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Carnaval para sempre – em cidades para todos

Festa popular brasileira é a que mais promove a ocupação dos espaços urbanos

Não Serve Mestre, tradicional bloco de rua fundado em 2015, na rua Henrique Schaumann, zona oeste de São Paulo

 

Gabriela Vasconcelos*

 

Carnaval é a festa popular que mais promove a ocupação dos espaços urbanos. Estamos nos aproximando da época do ano em que as ruas, praças, parques, pontes etc. das grandes cidades se tornam um autêntico mar de gente – com ondas que vão e vêm – ocupando cada centímetro vazio com fantasias, purpurina, confete, afeto, amor,  música, coreografias e, claro, sorrisos, muitos sorrisos.

O carnaval tem licença poética para livrar as pessoas de suas rotinas, das preocupações que invadem os seus sonhos (inclusive os da vigília), fazendo com que sejam cidadãs de fato, incluídas na geografia humana das urbes; que sejam elas mesmas, ainda que tragam uma máscara negra escondendo o seu rosto, para lembrar Zé Kéti; que não tenham medo do julgamento de suas fantasias (inclusive as inconscientes), do modo como dançam e, sobretudo, da violência urbana, de um assalto que lhes roube o prazer de estar no meio da multidão irmanada.

Carnaval é sinônimo de encontro – mas cidade também é. Então, imagine agora se toda aquela gente pudesse inundar os espaços urbanos com as mesmas ondas de alegria dos quatro dias de folia que o calendário nos reserva a cada ano. Imagine a vida de cada beco da cidade de repente exibindo totens marcando zero de temor e sensação íntima de menos mil tristezas apenas porque a vida houvesse passado a estar presente, como nunca, ali.

É preciso que a cidade deixe de ser dividida entre aquela que existe (ocupada por poucos) e a que se mantém invisível (habitada por muitos, tantos, a maioria). É preciso que possamos sentar num banco público às três da tarde de uma terça-feira com a mesma paz interior e exterior de um sábado de carnaval.

A segurança de coabitar os espaços contagia – como o espírito do carnaval. Não haverá carnaval de 365 dias enquanto todos – autoridades, sociedade civil, setor privado, terceiro setor, academia, comunidades – não cantarem a mesma marcha.  Isso é possível e também depende de nós.

Em uma crônica célebre, Carlos Drummond de Andrade escreveu: “E não parece absurdo imaginar que (…) o ano inteiro se converta em Natal”. O hit do Los Hermanos que me perdoe, mas os carnavais não precisam ter fim. Como o Natal vislumbrado por Drummond, eles podem durar para sempre.

 


*Coordenadora de Projetos do Laboratório Arq.Futuro de Cidades, é formada em Economia pela Universidade de Fortaleza (Unifor) e pós-graduada em Urbanismo Social pelo Insper.

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