As dicas e os comentários são do cientista político e professor Lucas M. Novaes
O cientista político Lucas M. Novaes é professor do Insper desde 2018. Suas pesquisas estão voltadas para as áreas de ciência política comparada, economia política e representação democrática. Novaes é graduado em Economia pela Faculdade de Economia e Administração da Universidade de São Paulo, tem mestrado em Economia pela Fundação Getulio Vargas e é Ph.D. em Ciência Política pela Universidade da Califórnia em Berkeley, nos Estados Unidos. Antes de ingressar no Insper, foi research fellow do Institute for Advanced Study in Toulouse (IAST), na França.
O professor comenta, a seguir, três filmes e uma série que têm a ver com sua área de atuação profissional, mas podem interessar a qualquer pessoa. “Recomendo essas produções para reforçar que política não é só eleições e campanha eleitoral. Na verdade, a ciência política se preocupa com temas diversos que vão além do noticiário, como burocracia, desvios autoritários, imigração, mobilização de grupos de interesse e políticas públicas”, diz Novaes. “Minhas escolhas tentam refletir que a política influencia o cotidiano muito além de discussões na internet ou de dois em dois anos, quando temos que votar nas eleições.”
O primeiro grande sucesso de Spielberg é um filme de terror. Mas, dentro dele, tem uma mini-história que toca em diversos temas atuais da ciência política, ilustrando como eleições não são garantias de boas políticas públicas. No caso, o prefeito de Amity Island tem o azar de ser o governante durante o ataque do tubarão. Sabendo que vai ser julgado pela população se fechar as praias durante a temporada de turismo, o prefeito decide manter a praia aberta (pelo menos até um garotinho ser devorado). Aqui fica um bom exemplo da importância de servidores de carreira em uma democracia. Como não precisam se preocupar com votos, podem agir de acordo com sua especialidade e, no caso, teriam mais incentivos para fechar a praia.
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A melhor série de TV de todos os tempos tem seis temporadas, cada uma relaciona um tema com o problema do tráfico de drogas. A terceira é sobre como funciona a política de Baltimore e como políticos têm poucos incentivos para, de fato, combater o problema de tráfico. É OK, mas a quarta temporada, sobre como a baixa qualidade e a escassez de recursos para educação perpetuam o ciclo de pobreza e segregação, é melhor do que quase todos os trabalhos de Ciências Sociais já escritos. A segunda, sobre o lento declínio dos sindicatos, demonstra como o fim da representação organizada política de classes baixa e média é um presságio da morte da democracia e da perpetuação da desigualdade.
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O espectador incauto pode pensar que é somente um filme fascista sobre terráqueos do futuro lutando contra insetos. Tudo bem, o ator principal, Casper van Dien, também achou isso. Entretanto, o filme é o contrário. Ele apresenta uma pretensa utopia fascista que se sente ameaçada por uma raça que desconhece, e ao fazer isso satiriza elementos comuns a Estados autoritários como propaganda, militarismo e nacionalismo. Uma vez que o espectador entende que os não humanos são uma alegoria de como nacionalistas vislumbram quem é diferente deles, o propósito do filme fica mais claro. A Batalha de Argel (1966, Gillo Pontecorvo) também toca neste tema, mas 10 entre 10 vezes prefiro rever Tropas Estelares.
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Regimes autoritários espionam, perseguem e matam para controlar a vida dos indivíduos. Este filme consegue mostrar isso por meio das operações da Stasi, a polícia secreta da Alemanha Oriental. Mais do que isso, mostra como burocratas com os motivos mais mesquinhos e pequenos geram efeitos avassaladores na vida das pessoas. A falta de accountability e transparência premia o pior tipo de pessoa, e agentes do regime têm poder suficiente para usar as instituições do Estado para seu benefício, precisando somente justificar suas ações como sendo de interesse nacional.
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