políticas públicas, que sempre foram meu foco de estudo. Decidi assumir o cargo na prefeitura, atuando na Secretaria de Projetos Estratégicos, que é vinculada à Secretaria de Governo. Ao mesmo tempo, eu não queria perder o vínculo com o Insper. Conversando com a coordenação da escola, concordamos em modificar meu vínculo para professor em tempo parcial. Assim, continuei ministrando aulas à noite e aos finais de semana nos últimos dois anos. Agora, com o convite para liderar o Centro de Gestão em Políticas Públicas, decidi me licenciar da prefeitura para assumir integralmente essa nova responsabilidade.

 

No novo cargo, quais são as suas expectativas?

Faz pouco tempo que assumi as novas funções e ainda há muitas conversas que desejo fazer para conhecer a fundo os desafios e oportunidades dessa nova função. O que posso dizer é que pretendo me aproximar da comunidade de ex-alunos que o CGPP construiu ao longo dos últimos anos, uma comunidade formada por milhares de profissionais que passaram pelos diversos cursos. Esses ex-alunos são ativos preciosos para o Insper, pela experiência acumulada de atuação no setor público e no terceiro setor. Acredito que essa comunidade pode nos fornecer insights valiosos para identificarmos os principais desafios nos quais devemos investir em termos de pesquisas e em novos cursos.

A cada ano há mais pessoas que se interessam por questões públicas, mas enfrentam dificuldades para entender como podem contribuir nesse campo. Considerando que temos processos eleitorais a cada dois anos, acredito que devemos estar próximos dessas pessoas nesses momentos. Precisamos oferecer caminhos e ferramentas para pessoas que desejam participar de eleições e contribuir para suas comunidades e para a sociedade em geral. Devemos oferecer instrumentos para que essas pessoas possam formular propostas baseadas em evidências, construídas de maneira consistente e com maior chance de viabilidade.

Em síntese, devemos fornecer esses instrumentos e nos aproximar dessas pessoas. Além disso, devemos auxiliar no processo de governança, oferecendo suporte com todo o conhecimento produzido pelo nosso grupo de professores, pesquisadores e ex-alunos, para alcançar um público ainda mais amplo.

 

Levando em conta sua vivência internacional, você diria que a gestão pública no Brasil tem características distintas das de outros países?

Vejo que há muitas realidades diversas no Brasil, e esse é um dos nossos grandes desafios: não focar apenas na gestão pública dos grandes centros, do governo federal e das metrópoles. Devemos ser uma referência e oferecer apoio aos governos municipais que enfrentam desafios específicos, como dificuldades de transporte na região norte do país. Esses lugares lidam com enormes desafios em gestão ambiental, saneamento, saúde e educação. É crucial estarmos disponíveis para enfrentar os desafios de todas as regiões, desde aquelas voltadas para a produção agropecuária, as que têm potencial significativo para o turismo, entre outros potenciais a serem trabalhados.

Cada região no Brasil apresenta realidades distintas, desde pequenas prefeituras com estruturas extremamente precárias até municípios altamente dependentes do governo, sendo este o grande empregador e motor da economia. Por outro lado, temos grandes centros urbanos, como São Paulo, Rio de Janeiro, Salvador e Recife, que possuem governos com experiências modernas e premiadas. Não só precisamos de recursos para aprimorar essas experiências, como também devemos ser capazes de documentar e analisar os fatores de sucesso, para que sejam replicadas em outras localidades.

 

Em sua opinião, quais competências são essenciais para um bom gestor público?

Lidar com a gestão pública é algo intrinsecamente complexo, envolvendo uma rede ampla de stakeholders, muito mais extensa do que na iniciativa privada. Nesse contexto, barreiras, dificuldades e oposições são inevitáveis. Portanto, é fundamental ter resiliência, assim como habilidades robustas de colaboração. Identificar possíveis parceiros e aliados e, ainda mais desafiador, convencê-los a colaborar, são aspectos cruciais.

Além disso, destaco a importância de uma formação sólida e contínua, bem como a constituição de equipes competentes — elementos fundamentais em qualquer tipo de gestão, seja pública ou privada. No entanto, na gestão pública, é vital compreender que as vitórias, para serem genuinamente benéficas, muitas vezes exigem colaboração, o que pode se sobrepor às conquistas individuais. Nesse sentido, é crucial ter humildade para compartilhar o mérito, reconhecendo a importância de parceiros e dando-lhes visibilidade, mesmo que isso signifique colocar seus próprios feitos em segundo plano. Em resumo, resiliência, colaboração e humildade são alguns dos elementos-chave para um bom gestor público.

 

Qual é a sua opinião sobre meritocracia na gestão pública, um princípio fundamental, mas frequentemente polêmico?

Eu considero que a meritocracia é um elemento crucial, mas deve ser ponderada em conjunto com outros princípios igualmente essenciais na gestão pública. Diversidade, por exemplo, é um desses elementos que podem enriquecer as políticas públicas e as soluções desenvolvidas por equipes. Governos que valorizam perspectivas diversas, oriundas de uma variedade de formações e perfis, geralmente concebem soluções mais sustentáveis, viáveis e que consideram uma gama mais ampla de fatores. Portanto, a meritocracia não deve ser colocada em segundo plano, mas combinada com outros fatores igualmente relevantes.

É claro que a meritocracia tem sua importância, especialmente em contextos específicos. Por exemplo, em pequenas prefeituras com estruturas limitadas e históricos de patrimonialismo, a implementação de medidas meritocráticas pode ser vital para estabelecer processos mais institucionalizados e preencher cargos de forma mais racional. No entanto, a abordagem necessária pode variar consideravelmente dependendo do contexto.

 

Apesar da diversidade de realidades no Brasil, poderia citar alguns dos principais desafios enfrentados pela gestão pública hoje?

Um desafio persistente que enfrentamos é a desigualdade. A estrutura de desigualdade em nosso país continua a crescer, mesmo após um breve período de redução. É importante notar que combater a desigualdade não deve ser um objetivo isolado. Como alguns especialistas alertam, empobrecer os mais ricos sem gerar ganhos para os mais pobres pode diminuir a desigualdade, mas piorar a situação para a sociedade como um todo. Portanto, é fundamental buscar ganhos significativos, tanto econômicos quanto em oportunidades, formação e acesso para os setores mais marginalizados e empobrecidos da população.

Outro desafio crucial é o ambiental. Estamos testemunhando um aprofundamento das crises ambientais, e o Brasil é impactado por tragédias que, mais uma vez, revelam como os setores mais pobres sofrem de forma desproporcional. Além de reagir a grandes tragédias, precisamos orientar gestores e a sociedade em direção a uma abordagem mais sustentável do desenvolvimento. Isso implica considerar a necessidade de preservar o meio ambiente, conciliando o desenvolvimento com a preservação e fazendo escolhas orientadas para as gerações futuras, em vez de focar apenas nos resultados imediatos.

 

Que conselhos daria a jovens que estão cogitando seguir uma carreira na gestão pública? Em sua avaliação, existem muitas oportunidades profissionais?

Certamente, eu vejo muitas oportunidades hoje em várias áreas da gestão pública. O mercado está se estruturando com a criação de processos de trainee na gestão pública, algo que não existia até um tempo atrás, e há governos que realizam processos seletivos públicos para preencher cargos de livre provimento e organizam concursos mais bem estruturados. O terceiro setor também está bastante desenvolvido, oferecendo oportunidades em diversas áreas, como políticas públicas, segurança pública, meio ambiente e educação. Existem inúmeras organizações dedicadas ao trabalho em educação e assistência social. Em resumo, há muitas oportunidades disponíveis.

Quanto a conselhos para quem pretende ingressar nessa área, recomendo que as pessoas não tenham receio de experimentar, inclusive mudando de área dentro do setor público. Pessoalmente, passei em três concursos públicos: antes de ingressar na prefeitura, fui aprovado via concurso e processo seletivo público no Ministério da Saúde e na Petrobras. Pedi demissão desses dois últimos quando senti a necessidade de buscar outras experiências. A ideia de que uma carreira pública é uma escolha para a vida toda, e que uma vez tomada essa decisão não há mais espaço para outras experiências, está totalmente ultrapassada. Existem diversas possibilidades, e as pessoas podem e devem ter a coragem de explorar essas oportunidades.


Se você cursou o PAGP, o MGP, o MPP ou cursos de curta duração em gestão e políticas públicas e tiver ideias ou demandas para o CGPP, entre em contato com o Centro pelo email politicaspublicas@insper.edu.br.

Este website usa Cookies

Saiba como o Insper trata os seus dados pessoais em nosso Aviso de Privacidade, disponível no Portal da Privacidade.

Aviso de Privacidade

Definições Cookies

Uso de Cookies

Saiba como o Insper trata os seus dados pessoais em nosso Aviso de Privacidade, disponível no Portal da Privacidade.

Aviso de Privacidade