Especialistas debateram caminhos para ampliar a representatividade feminina em carreiras de Ciência, Tecnologia, Engenharia e Matemática
Bruno Toranzo
Seis em cada dez meninas no Brasil dizem não conhecer nenhuma mulher que atue em profissões STEM (sigla em inglês para Ciência, Tecnologia, Engenharia e Matemática). Apenas 11% das lideranças globais de tecnologia são femininas, e esse índice por aqui não é muito diferente. O 1º Encontro Connect & Play, realizado pelo Insper no dia 28 de agosto, debateu caminhos para alterar esse cenário com base nas ações que têm sido realizadas pelo Women in Tech, programa criado em dezembro de 2021 e que tem como principal sponsor Tania Haddad Nobre, integrante do Conselho Deliberativo do Insper. “Essa iniciativa é extremamente valiosa, não só para o Insper como para toda a sociedade, e contar com parceiros entusiastas é essencial para o seu sucesso”, destacou Tania.
O Women in Tech, conforme explicou Graziela Tonin, professora do Insper, tem três objetivos principais. O primeiro está relacionado com atrair, reter e engajar meninas do Ensino Médio em cursos e carreiras STEM. O segundo é promover a visibilidade de mulheres que atuam em carreiras STEM, que são chamadas pelo programa de role models. E o terceiro é compartilhar experiências por meio da criação de conexões e redes de apoio e suporte para mais mulheres alcançarem posições de liderança em STEM. “Várias ações são necessárias para o sucesso desses objetivos, como o letramento da sociedade, já que estamos inseridos em uma cultura machista. Há vieses inconscientes que precisam ser combatidos. Tão importante quanto isso é conectar as meninas com as role models, que podem servir de exemplo, demonstrando a possibilidade de ascender e como viabilizaram isso, apesar de todas as dificuldades”, disse Graziela.
A docente apresentou os resultados do primeiro ano de Women in Tech, com mais de 500 mulheres impactadas diretamente, com a concessão de sete bolsas de pesquisa patrocinada, três bolsas de estudo para meninas do Ensino Médio e cinco bolsas de estudo para mulheres em formação executiva de C-Level, entre outras ações. Destaque, ainda, para o braço de pesquisa do Women in Tech que tem à frente Ana Diniz, professora e pesquisadora do Insper. Diniz participa da elaboração do estudo Panorama Mulheres, realizado pelo Talenses Group, da área de recrutamento, em parceria com o Insper. Esse levantamento, iniciado em 2017, tem o objetivo de mensurar a participação das mulheres nos cargos de liderança das empresas brasileiras. De acordo com o estudo, no ano passado, a fatia de mulheres CEOs subiu para 17%, quatro pontos percentuais acima da verificada em 2019. Quando a presidência é exercida por mulheres, a proporção de executivas em postos de decisão pode até quase triplicar — na comparação com empresas nas quais o posto máximo é ocupado por homens.
Além desse levantamento, começou a ser produzido, no início deste ano, o Mapa da Autonomia Econômica das Mulheres, que está conectado com processos de educação e preparação para o trabalho. “A autonomia econômica das mulheres é mais ampla do que a participação em postos de poder e decisão. O Mapa vai considerar aspectos de educação e movimento de entrada e saída da mulher do mercado de trabalho, além de como elas se mantêm nas organizações e chegam a postos de poder, entre outros elementos previstos. A ideia é primeiramente selecionar todos esses temas que compõem o mapa para depois entender cada um deles em profundidade com o auxílio da inteligência artificial”, disse Ana Diniz.
Renata Mello Feltrin, diretora-executiva para a América Latina da CI&T, destacou que a empresa de tecnologia em que trabalha tem uma agenda de estímulo à diversidade, com pouco mais de 30% de mulheres na força de trabalho e 24% na alta liderança. “Como somos signatários do Pacto Global da ONU [Organização das Nações Unidas], nosso compromisso é atingir 30% de mulheres até 2025 na alta liderança. O Brasil é um dos países com maior número de empresas signatárias desse pacto, mas, ainda assim, o contexto se mostra difícil para as mulheres, que dependem para ascender não apenas dos seus esforços pessoais, mas de uma movimentação de aliados”, afirmou. “No fundo, quem toma decisão são os homens e, por isso, o trabalho de trazer os homens como aliados é importante e faz parte dessa movimentação pela igualdade de gênero”, completou.
Maria Elisa Moreira, professora do Insper, completou dizendo que o mundo corporativo é uma arena política complexa. “Nesse contexto, por mais que a mulher esteja preparada, a tomada de decisão de quem tem a caneta para assinar, por exemplo, uma promoção, não olha para a executiva como deveria, considerando a possibilidade de ser uma líder estratégica”, observou. “Além de haver a necessidade de os executivos homens terem mais consciência, é importante que as políticas internas das empresas tenham clareza sobre como possibilitar que a carreira da jovem executiva seja plenamente satisfeita no ambiente de trabalho, com igualdade em relação aos homens.”
Em 2024, duas ações internacionais do Women in Tech estão confirmadas: palestra sobre diversidade em uma importante conferência europeia de negócio e software que ocorrerá em Frankfurt, na Alemanha, além de um dathathon em parceria com a Universidade Stanford, mais precisamente com a WiDS (Women in Data Science). “Será realizado em abril um desafio com o propósito de inserir meninas na área de banco de dados”, explicou Carolina Fouad Kamhawy, gerente de projetos do Hub de Inovação do Insper.
Além disso, segundo Carolina, o Women in Tech seguirá participando de eventos de inovação e diversidade como forma de fortalecer a divulgação do programa e buscar articulações com empresas e parceiros. Outras ações terão sequência no próximo ano, como visitas a escolas, levando palestras e workshops para motivar meninas a escolher as áreas de STEM; parcerias com programas executivos, patrocinando bolsas de cursos de C-Level para atrair mais mulheres para a liderança; e palestras e treinamentos sobre a presença de mulheres em STEM, como Inovativa Brasil; Inovativa de Impacto; Scrum Gathering Rio; Mulheres na Ciência Unicap; PodCast SOU; e PodCast Alura. “Ainda neste ano, em outubro, lançaremos um programa de mentoria individual para alunas e ex-alunas da graduação”, afirmou Carolina.
Assista à íntegra do evento aqui.